Vamos supor que você esteja, há tempos, querendo montar uma startup. Você já rabiscou o projeto. Check. Pensou em diversos nomes que poderiam soar legal. Check. E, numa rápida pesquisa na lista de contatos do e-mail, descobriu dezenas de potenciais clientes. Mais um check. Agora, você se prepara para o passo – conforme descobrirá anos depois – mais delicado de todos: encontrar o primeiro sócio. A primeira pessoa – e talvez a única – que torcerá, tanto quanto você, para transformar esse sonho surreal em realidade. E aí, quem você escolheria para empreender ao seu lado?
Para te inspirar. Sofia Hernández e Martha Ribeiro são amigas desde os três anos de idade. Hoje, aos 27, compartilham a sociedade da MIMs (made.it.myself), uma startup que oferece aos clientes a possibilidade de criarem, online, sua própria bolsa.
Filha de brasileiros, Sofia nasceu em Palo Alto, Califórnia, em 1989. Seu pai, um executivo que sempre trabalhou na área financeira, havia conseguido bolsa para um MBA em Stanford. “Acabei nascendo lá”, conta. Dois anos mais tarde, a família retornou ao Brasil. Foi, então, que na escolinha de educação infantil de São Paulo ela conheceu Martha. O fato de ambas serem filhas únicas ajudou na aproximação. “Acho que criamos um laço mais próximo, como de irmãs mesmo. Desde pequenininhas, a gente sempre se protegeu”, diz Martha.
A amizade também aproximou as famílias. Os encontros só foram interrompidos no período em que o pai de Sofia recebeu uma proposta de trabalho em Buenos Aires. Dos sete aos 13 anos, Sofia morou na capital argentina. Lá, aos 9 anos, ela teve sua primeira experiência como empreendedora mirim: fazia bijuterias para vender numa praça da cidade: “Desde pequena eu queria ter algo meu, mesmo sem saber que isso se chamava empreender”.
De volta ao Brasil, com certidão estadunidense, sangue brasileiro e hábitos argentinos, a então adolescente lembra que a adaptação não foi nada fácil. “Eu estava acostumada a uma cultura completamente diferente. As pessoas eram muito diferentes”, conta. Ainda bem que existia a Martha. Elas estudavam em colégios diferentes, mas viviam grudadas. Exatamente como nos velhos tempos. “Quando a Sofia fez novos amigos no Brasil, passei a frequentar as festas da escola dela e ela as da minha. Éramos como irmãs, da mesma idade, que estudavam em escolas diferentes”, conta Martha. Durante a faculdade, a fórmula se repetiu. Sofia estudou Administração de Empresas na FGV. Martha, Desenho Industrial no Mackenzie.
FILHO DE PEIXE NEM SEMPRE PEIXINHO É
O primeiro estágio de Sofia foi no banco de investimentos Merril Lynch. “Sempre fui boa com números. Como a minha família sempre trabalhou em bancos, quando surgiu a oportunidade, resolvi tentar. Foi um desastre. Saí em seis meses e nunca mais quis trabalhar com nada parecido”, conta ela. Dizer não a ajudou a buscar outros caminhos, que a levariam a empreender.
Depois do banco, ela conseguiu um novo emprego, na Endeavor (uma ONG global com atuação em empreendedorismo de alto impacto).
“Era o emprego dos meus sonhos. Fiquei três anos lá e aprendi muita coisa, praticamente tudo o que sei sobre empreendedorismo. Daí, num belo dia, decidi que deveria abrir a minha própria empresa.”
A inspiração para o negócio surgiu, como muitas vezes quando se fala de startups, da vontade de resolver um problema ou frustração pessoal.
Já o empurrãozinho para seguir adiante veio da amiga (é claro) que, na época, trabalhava como designer em uma fábrica de móveis de alto padrão.
“Eu nunca conseguia encontrar uma bolsa exatamente do jeito que queria. Quando o modelo me agradava, eu não gostava da cor, do tamanho da alça, do tipo de fecho…”
Ela nunca ficava cem por cento satisfeita. Comentou, é claro, com a amiga Martha, que também se identificou, pois vivia com o problema. Era o começo da parceria profissional: “Resolvemos pensar juntas numa solução.”
