O Governo Federal lançou, na última semana de setembro, o programa Escolas Conectadas, que visa universalizar a conectividade nos estabelecimentos públicos do Ensino Básico até 2026.
Embora tardia, a iniciativa é necessária e muito bem-vinda, pois a inclusão digital dos estudantes de baixa renda é essencial para suas vidas, em particular, e para aumentar a competitividade do Brasil na economia globalizada.
Mas instalar internet nas escolas não basta…
Segundo a Aliança para uma Internet Acessível, movimento criado pela World Wide Web Foundation, são quatro as condições básicas para que a conectividade digital seja, de fato, transformadora de realidades.
São elas: acesso regular à rede mundial de computadores; utilização de um dispositivo apropriado para a conexão; pacotes de dados suficientes para a navegação desejada; e velocidade adequada
Considerando o anúncio governamental, o programa Escolas Conectadas atenderá a apenas uma dessas condições, ao propiciar, nas mais de 138 mil escolas do Ensino Básico público, conexão com velocidade de pelo menos 1 Mbps por aluno.
Não se sabe, por ora, como será o uso dessa conectividade em atividades pedagógicas, nem com qual frequência, ou quais dispositivos (computadores, telefones celulares ou tablets) serão usados para a experiência virtual e mesmo se o pacote de dados será suficiente para as demandas administrativas e pedagógicas das escolas.
A pesquisa TIC Educação 2022, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e também divulgada no fim de setembro, revela que há um longo caminho para que o sistema público de Ensino Básico supere essas fragilidades.
Atualmente, apenas 58% das escolas possuem computador e acesso à internet para uso dos alunos, sendo que esse índice cai para 30% em áreas rurais
Nas escolas estaduais, a internet cai ou para de funcionar “sempre” ou “quase sempre” em 38% delas, e “às vezes” em 44%. E 25% desses estabelecimentos têm alguma dificuldade para pagar pelo plano de dados.
Por fim, conforme revelado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura, ainda há 13 milhões de brasileiros residentes em áreas rurais sem qualquer cobertura de internet.
Na educação pública, além dos parâmetros básicos recomendados pela Aliança para uma Internet Acessível, adicionam-se muitos outros desafios para se atingir o que especialistas chamam de “conectividade significativa”.
Transformar um recurso tecnológico em uma ferramenta de ensino e aprendizagem — na escala necessária no Brasil — não é uma tarefa trivial.
Em primeiro lugar, professores têm de estar preparados para desenvolver e aplicar didáticas novas e adaptadas ao ambiente virtual
Ao mesmo tempo, ao lado dos tradicionais livros didáticos, terão de ser criadas e constantemente atualizadas plataformas digitais de conteúdos e trilhas de aprendizagem.
Por fim, os próprios estudantes têm de ser ensinados a lidar com as múltiplas possibilidades da web, que, em sua faceta menos bonita, expõe crianças e adolescentes a conteúdos e estímulos inadequados para sua idade.
Além disso, a web constitui um ambiente propício a assédios, golpes, ameaças e bullying. Segundo dados do CGI.br, no último ano cresceram 42% os relatos de estudantes envolvidos nesse tipo de situação
O setor educacional brasileiro necessita, portanto, de algo muito além da universalização de acesso à internet: um processo de transformação digital da comunidade escolar, que capacite profissionais e estudantes a aproveitarem o máximo da tecnologia em prol da evolução do ensino.
Sem isso, a conectividade, por si só, se torna estéril e até mesmo perigosa.
Ao avaliar o potencial de contribuição do programa Escolas Conectadas para a educação pública, também é importante considerar os estudos complementares nas residências dos estudantes.
A pesquisa TIC Educação 2022 revela que apenas 43% dos estudantes indígenas e 51% dos pretos têm internet e computador para estudar em casa.
E essa foi a parcela da população estudantil mais afetada pela pandemia de Covid-19, que, ao forçar o fechamento das escolas públicas por vários meses, gerou um déficit de aprendizagem em milhões de crianças e adolescentes, como demonstraram diversos estudos.
Por exemplo, uma pesquisa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) mostrou que o percentual de alunos com dificuldade para ler e escrever passou de 15,5%, em 2019, para 33,8%, em 2021
Para enfrentar esse cenário, o Congresso Nacional aprovou, em 2021, a distribuição de 3,5 bilhões de reais para que os estados forneçam internet móvel gratuita a até 22 milhões de estudantes de famílias inscritas no CadÚnico, o mesmo cadastro do Bolsa Família.
A intenção é que se criem condições para que os alunos mais carentes possam realizar atividades de reforço e nivelamento de conteúdo no contraturno das aulas presenciais. E, assim, recuperem a aprendizagem perdida durante o período de isolamento social.
Neste momento, o município de Belo Horizonte e os estados de Alagoas, Amazonas, Bahia, Goiás e Espírito Santo estão iniciando seus programas financiados pelos recursos do Fust com a adoção de funcionalidades fundamentais para a conectividade significativa — como controle de assiduidade, conteúdos digitais e trilhas de aprendizado. Além disso, adotaram uma nova tecnologia de filtro de acesso, inviolável, que evita a exposição dos estudantes a conteúdos inapropriados.
Para ter sucesso no seu objetivo de transformar a educação pública por meio da transformação digital, o programa Escolas Conectadas deveria olhar para o que está sendo feito nessas localidades.
Rivaldo Paiva é CEO da Base Mobile, startup de Pernambuco que desenvolve sistemas de conectividade para o setor educacional.
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