Aos 13 anos, fuçando online, Tiago Baeta começou a organizar alguns serviços gratuitos disponíveis na rede. Era 1997, a internet estava na idade do bronze e quase brincando o rapaz criou o Serviços Grátis. Eram umas cinquenta e poucas categorias: serviços de email, servidores, prêmios, cursos, entre outros. Baeta trabalhou, abriu mão de carnaval aos 16 para dar conta da demanda e do crescimento. Deu certo, alguns anos depois a iniciativa lhe rendeu sua primeira bolinha-troféu do prêmio iBest, o maior da internet brasileira.
Mas vamos ao iMasters, que é a grande realização profissional, até aqui, deste mineiro de 31 anos. A empresa começa com uma ideia que naufragou. No ano 2000, logo após a bolha da internet estourar, proliferavam serviços que davam acesso gratuito em troca de publicidade. Baeta tinha 17 e bolou com alguns sócios o iGrátis. Daria super certo, imagine: um portal com vários canais de conteúdo que também prestaria serviços de acesso gratuito à rede. Porém, alguns meses depois surgiu o iG, portal que ocupou o espaço do iGrátis e foi disputar uma briga de gente grande com UOL e Terra. O projeto do jovem Tiago e de seus sócios se dividiu após receber uma notificação do iG de que (não apenas a ideia era a mesma) aquele nome já estava registrado – mas seria sua grande sorte.
O iMasters era, àquela altura, apenas o canal de tecnologia do iGrátis. Baeta resolveu focar nele e começou a desenvolver um portal para a comunidade de TI, centralizando e organizando conteúdo de vários outros sites de tecnologia. Bombou, encontrou um nicho ávido por conteúdo e atuante na web: os desenvolvedores. Em três meses, a operação com o novo portal já dava lucro, oferecendo espaço para patrocinadores.
Ao longo do primeiro ano, no entanto, dissolveu-se o arranjo inicial de colaboradores, alguns sites foram descontinuados e os interesses se transformaram. Mas o iMasters já estava correndo e não poderia deixar seus leitores no meio do caminho. Então, o portal começou — e nunca mais pararia — a produzir conteúdo próprio. Este caminho construiu uma sólida base teórica para empresa, que hoje acumula 13 mil artigos publicados e mais de 2 milhões de posts em seu fórum, tudo devidamente aberto e gratuito.
DEPOIS DO PRIMEIRO TOMBO, O NOVO NEGÓCIO COMEÇA A DAR FRUTOS
A alta demanda pelo conteúdo publicado levou o iMasters a lançar, ainda na primeira metade da década de 00, uma série de cursos digitais voltados para desenvolvedores. Baeta lembra sem muitas saudades da pilha de CDs e DVDs que queimou para vender junto com revistas, oferecendo aulas em linguagens de programação como PHP e ASP, além de ferramentas como Photoshop, Dreamweaver e outras. Os cursos continuam até hoje e, felizmente, não é mais necessário vender CDs em banca de jornal – tudo acontece no digital. Mais um movimento de fomento à profissionalização do setor. Hoje já são mais de 30 mil alunos formados.
O acúmulo conceitual no ambiente virtual cresceu junto com a empresa e tornou inevitável o encontro presencial da comunidade que ali se formava. O primeiro evento, o iMasters InterCon, aconteceu em 2003 e deu muito certo, nunca se havia proposto algo assim para os desenvolvedores brasileiros. Nos anos seguintes o iMasters lançou uma série de outros congressos técnicos em diversas cidades do país.
O InterCon amadureceu e foi responsável por inovações no mercado, tais como ser o primeiro evento a ter wi-fi liberado, ou ter sido responsável pelo boom do Twitter no Brasil (eles convidaram todos os presentes a criarem contas e a participarem da cobertura ao vivo, isso num momento em que a ferramenta não era conhecida). Seguro em sua proposta inovadora, o InterCon se permite experiências: foi o primeiro evento a ter duas palestras simultâneas, no mesmo auditório, onde os participantes podiam escolher qual dos temas escutar. E dá-lhe multitasking. Sua décima edição aconteceu de madrugada, discutindo temas proibidões da web como segurança e pornografia.
Em 2007 a empresa lançaria sua revista impressa, que segue viva e bem até hoje. A publicação é produzida pela Zupi, tem formato de colecionador e um conteúdo atemporal. “Não é aquela revista que a pessoa lê e joga fora. Nós trabalhamos muito nessa questão”, conta Tiago.
TUDO VAI BEM, MAS PODE MUDAR… E MUDA
As coisas caminharam bem no tripé online-impresso-eventos até o ano de 2010, que chegaria com uma ideia nova. Vários dos patrocinadores do iMasters eram do ramo do comércio eletrônico e Baeta viu oportunidade aí. Prepararam com carinho o 1º Fórum E-Commerce Brasil e foram dar a cara a tapa para vender a ideia a um público novo. Vingou. No ano seguinte, foi possível estrear o portal E-Commerce Brasil, aplicando o mesmo modelo do iMasters no novo setor. A proposta madura impactou o mercado, propondo novamente a criação e fomento de uma comunidade ao redor de um tema de interesse comum. Mais sucesso.