UMA IDEIA SIMPLES, EXECUTADA COM CAUTELA
Como produzir a bolsa dos sonhos com qualidade e preço justo? Depois de algumas reuniões, elas concluíram que o conceito da marca deveria ter como base a customização dos produtos. “Decidimos investir em uma plataforma na qual o cliente pudesse vivenciar uma experiência única, podendo criar a sua própria bolsa e ver o resultado em tempo real”, afirma Sofia.
Na época, as duas tinham apenas 24 anos e cerca de 35 mil reais, de economias próprias, para iniciar a empresa. Era importante agir com cautela. A primeira medida foi desenvolver uma espécie de hot site, bem simples, que só explicava a mecânica do negócio e solicitava o e-mail das pessoas que queriam receber mais informações. “Das visitas que tínhamos, 40% das pessoas colocavam o e-mail. Era um bom número”, diz Martha.
O próximo passo: testar na prática a adesão desses clientes. Como ainda não existia uma plataforma funcional para expor e vender as bolsas, elas resolveram montar um bazar no prédio da Martha. Deu certo.
“As pessoas que foram até o meu prédio puderam vivenciar exatamente a experiência de customização que queríamos implementar no site. Ou seja, a experiência de escolher na hora o modelo e poder estilizá-lo. Em dois dias, vendemos 40 bolsas. Então, ficamos animadas e, a partir daí, começamos a desenvolver de fato o site”, conta a designer.
Atualmente, ao entrar na plataforma, o cliente se depara com uma infinidade de opções. São 12 modelos de bolsas com couro 100% legítimo que podem ser customizados de milhares formas – variando cor, alça, fecho e assinatura (sim, você pode batizar a sua própria obra). O site também comercializa algumas bijuterias exclusivas.
Enquanto Sofia fica responsável pelo planejamento estratégico e financeiro da empresa, Martha cuida da produção das coleções e da negociação com os fornecedores. Além das duas, a startup possui mais uma funcionária, que ajuda no relacionamento com clientes. Há, também, agora, um grupo de investidores: a Triple Seven.
O QUE SEGURA A AMIZADE DÁ FORÇA AO NEGÓCIO
Uma das grandes conquistas, segundo a administradora de empresas, é a taxa de satisfação e retorno dos compradores. “Tem um homem que já comprou sete bolsas para a esposa só neste ano”, diz Sofia. Para elas, o segredo dessa adesão é, basicamente, levar para a empresa algo que as duas sócias já fazem há mais de 20 anos. Martha diz:
“Tudo é uma questão de confiança. Tentamos, ao máximo, manter uma relação próxima, transparente e engajada com quem compra no site”
Sofia complementa: “Queremos que elas se sintam um pouco donas do negócio também sugerindo novos produtos ou simplesmente nos dando feedback de como melhorar o serviço”.
Em 2015, a empresa chegou à marca de 1 000 bolsas vendidas e faturou 300 mil reais. Atualmente, o site recebe mais de 60 mil visitas únicas por mês e as duas empreendedoras têm como meta dobrar o faturamento este ano. Além de bolsas, a marca também oferece mochilas e carteiras. Um traço comum é o descompromisso com a sisudez e as regras muito exigentes da moda. Sofia fala:
“Nosso sonho é bem maior do que só ganhar dinheiro. Queremos um mundo onde as mulheres possam se vestir de forma única, como realmente são”
Para 2017, o planejamento das duas visa atuar em novos mercados. “Queremos vender para outros países. Temos recebido bastante demanda de pessoas ao redor do mundo”, afirma Sofia, que adora viajar. “Ultimamente tem sido difícil arrumar tempo, mas pretendo conhecer o Egito, Japão e Fernando de Noronha.” Ela também é fã de bungee jump.
Para os próximos 10 anos, ela espera menos emoção e mais realizações, profissionais e pessoais. “Quero construir uma grande empresa, que empregue muitas pessoas e traga algo novo para o mundo. Também sonho em casar e ter três filhos. Síndrome da filha única. Mas, se nada disso acontecer, sei que terei a minha melhor amiga ao meu lado”, diz. E uma bolsa customizada na mão.
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