Cerca de cinco anos atrás, as patinetes elétricas de aluguel viraram uma febre, tomando da noite para o dia as ruas das grandes cidades do país.
De carona, porém, elas trouxeram uma série de problemas: acidentes, vandalismo, falta de infraestrutura e uso inadequado dos veículos, além de uma ausência de regras para esse tipo de transporte. Mesmo após uma regulamentação feita às pressas, empresas como Lime e Grow acabaram deixando o Brasil.
Assim, as patinetes motorizadas sumiram quase tão rápido quanto surgiram. Parecia o fim desse modelo de veículo por aqui… Mas agora, uma empresa de origem russa pretende reescrever essa história.
Com 300 mil patinetes rodando em mais de 60 países, a Whoosh começou a operar no Brasil cerca de um ano e meio atrás, em Florianópolis e Porto Alegre. Há uns seis meses, chegou ao Rio de Janeiro — e, em dezembro, a São Paulo.
O responsável pela empreitada no Brasil é o empreendedor e investidor Francisco Forbes, CEO da Whoosh.
Francisco, 35, já esteve à frente da Seed Digital, plataforma de monitoramento de dados sobre consumo. Hoje, é investidor na ARPAC, de serviços aéreos agrícolas por drone, e na Greenfield Hops Brazil, fazenda de lúpulo da qual é cofundador.
Na área de mobilidade, ele já vinha atuando como conselheiro na americana HyperloopTT, de soluções tecnológicas para o transporte de passageiros.
Em relação à Whoosh, ele mesmo admite que no começo tinha um pé atrás com a proposta de trazer as patinetes de volta ao país:
“Quando me deparei com a oportunidade de trazer de novo esse projeto para o Brasil, minha primeira reação… Não vou dizer que foi negativa, mas foi cuidadosa na análise, dado que a gente já teve essa operação aqui e ela não deu certo”
No entanto, diz ele, ao ver que a Whoosh vinha tendo sucesso na Europa, Francisco buscou entender o que a empresa — que já operava também no Chile, com patinetes e bicicletas — trazia de diferente.
Hoje, o CEO resume esse diferencial numa palavra: equipamento
A patinete em si, afirma Francisco, é mais resistente e pesada do que os modelos que circulavam antigamente no Brasil, chegando a quase 40 kg, com um pneu mais adequado para rodar nas vias urbanas.
Essas características, ajudariam a aumentar a durabilidade e também a reduzir o número de acidentes (que, segundo o CEO, está abaixo de 0,0035 por viagem.)
“Hoje a gente já tem um modelo bastante evoluído e testado em todas as cidades, que carrega milhões de aprendizados para que esse equipamento seja mais seguro para o usuário — e mais durável para a gente”
Patinetes mais pesadas significam menos agilidade e, consequentemente, menos diversão, certo? Exatamente. Francisco frisa: não é para ser divertido, e sim um equipamento de transporte. “Ela é lenta, acelera devagar, tem um freio na frente e atrás, como de bicicleta… Foi feito para ser segura.”
Outra mudança: se antes era possível largar sua patinete em qualquer lugar, a Whoosh trabalha com estações onde o veículo deve ser estacionado e a corrida, encerrada, como já ocorre com bicicletas compartilhadas no Brasil.
Esse modelo ajuda o usuário a localizar uma patinete e facilita o trabalho de manutenção pela equipe da Whoosh. “Prefiro que o cara chegue num lugar que tenha dez patinetes do que ele ficar pegando uma ou outra pelo caminho”, diz Francisco. “Fora que aumenta o controle e a eficiência.”
Para pegar uma patinete da Whoosh, é preciso baixar o aplicativo, se cadastrar e adicionar um meio de pagamento. O usuário digitaliza o QR code estampado no guidão, põe um pé na base e empurra para a frente, pressionando o acelerador, de forma a destravar o veículo.
O aplicativo informa regras de uso, como ter mais de 18 anos, dirigir apenas em ciclovias ou na calçada — neste caso, na mesma velocidade dos pedestres (o que sinceramente parece impraticável…) — e não transportar passageiros de carona.
