Aliar saúde e praticidade no preparo do almoço é um sonho de muita gente. Um sonho que, na correria do dia a dia, parece quase impossível.
Afinal, a maioria dos alimentos que oferecem praticidade contêm aditivos, excesso de sal, gordura ou açúcar. Por outro lado, comida saudável ainda costuma ser vista como sinônimo de cozinhar do zero – o que, embora ótimo, demanda tempo.
A Mexidona nasceu com a ideia de ajudar a desenroscar esse nó. Com sede em Barra Velha, cidade de 45 mil habitantes no litoral de Santa Catarina, 130 km ao norte de Florianópolis, a empresa fabrica e vende sopas e risotos em pacotes – refeições desidratadas, práticas e saudáveis, sem adição de sal, açúcar, gordura ou conservantes.
À frente do negócio estão duas amigas de faculdade, a engenheira de alimentos Jéssica Schroeder e a engenheira mecânica Larissa Leal Martins. Segundo Jéssica:
“Apesar do Brasil ser rico em ingredientes, o tempo, o espaço e o investimento acabam sendo impedimento para a pessoa se alimentar de uma forma mais saudável. Ela acaba pedindo um delivery e, assim, prejudica a própria saúde no longo prazo”
A proposta é que, apenas adicionando água e sal às sopas, caldos ou risotos, o(a) consumidor(a) tenha uma refeição saudável e rica em nutrientes.
“A praticidade não está só no tempo curto de preparo, mas também porque a pessoa deixa de ter que comprar tantos ingredientes, descascar e picar tudo”, diz Jéssica.
As refeições empacotadas da Mexidona podem ser encontradas em algumas versões. Há sopas e risotos que demandam um tempo maior de cozimento (cerca de 20 minutos); outras são instantâneas, ficam prontas em 3 minutos.
A diferença está no processamento dos ingredientes, mas, segundo Jéssica, todas preservam os nutrientes e são pensadas para serem ricas nutricionalmente.
Sopa de frango defumado: um dos 27 pratos da Mexidona.
A sopa de cebola proteica, por exemplo, é composta por cebola desidratada em pó, cebola desidratada, batata desidratada e fibra de aveia, além de proteína isolada de ervilha. Já a Sopa da Nona leva lentilha rosa, painço, cebola, cenoura, tomate, alho, salsinha e cúrcuma. O risoto de cogumelo leva arroz arbóreo, cebola, cogumelo funghi secchi, shitake e alho.
Os cerca de 100 ingredientes usados no preparo são comprados já desidratados. Na fábrica é feita a preparação das receitas, o empacotamento e a distribuição. O processo de desidratação, explica Jéssica, varia de acordo com o ingrediente. Os fornecedores são escolhidos para garantir o melhor potencial do produto e, também, preços acessíveis
“Se queremos transformar a vida das pessoas através da alimentação, elas têm que gostar, ter facilidade de preparar e ter acesso. Se for um produto extremamente caro, ela vai comer de vez em quando – e isso não transforma. Se for um produto acessível e fácil de fazer, ela vai consumir com muito mais frequência”
O portfólio da Mexidona inclui 27 produtos. Os preços variam entre R$ 11,90 (caldos) e 55 reais (shots matinais).
A história da Mexidona começou em 2020, quando as amigas lançaram no mercado a marca de sopas veganas Bio Blend.
Jéssica observava, na loja de produtos naturais dos pais, a demanda dos clientes que buscavam mudar os hábitos alimentares. Na época, ela cursava engenharia de alimentos na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Passou então a produzir suas primeiras misturas (hoje consideradas os MVPs da Mexidona).
A jovem foi entendendo o que as pessoas buscavam, o que poderia ou não funcionar e convidou Larissa para se juntar ao projeto. Com experiência em processos industriais, a amiga topou o desafio e a primeira coisa que fizeram foi montar uma fábrica porque queriam garantir a qualidade do produto. Hoje, elas têm uma capacidade de produção de 1,5 tonelada por mês. Segundo Larissa:
“A maioria das marcas que surgem nesse mundo de wellness começam com o branding e terceirizam a produção. Fizemos um caminho um pouco diferente porque achávamos que, tendo a fábrica, teríamos um produto de qualidade e isso seria suficiente para vender. Nesses últimos quatro anos, estamos aprendendo que o marketing e o comercial são extremamente importantes”
Mesmo assim, elas não se arrependeram de montar a fábrica. Na visão das sócias, essa estrutura permite mais flexibilidade para eventuais mudanças de rota. Ou seja, a possibilidade de alterar o conceito e/ou a receita de um produto e/ou o portfólio em geral, em caso de necessidade.
