A história do Superplayer não é daquelas que começa de repente, de forma despretensiosa. Antes o contrário: parecia inevitável empreender, no caso de Gustavo Goldschmidt, 30, cofundador da startup pioneira no Brasil em curadoria musical e streaming, sediada em Porto Alegre. Depois da formatura em Engenharia Mecânica, juntou-se aos irmãos Fabio Goldschmidt e Cassio Goldschmidt, que já empreendiam em suas áreas (Direito e Engenharia de Software) e começaram a pesquisar modelos de negócio.
Ainda era 2010, pense nisso: o conceito de computação em nuvem estava surgindo e grandes empresas de tecnologia começavam a investir neste mercado, como a Microsoft com o seu drive e a Apple, Amazon e Dropbox, com os clouds. Com isso, o trio de jovens afim de criar um negócio resolveu olhar para essa tendência e, intuitivamente, tiveram a ideia de incluir a música no meio do que quer que saísse dali.
Gustavo começou a trabalhar em casa no projeto da startup, enquanto Cassio testava um protótipo do que seria o Superplayer lá no Vale do Silício. Somente no final de 2012, depois de validarem o modelo de negócios, eles montaram um time de fato e resolveram investir para valer. Nesta fase, isso significou desembolsar 15 mil reais no desenvolvimento da primeira versão da plataforma.
Meses depois, em abril de 2013, eles conseguiram desenvolver um produto final. “Quem começou a usar o Superplayer em 2013 pensa que tivemos um estouro imediato, mas tivemos muito tempo de trabalho antes disso acontecer”, conta Gustavo. A plataforma tem atualmente cerca de 700 mil usuários ativos por mês. Com três milhões de downloads de seu app, o Superplayer tornou-se um serviço de recomendação musical reconhecido no país, com playlists criadas por especialistas e organizadas por gêneros musicais.
COMO SOBREVIVER SE VOCÊ NÃO É O SPOTIFY NEM O DEEZER
Do Gospel ao Bolero, da Surf Music ao Rockabilly, do “Coolzinhando” ao “No trânsito”, hoje a plataforma tem mais de 300 playlists disponíveis. O modelo de negócios consiste em três maneiras de usufruir deste acervo: gratuitamente (com interrupções de publicidade), no plano “premium” (8,90 reais por mês, com direito a melhor qualidade de áudio e playslists exclusivas), e no plano “super premium” (16,90 reais por mês, com direito a ouvir offline quantas músicas quiser). “À primeira vista parece simples, mas estamos mexendo com emoções e queremos tornar esses momentos mais especiais, independentemente de serem felizes ou tristes”, diz Gustavo, sobre empreender com música.
Além das assinaturas dos planos especiais, o Superplayer sustenta sua operação também graças a investidores. Lá no começo, tiveram apoio da Startup Brasil, dentro do programa do Ministério de Ciência e Tecnologia. Logo depois, foram acelerados pela 21212. Na sequência, receberam investimento da Movile — que é hoje a empresa líder em aplicativos móveis na América Latina e continua parceira do Superplayer. O CEO fala dessa jornada:
“Aprendemos muito com nossos investidores, porque é mais do que a questão financeira. É sobre pessoas que realmente entendem do mercado”
Hoje as 20 pessoas que fazem parte do time da startup se distribuem entre equipes de tecnologia, produto, design, curadoria e administrativo-financeiro. Dos três sócios, apenas Gustavo fica na operação. O modelo de trabalho se baseia na metodologia ágil, onde o ciclo hipótese-desenvolvimento-aprendizado nunca para de girar.
Conforme Gustavo conta, os times são organizados semanalmente e têm autonomia para testar novas possibilidades, sempre: “Ninguém sabe o que vai dar certo e errado ou o que vai trazer resultados, então a ideia é ir testando dentro de um plano estratégico, com objetivos claros”.