As viagens têm seguro para cobrir possíveis transtornos. Além disso, Francisco afirma que o equipamento é 100% monitorado e controlável pela empresa. A todo momento, o time da Whoosh consegue rastrear a localização e a velocidade de cada patinete, e até desativá-las remotamente, se preciso.
“No Rio aos domingos, em que a orla é aberta, a gente reduz a velocidade máxima para 15 km/h na região. Se ele vem a 20 km/h, na hora em que passa essa cerca virtual, a patinete automaticamente diminui a velocidade. Então, é um meio de transporte em que garantimos que você esteja dentro da velocidade regulamentar”
Os usuários podem optar por pagar uma taxa de desbloqueio de 2 reais toda vez ou fazer uma assinatura de 5 reais por uma semana ou 15 reais ou mês, sem taxa.
Se pegar a patinete de forma avulsa, o usuário paga R$ 0,80 por minuto utilizado. Também é possível adquirir previamente pacotes em que o minuto rodado sai mais em conta, a partir de R$ 0,28.
A Whoosh começou a rodar em São Paulo no último dia 13 de dezembro. A data foi marcada um evento no Largo da Batata com a presença do prefeito Ricardo Nunes.
Em entrevista ao Draft, Francisco contou que o plano para a capital paulista era começar com um total de 1 500 veículos, seguido de um acréscimo de outros 2 mil, numa área inicial que passa pelo Largo da Batata, avenida Paulista e Rebouças, cobrindo um total de oito bairros.
Com a expansão do serviço, o passo seguinte será abarcar o Centro e partes das zonas Oeste, Norte e Sul. A ambição da Whoosh é oferecer um modal que seja complementar e integrado ao transporte público (incluindo pontos de retirada de patinetes junto a estações de ônibus e metrô):
“A gente está buscando integração com o bilhete único em São Paulo, com o cartão de transporte em Porto Alegre e no Rio. Queremos entrar não como um brinquedo, mas uma ferramenta de transporte”
Regularizar e credenciar o funcionamento das patinetes em São Paulo foi mais simples do que em outras cidades, diz Francisco, devido a avanços na regulamentação. “O processo é mais burocrático, mas é estruturado. Como teve muita discussão no passado, deixou como legado um processo de credenciamento padrão.”
Credenciada para operar na capital paulista desde julho, a Whoosh é a primeira dessa nova leva, mas não é a única empresa de patinetes aprovada para circular em São Paulo. Em outubro, a JET seguiu o mesmo caminho; agora, aguarda a liberação da CET e da Secretaria Municipal das Subprefeituras.
Francisco diz que a Whoosh já investiu mais de 70 milhões de reais na operação nacional (sendo 50 milhões só no mercado paulistano) e vem atuando sem aportes externos.
Um dos desafios do negócio, segundo ele, é a taxa de 85% de impostos na importação das patinetes. “No Chile, a taxa é zero, então o cara já começa com a operação mais leve.”
Apesar disso, e mesmo sem abrir o faturamento, Francisco afirma que a empresa já atingiu o break-even no Brasil. Antes mesmo de chegar a São Paulo, a Whoosh já registrava mais de 500 mil usuários no país.
Hoje, a Whoosh tem cerca de 200 funcionários divididos entre as quatro cidades onde opera — desde profissionais de manutenção e recarga a segurança e educação, atuando nas ruas e nos galpões.
“Minha equipe de rua se divide em um time que recarrega baterias e outro de monitoramento e segurança que verifica a condição das patinetes, também para a segurança dos usuários”
Os próximos passos incluem a expansão para outras metrópoles brasileiras. Francisco ainda não confirma quais; é preciso considerar questões como topografia, trânsito e infraestrutura de transporte. Além da meteorologia: “Se [é uma cidade onde] chove muito, a gente tira da prioridade.”
Até aqui, ele acredita que a Whoosh vem tendo sucesso na tarefa de reconstruir uma cultura de patinetes nas cidades.
“Existiu lá atrás um pouco de resistência, mas hoje é o contrário, a gente tem muita demanda. Recebemos diariamente várias mensagens de pessoas que, por exemplo, vão para o Rio e falam: quero trazer para minha cidade, como faz?”
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