Uma graduação geralmente ensina competências técnicas básicas para que um profissional seja capaz de realizar um trabalho, mas não garante o desenvolvimento das habilidades necessárias para lidar com o mercado. Lucas Lima, 31, percebeu isso cedo.
Durante o Ensino Médio, ele se apaixonou pelo parkour, atividade física de origem francesa que começava a dar as caras em terras tupiniquins. Para seguir o “protocolo” de sua família, que exigia uma formação superior, Lucas começou a faculdade de marketing, mas fez do parkour a sua atividade profissional.
Em 2011, após um tempo dando aulas e participando de projetos de performance, ele fundou “a primeira escola de parkour do Brasil”, a Ponto B, em Curitiba.
“Tive a sorte de fazer o que eu amava desde o início da minha carreira, de sentir esse sentimento de viver o meu propósito”
Alguns anos depois, Lucas deixou a escola de parkour. Em busca de uma atividade na sua área de formação, fundou uma agência de marketing.
Ele percebeu que empreender lhe permitia desenvolver competências que ninguém ensina na faculdade: as soft skills, como automotivação, criatividade, comunicação empática e coragem para lidar com riscos.
Lucas observou também que, apesar de o mundo estar mais diverso, o mercado seguia buscando um único perfil profissional:
“Mesmo com meus privilégios como homem branco, hétero, cisgênero, eu precisava me colocar em muitas caixas. Aquilo me frustrou, mas também me deu energia.”
A partir dessa percepção, Lucas fechou a agência de marketing e fundou, em 2017, a Profissas, uma escola de diversidade e desenvolvimento de habilidades.
A estratégia inicial para alcançar o público foi criar e oferecer uma série de cursos online. Mas o sucesso não veio logo de cara:
“Nós tivemos vendas, nos sustentamos…, mas não conseguimos crescer como deveríamos, tanto pelo modelo de negócio quanto pela minha maturidade enquanto empreendedor na época”
Após três anos de trabalho, Lucas recebeu um convite para liderar a startup AAA Inovação, uma escola de inovação para altos executivos.
“Na época eu entendi que fazia muito sentido viver esse outro lado da moeda e aceitei”, lembra. Para manter a Profissas ativa, Lucas contou com o apoio do publicitário Victor Lambertucci, 29.
Lucas e Victor se conheceram em 2020 (por intermédio de Vivien Uhlmann, que já havia trabalhado na Profissas). Logo perceberam o interesse comum em ajudar outras pessoas a desenvolver habilidades com foco em diversidade e inclusão. Victor conta:
“Sou apaixonado por educação e diversidade. Por ser um homem gay e já ter contato com a comunidade LGBTQIA+, isso sempre foi muito caro pra mim”
Em outubro daquele ano, Victor se tornou diretor executivo e sócio da Profissas. Durante a reestruturação do negócio, eles decidiram mudar o foco do B2C para o B2B, passando a buscar parcerias com empresas.
“Foi um aprendizado que tive na AAA Inovação”, diz Lucas, que deixou a startup em 2021 para se focar na Profissas. “Tem mais dinheiro dentro de empresas preocupadas com o desenvolvimento humano.”
O pulo do gato veio com a oportunidade de fazer um evento em parceria com Ana Minuto, especialista em impulsionamento de pessoas negras.
Juntos, eles desenharam e realizaram o evento Potências Negras, que busca debater e impulsionar a presença de pessoas pretas e pardas no mercado de trabalho.
Foi um estrondo: logo na primeira edição, em março de 2021, o evento contou com a participação de quase 20 mil pessoas e o patrocínio de nove grandes empresas, como Netflix, Ifood, Ambev e outras.
A visibilidade alcançada com o Potências Negras abriu as portas para o contato com grandes empresas, o que ajudou a ampliar a estratégia B2B. Segundo Lucas:
“Hoje, quase 100% do que a gente faz em termos de conteúdo educativo é gratuito para a pessoa final. Quem paga são as empresas”
Outro fruto do evento foi o contato com Sônia Lesse, 36, que desde 2013 já vinha atuando como especialista em diversidade e inclusão. Sônia foi convidada para ser uma das provocadoras do Potências Negras e logo passou a ser chamada para outras entregas.
“Fomos nos aproximando até que eles me convidaram para fazer parte da Profissas”, diz Sônia. Desde agosto, ela é sócia e diretora de experiências da Profissas.
“A gente tem não só uma ótima conexão, mas a mesma visão de negócio e de que tipo de impacto queremos compartilhar com as pessoas e com a sociedade”, diz Sônia.
As atividades desenvolvidas pela Profissas são personalizadas de acordo com as necessidades de cada cliente.
