Bruno Beauchamps é um desbravador do financiamento coletivo no Brasil. Como um bandeirante do século 21, expande fronteiras em busca de fórmulas inovadoras de investimento, sempre com foco em projetos culturais. A bandeira dele é o Sibite, uma ideia de 2009, aquele ano longínquo em que o crowdfunding deu os primeiros passos pelo mundo. A vontade era inovar e fugir do deserto do sistema de financiamento à cultura no país. Fazer o Brasil mudar o jeito de pensar e fazer arte.
O site entrou no ar em setembro de 2011 com uma pegada diferente: ser uma plataforma de crossfunding. Cruzar o investimento da multidão com o financiamento de empresas. Três anos depois, já tinha tirado cem projetos do papel, e quase 3 milhões de reais em recursos.
Na prática, o Sibite – nome inspirado num passarinho pequeno e persistente – funciona como uma agência de captação. Uma comissão da casa seleciona os projetos inscritos – se a ideia for boa, com orçamentos coerentes e contrapartidas criativas, o espaço no site é certo. Formalizada a parceria, o Sibite planeja a captação e faz a ponte com o setor privado.
Logo nos primeiros anos a startup captou “na raça”, como define Bruno, e ajudou a concluir documentários sobre o artista Hélio Oiticica e sobre o jornalista Tim Lopes, ambos premiados no Festival do Rio em 2012 e em 2013. Desde então, o Sibite já fez acontecer música de todos os gêneros, aplicativo de dicas de turismo, espaço para novos artistas, jogos online e até o carnaval do bloco Tarado Ni Você, que arrastou 20 mil pessoas na capital paulista este ano.
O caminho foi puxado, narra Bruno, 30 anos, filho de francês com paulista. O Sibite penou até encontrar a linguagem certa: hoje PHP, antes WP e .NET. Trocou programadores e gastou uma fortuna, diz o CEO, que agora aposta ter o “site mais rápido de crowdfunding do mundo”. “Mesmo com o site ruim, continuamos andando e melhorando aos poucos”, afirma. Aos céticos que percebem o financiamento coletivo como utopia, Bruno responde com idealismo:
“Comecei o Sibite por acreditar que é possível transformar o modo de se financiar a cultura no Brasil. Muitos diziam que eu estava maluco, que brasileiro não investe, muito menos em projeto cultural alheio. Hoje temos números para mostrar que estavam errados.”
Um ponto que ajudou a chamar a atenção para a plataforma foi o time de artistas que se engajou na empreitada. Atores como Mariana Ximenes, Marcelo Serrado e Sérgio Marone vestiram a camisa, enquanto profissionais como o ator Bruno Mazzeo, o cineasta Beto Brant e o artista plástico Carlos Vergara atuam como embaixadores, dando pitacos na curadoria de projetos promissores.
ALTERNATIVAS AO MODELO TRADICIONAL DO CROWDFUNDING
Foi também preciso buscar alternativas ao modelo “tudo ou nada” do crowdfunding tradicional. Na modalidade “flex”, o projetista pode retirar os investimentos ao atingir 51% da captação planejada. Mas deve assumir responsabilidade pela entrega das contrapartidas – e receber aval do Sibite para isso. Nesse caso, a taxa da plataforma é de 20%, contra 13% na captação convencional. Há ainda a possibilidade de prorrogação das campanhas por 30 dias, mas somente com autorização da maioria dos investidores.
Outra trilha interessante que Bruno abriu é o Cartão Cultura: empresas compram cotas anônimas de patrocínio e distribuem para o público-alvo escolher onde investir. A pessoa recebe um cartão padronizado, escolhe o projeto no Sibite, raspa uma senha e pode escolher quem apoiar. Por exemplo: uma firma compra uma cota de 100 mil reais, que é pulverizada em mil cartões de 100 reais, a serem distribuídos durante eventos e ações de marketing. A Band Rio e a grife Reserva são empresas que investiram nessa modalidade.
O Sibite entrou numa nova fase em 2015. Concretizou no final do ano passado um namoro de dois anos com a Outsource Brazil (OBr) e está em pleno processo de aceleração, modificando processos, remodelando o time e até o modelo de negócio. Ganhou um novo sócio e CTO (Chief Technology Officer): André Lins, que passou 20 anos em Nova York cuidando de plataformas de bancos como JP Morgan e Safra.
Uma das novidades é a abertura para campanhas pessoais: um casal em busca de apoio para uma viagem, pais de primeira viagem montando enxoval – um novo leque de planos e projetos passa a ter espaço na plataforma. A ideia também é ampliar a equipe comercial e a produção de conteúdo – está no forno a Agência Sibite, para reforçar as mensagens em vídeo e o contato com os meios de comunicação tradicionais.
A rotina de Bruno hoje é uma sucessão de reuniões: com projetistas, parceiros, sócios. Também envolve acessar o Sibite inúmeras vezes ao dia para acompanhar a arrecadação dos projetos, ajudar na ponte com o comercial das empresas, batalhar por recursos para as iniciativas. Na hora de buscar equilíbrio, pausas para leitura bem cedo e corridas pela cidade ao final do expediente.
BACKGROUND E HORIZONTE PARA 2015
Bruno vem de famílias ligadas ao audiovisual e à comunicação, e cresceu no meio do cinema. Aos 15 anos, foi estagiário no longa Madame Satã (2002), de Karim Aïnouz. Negociou obras para a distribuidora Lumière EBA, da família, e viveu na França dos 18 aos 19 anos, onde trabalhou no merchandising da distribuidora Bac Films. De volta ao Brasil, foi coordenador de produção e negociação de obras brasileiras da Investimage. “Minha vida começou muito dentro do cinema e é o que gosto e tenho paixão de fazer”, conta ele, que levou ao Sibite a facilidade com relacionamentos e o background em captação.
Essa cultura do fazer acontecer, típica do produtor de cinema, empurra o Sibite para um novo desafio, que é o “big picture” da empresa para 2015: introduzir no Brasil o equity crowdfunding, modelo em que o investidor recebe participação nos lucros do projeto que ajuda a financiar. É um caminho que oferece a possibilidade de iniciativas arrecadarem capital para crescer, oferecendo participação como contrapartida e sem precisar se embrenhar no cipoal dos empréstimos tradicionais, como Bruno conta:
“No equity crowdfunding, o investidor pulveriza o risco e o projetista consegue facilitar a captação, num investimento pela internet sem burocracia”
Esse modelo ainda é incipiente no mundo em razão da regulamentação do mercado de capitais. O Sibite desenvolve a ideia em parceria com a Federação do Comércio de São Paulo, e estuda quanto mato burocrático será preciso capinar para viabilizar essa modalidade de apoio. Engajados nessa ideia, como manda a receita do financiamento coletivo, esperam colocar o Sibite para voar ainda mais alto.