Então ocorre uma reviravolta interessante. Baeta testou um novo modelo de financiamento no E-Commerce Brasil, substituindo o patrocinador pelo mantenedor. A proposta era aproximar atores importantes do setor do comércio eletrônico, parceiros que fazem parte do mesmo mercado e querem ver sua prosperidade, por isso são mantenedores, como Tiago diz:
“A figura do mantenedor foi muito bem recebida. Hoje, em algumas horas de vendas fechamos o ano inteiro de operação. Desta forma, focamos no projeto e 100% do trabalho é para a execução”
Esta tranquilidade de planejamento permite um foco maior na qualidade do conteúdo e na realização de eventos de fomento, quase sempre gratuitos. “Daí vamos fazer a Conferência E-Commerce Brasil de Curitiba, chamamos 200 varejistas e lá vai ter café da manhã, almoço, um convidado, o dia inteiro ali, tudo de graça. Isso é permitido pelo modelo de mantenedores, que também tem interesse em ver, por exemplo, o mercado de Curitiba crescer. Abraçamos mesmo a causa deles”, conta ele.
Cerca de 80% dos 100 eventos anuais realizados pelas duas empresas são gratuitos, o que é possível graças ao modelo de mantenedores. Esta é uma das abordagens que demonstra como iMasters e E-Commerce se parecem mais com programas de fomento setorial do que com empresas jornalísticas. É verdade que ambas constroem seu lastro de credibilidade na produção de conteúdo, mas também é certo que vão bem além do que o jornalismo tradicional costuma ir. Tiago detalha a estrutura:
“Partimos do conteúdo para vender inteligência, suporte e rede. Por exemplo, pegar dez desenvolvedores top de linha de Android ou de Magento e levar para tomar café da manhã com o diretor do MoiP, ou do BuscaPé. Tudo estratégico, só para ver o encontro acontecer. É claro que todos adoram. Faz um bem danado pra comunidade esse tipo de cuidado”
Baeta tem a fala mansa de mineiro, ouve bem, usa as mãos para se expressar e não exagera. É uma boa hora para ouvir o moço falando: “Tá bom, agora eu vou te explicar a diferença entre as duas áreas, TI e comércio eletrônico. No iMaster estamos falando com técnicos, desenvolvedores, o evento está marcado para as 08h, 07h40 ainda não chegou ninguém, 07h50 em ponto chega todo mundo. O pessoal entra no auditório e começa a sentar na primeira fileira, em ordem, e vem completando até o final. Assim que acaba o evento eles ficam por ali mais alguns minutos e vão embora”, diz, e prossegue: “No E-Commerce Brasil falamos com diretores de vendas, executivos. Aqui é business. O evento está marcado para as 08h, deu 08h30 está todo mundo nos stands de venda, conversando, fazendo negócios. Quase temos que implorar para irem para a palestra da vez, que provavelmente está vazia. Aqui é business, lá é técnico. Aqui é suquinho, lá é cerveja”.
A proposta de fomento setorial frutificou. Hoje, o grupo iMasters cresceu já engloba cinco outras empresas: E-Commerce Brasil, Apiki (especializada em WordPress), MXCursos (cursos online), Putz Filmes (produtora de filmes) e Digitalks. Essa última é uma grande aposta para os próximos anos. A empresa vai reproduzir no mundo do marketing digital o que iMasters e E-Commerce Brasil fizeram pela TI e pelo comércio eletrônico. Anote aí o nome: Digitalks. Vamos conversar em 2016 a respeito.
Mesmo com o crescimento do grupo, Baeta não se posiciona como sócio das novas empresas. Tem participação acionária nelas, sim, mas constrói uma relação de cliente. “Aprendi novo, primeiro com 15 e outra vez com 17 anos, que ter sócios é delicado. Depois fui ler o comandante Rolim, da TAM, escrever que “ter sócio é ter patrão”. Esse cara sabia das coisas”, afirma. Segue com a palavra, alegando que não gosta do senso comum, inclusive no que ele considera uma visão inflada do empreendedorismo, e diz:
“Por que hoje o empreendedor é mais bonito do que os outros? Tem gente largando emprego, largando família, se endividando para empreender, mas quem falou que aquilo é bom pra todo mundo? Para um monte de gente não é bom não”
Outro exemplo de como ele não se força a seguir o que faz a maioria: Tiago nunca conseguiu definir uma missão para suas empresas. Não quer rotular e se prender a um caminho afastado do dia a dia. “O foco das empresas é fomentar o varejo, fomentar o programador, abrir possibilidades para esses profissionais. Meu foco é ser feliz. Quando eu era moleque, queria guardar para um futuro tranquilo. Hoje eu já consegui isso, agora o foco é ter prazer aos poucos, trabalhar muito para não precisar trabalhar sempre”, diz.
Baeta conclui o papo com um desafio para si mesmo: “Hoje, o que me incomoda é educação. Precisamos olhar seriamente, para ontem. E me incomoda muito ser crítico a respeito e não ter o que propor para a área. Vamos ver como esse incômodo amadurece por aqui”. Vem coisa.
A Beth Bakery, de Beth Viveiros, é uma micropadaria que entrega pães e bolos na casa do cliente uma vez por semana. Com muito planejamento e força no marketing digital, dá lucro desde o primeiro mês.