YES, NÓS TEMOS TECNOLOGIA NACIONAL
Essa abertura à novidade foi responsável por uma grande virada de chave no Superplayer: o investimento em inteligência artificial para melhorar a experiência do usuário da plataforma. No começo do ano passado, a startup estava na primeira turma selecionada para participar do Launchpad Accelerator, o programa do Google no Vale do Silício que aplica 200 mil reais em empresas de países emergentes. Por lá, trabalharam no desenvolvimento de um chatbot (um robô que pode conversar com você e que está mudando completamente a relação entre empresas e consumidores).
No Superplayer, ele se chama Zak: é um robozinho que conversa com o usuário por meio do Messenger, no Facebook. O papo é, claro, sobre música. Cabe a Zak fazer perguntas que ajudem o Superplayer a oferecer a música certa para aquele momento do usuário. Gustavo fala a respeito:
“A ideia é que o Zak seja como um amigo, que consiga interpretar o que as pessoas querem ouvir”
A tecnologia usa inteligência artificial para fazer a recomendações, que são baseadas em dados de consumo do usuário, sensores do telefone (como GPS, acelerômetro, beacons), também no gosto musical da sua rede de relacionamento e, claro, no que o usuário efetivamente pede para ouvir.
Gustavo acredita que os chatbots vieram para revolucionar ainda mais a indústria da música e diz que são responsáveis, inclusive, pela criação de novas profissões — como a do “copywriter de robô”, ou seja, o sujeito que desenvolve uma linguagem específica para o chatbot, de acordo com a personalidade da marca que ele está representando.
Precursor no país e já citado entre os 10 melhores chatbots de música do mundo, a tecnologia agregada pelo Superplayer representa um case de inovação importante no país, que desafia o modelo de experiência do usuário em players como o Spotify. “Nos demos conta que as pessoas não têm mais paciência de ficar escolhendo o que ouvir, porque são muitas opções. Então, aliar o serviço de curadoria com a personalização de alguém que sabe o que você quer escutar é um super diferencial”, afirma Gustavo.
Para entender melhor o que um chatbot poderá fazer no futuro, vamos a um exemplo: hoje, se você vai correr no parque, escolhe uma playlist específica para aquele momento. A ideia é que, muito em breve, apenas através da conexão dos fones de ouvido no celular ou da mudança dos seus batimentos cardíacos, a inteligência do robô já entenda que você está correndo e conecte automaticamente o app de streaming com a música mais adequada para o seu momento.
Para Gustavo, os desafios pelo caminho são muito parecidos com os de outros empreendedores que já contaram suas histórias aqui no Draft: manter a calma nos (vários) momentos de incerteza, ter persistência para não desistir antes do tempo e, claro, hard working total. Além disso, saber lidar com os conflitos específicos da área na qual resolveu mergulhar.
QUAL É A PRÓXIMA?
O empreendedor conta que hoje a indústria fonográfica já percebe o serviço de streaming como uma solução positiva, mas diz que nem sempre foi assim. “O ramo da música sofreu uma disrupção forte com o boom dos downloads gratuitos e da pirataria, então todos tivemos que aprender juntos como se posicionar no mercado e encontrar modelos sustentáveis de negócio.”
A seu ver, finalmente gravadoras, artistas e tecnologias estão começando a convergir seus interesses em busca de serviços que entreguem o que os consumidores querem de verdade — o que mostra que mais uma mudança de paradigma pode estar a caminho. E vem para mudar a forma como consumimos música (e outros produtos) definitivamente. Música, maestro!
Criar um chatbot contra a prescrição indevida de antibióticos. Essa é a próxima missão da Munai, que aposta em inteligência artificial para ajudar hospitais a evitar erros médicos e reduzir o tempo (e o custo) de internação.
Os modelos de inteligência artificial serão cada vez mais especializados. Essa é a aposta da Maritaca AI, que desenvolveu um chatbot treinado para entender a nossa realidade, da legislação brasileira à prova do Enem.
O ChatGPT chacoalhou a web revelando o novo patamar da inteligência artificial. Agora, a brasileira EnablersDAO pegou carona nessa inovação e criou o zapGPT, uma solução para turbinar os chats automatizados via WhatsApp.