Já com o negócio solidificado em lojas de produtos naturais, elas decidiram expandir para o varejo. Depois de participar de algumas acelerações, as duas perceberam que precisavam de um nome mais chamativo e alegre do que Bio Blend. E foi assim que a empresa foi rebatizada como Mexidona. Larissa explica:
“Quando a agência nos apresentou este nome, não gostamos. Foi preciso um tempo de análise e conversas para entendermos que fazia muito sentido e até conversava com o nome anterior. Porque Bio Blend vinha da mistura [em inglês, “blend”] e Mexidona traz a mistura também, mas uma mistura prática, fácil. Foi um momento bem delicado, mas hoje a gente não trocaria o nome”
Outra mudança implementada nesse processo de rebranding foi deixar de ser uma marca vegana. Em pesquisas com seu público, as sócias descobriram que 95% dos consumidores não eram veganos e, inclusive, adicionavam frango no preparo.
“A gente entende que para ser saudável não precisa ser vegano e o nosso principal objetivo é que a pessoa faça escolhas melhores”, diz Larissa.
O mercado global de alimentos saudáveis está aquecido: foi estimado em 653 bilhões de dólares em 2023, com uma projeção de crescimento anual de 10% de 2024 a 2030 (aqui no Brasil, especificamente, a estimativa era 56,75 bilhões de dólares em 2023, com uma expectativa de crescer 5,7% ao ano entre 2025 e 2035).
Mesmo assim, algumas questões atrapalham esse segmento em que a Mexidona está inserida. Uma delas é o que Jéssica chama de “falsos saudáveis”: alimentos que trazem na embalagem palavras como “natural”, mas são repletos de aditivos, conservantes e excesso de sal e açúcar. Outro empecilho é a confusão que se faz entre alimentação saudável e suplementação alimentar. Ela explica:
“Não queremos suplementar vitaminas, mas sim que as pessoas comam comida de verdade de um jeito prático. Nossos produtos têm uma composição completa com vários tipos de legumes, temperos, grãos, cereais, massa feita com farinha de banana verde. É uma refeição que não tem conservante, não tem aroma, não tem adição de sal, não tem adição de açúcar ou gordura”
Enquanto as vendas eram feitas apenas em lojas de produtos naturais e pelo e-commerce, as sócias não sentiam tanta dificuldade de explicar o produto. Com a entrada no varejo, elas perceberam que o marketing de conteúdo seria fundamental para educar o consumidor sobre o que é ser um alimento industrializado, prático e saudável ao mesmo tempo.
Hoje, a Mexidona já está nas principais redes de varejo de Santa Catarina e em lojas como St Marche, Oba e Natural da Terra, em São Paulo. A meta é expandir para grandes varejistas no sul e sudeste do país. Larissa fala sobre o desafio:
“Como marca, temos um trabalho bem árduo de explicar, porque o consumidor até entende que é saudável, mas não entende exatamente o que esperar de sabor, de preparo e de praticidade… São coisas que até então não se uniam. Tivemos que construir isso primeiro com o comprador de saudáveis e, agora, estamos na etapa de construir com o público do varejo”
Uma dificuldade com a qual elas lidam no dia a dia é onde posicionar os produtos Mexidona no mercado. No corredor de saudáveis? Próximo a outros produtos desidratados, porém não saudáveis?
“Percebemos que estamos criando uma categoria nova de refeições desidratadas saudáveis”, diz Larissa.
Jéssica e Larissa já investiram 100 mil reais de recursos próprios na Mexidona. Elas ainda não foram em busca de investidores, mas também não descartam essa possibilidade, desde que possam manter a qualidade das receitas. Larissa afirma:
“Precisa ser uma pessoa alinhada com o que acreditamos e que consiga contribuir de outras formas também. Tem que ser alguém que traga conhecimento de marketing, comercial. Não queremos que venha só com dinheiro, mas que ajude de outras formas”
Olhando em retrospecto, as empreendedoras acham que foi até bom não terem recebido investimento logo no início, porque isso ajudou a manter o negócio com os pés no chão.
“Se tivéssemos recebido investimento inicial, talvez tivéssemos torrado com coisas que não agregariam valor e nem validariam o produto”, diz Larissa. “Não foi um início glamuroso, mas tivemos tempo para nos posicionar. O dinheiro não acelera o tempo. E você precisa desse tempo para validar seu público e o seu produto.”
Alimentar-se bem desde cedo ajuda no desenvolvimento e previne doenças crônicas no futuro. Luciana Vicente e Paula Cunha empreendem a Jornada Mima, que produz e vende refeições congeladas com ingredientes naturais para bebês e crianças.
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