Os Programas Corporativos têm dois pilares: desenvolvimento de talentos para impulsionar grupos sub-representados dentro da organização; e sensibilização e letramento em diversidade e inclusão.
Outro produto são os Eventos, que podem ocorrer em dois formatos: abertos (e gratuitos), com o apoio de patrocinadores interessados na formação de líderes; ou fechados, exclusivos para o time do cliente. Victor dá exemplos:
“Fizemos um evento com a Avon para atrair mulheres negras para cargos de liderança. O Grupo Boticário chamou a gente para fazer um evento 100% remoto só para pessoas negras. Também fizemos uma feira de talentos com a Google para conectar talentos diversos e agências parceiras”
Existem também os Treinamentos, formações objetivas que podem ser realizadas de forma pontual ou em pacotes. Alguns dos temas oferecidos são “Comunicação inclusiva e micro agressões”, “Diversidade é inovação” e “Carreira e protagonismo”.
Por fim, há o programa Conexão de Talentos, que conecta empresas que querem recrutar talentos e pessoas que já participaram de eventos realizados pela Profissas. Atualmente, são mais de 40 mil contatos.
Os preços variam. Treinamentos avulsos custam 12 mil reais. Programas corporativos personalizados podem chegar a 300 mil reais.
Os produtos são executados por uma equipe de 12 pessoas, com contratações extras apenas quando necessário. O valor acompanha variáveis como carga horária, número de turmas e custo dos profissionais que irão realizar as atividades.
Após os objetivos estarem bem definidos, a equipe define outros pontos, como o conteúdo, o cronograma de entrega e o mapeamento das pessoas que vão conduzir os encontros. Em seguida, acontece um kick off, momento de apresentação do programa aos participantes.
“É um encontro de boas vindas para que todos entendam o porquê do programa, qual a sua importância e como eles podem se conectar a ele”, explica Sônia.
Um dos exemplos trazidos por Sônia é o Mulheres Profissas, feito em parceria com a ArcelorMittal e com foco no desenvolvimento de lideranças femininas dentro da empresa.
“As mulheres aprenderam como ter um posicionamento mais assertivo, considerando os desafios de ser uma liderança feminina dentro de uma empresa no Brasil, onde a maioria das pessoas nessa posição são homens brancos”
Ao longo de cinco encontros, as mulheres debateram sobre como conduzir times, participar das decisões e integrar processos estratégicos. Para isso, foram trabalhadas habilidades de comunicação, liderança, oratória e negociação.
Ao final da experiência, foi traçado um plano de desenvolvimento com o tipo de liderança que querem exercer e como elas podem negociar isso na empresa para que de fato aconteça.
A Profissas encerra cada projeto com a entrega de um relatório resumindo a experiência vivida e recomendando sua continuidade, para que o processo de desenvolvimento de liderança das mulheres continue após o fim do programa.
Com a reestruturação do modelo de negócios e o novo foco no B2B, a empresa fechou 2021 com um faturamento de 2 milhões de reais – dez vezes mais do que no ano anterior.
Lucas diz que o próximo passo é desenvolver uma prateleira de produtos assíncronos (ou seja, que possam ser consumidos a qualquer momento) e fazer esses materiais chegarem às pequenas e médias empresas.
“Os cursos assíncronos vão entrar no próximo semestre. A gente imagina que somente com essa ampliação a gente consiga crescer cinco vezes em relação ao faturamento de 2021”
A Profissas também tem estudado o modelo B2B2C, em que as empresas investem em formações para a comunidade externa. Já existem propostas em aberto.
Para Lucas, a empresa hoje se destaca por entregar aquilo que se compromete – sem perder de vista que tecnologia é apenas um meio e que “a inovação é sempre sobre as pessoas”.
“Num mundo onde todo mundo está digitalizando as experiências, buscamos humanizar. Quando a gente consegue colocar 30 pessoas em uma sala, procurando o melhor contexto para que elas se sintam à vontade e aprendam, a gente inova muito mais do que sendo tech”
Um dos dilemas, segundo Sônia, é como conduzir esse processo sem romantismo, para que as pessoas entendam que os debates e as propostas sobre diversidade e inclusão devem ser feitos.
“Fazer as pessoas olharem para si e pensarem em mudanças que não as beneficiam diretamente é um grande desafio.”
Breno Oliveira perdeu o emprego de instrutor de Libras e decidiu empreender. Hoje está à frente da Il Sordo, rede de sorveterias (ou “gelaterias”) que contrata pessoas com deficiência auditiva e estimula os pedidos na linguagem de sinais.
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Allan e Símon Szacher empreendem juntos desde a adolescência. Criadores da Zupi, revista de arte e design, e do festival Pixel Show, os irmãos agora atendem as marcas com curadoria, branding, vídeos e podcasts através do estúdio Zupi Live.