Nasci e fui criado em uma propriedade rural em Barão de Cotegipe, no interior do Rio Grande do Sul, onde minha jornada pela educação começou em uma escola muito simples.
Lembro-me com carinho da professora Geni, que ensinava todas as turmas, da primeira à quinta séries, numa única sala. Ela guiou meus primeiros passos na educação, alfabetizando não só a mim, como outros 30 alunos que dividiam o mesmo espaço.
O que diferenciava cada criança era apenas a fileira onde estava. Você passava de ano e apenas mudava de lugar, ia para outra fila. Mas eu já sabia, ali, que, apesar das dificuldades, a educação era o meu caminho para um futuro melhor
Após esses primeiros anos, fui para uma escola pública para concluir o Ensino Fundamental e Médio e, mais tarde, para a Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), ainda em Erechim.
Na universidade, esforcei-me ao máximo, colocando toda a minha força de vontade nas atividades acadêmicas – e lembrando, sempre, do incentivo de meus pais.
Fiquei em primeiro lugar no curso de Ciências Contábeis, em uma turma de 70 alunos, motivado pela premiação da universidade, que era a indicação do melhor aluno para uma bolsa de mestrado.
No mesmo ano em que concluí a graduação, fui selecionado, então, para o mestrado em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Tanto na graduação quanto no mestrado, sempre tive que estudar muito mais do que os colegas, a fim de nivelar a distância de conhecimento que, naturalmente, havia, já que grande parte deles tinha estudado nos melhores colégios e universidades
No ano seguinte à diplomação de mestre, fui selecionado para o doutorado da UFRGS. Naquele momento, queria ter uma experiência de estudos nos Estados Unidos e planejava realizar parte do doutorado lá.
No entanto, lembro do dia em que recebi uma ligação de Paris, da professora Lilia Maria Vargas, minha orientadora, perguntando se eu queria fazer um aprofundamento do doutorado na França…
Ela disse que havia encontrado um professor que tinha se interessado pela minha tese, que tratava da dinâmica da complementaridade de conhecimentos no contexto das redes interorganizacionais.
Confesso que tive um misto de alegria e medo… Alegria por realizar o sonho de estudar no exterior e medo porque não conhecia absolutamente nada do idioma. Em um ano, eu deveria estar proficiente em francês – condição absolutamente necessária para conseguir a bolsa do governo brasileiro para estudar na França
Lembro que não hesitei e respondi, imediatamente, que eu aceitava, que ela poderia confirmar que eu estaria lá.
Assim, em setembro de 2002, comecei os estudos em Paris, o que me garantiu uma dupla titulação de doutorado: em Administração, no Brasil, pela UFRGS, e em Ciências da Informação e da Comunicação, pelo Instituto de Comunicação e Tecnologias Digitais da Universidade de Poitiers, na França.
Essa conquista foi possível graças a um regime internacional de cotutela, um acordo bilateral entre as instituições.
Ao mesmo tempo em que assumi esse risco gigante, principalmente pela garantia breve de falar uma outra língua fluentemente, foi a decisão mais acertada da minha vida: aquele jovem do interior estava a caminho de Paris para se tornar doutor!
Foram 18 meses consecutivos na França, de junho de 2001 a dezembro de 2002, como parte do doutorado.
Após esse período, fiz visitas anuais a Paris, para finalizar a tese. Em 2005, mais um desafio superado e o sonho tornou-se realidade: obtive o título de doutor. Toda a dedicação aos estudos estava, enfim, materializada nesta aguardada conquista.
Em seguida, embarquei em mais um grande projeto, iniciando uma trajetória como professor associado ao programa de formação de executivos no Instituto de Administração de Empresas da mesma universidade, a de Poitiers. Por lá, atuei durante 15 anos consecutivos
Em solo europeu, quando lecionei para um MBA internacional, lembro, até hoje, de entrar na sala de aula, no 20º andar de um prédio muito sofisticado, no bairro de La Défense, em uma região nova e moderna, com mais de 30 alunos de diversos lugares do mundo.
Eu ministrava a aula tendo uma vista de 360 graus de Paris; não havia um minuto em que não passasse um filme em minha cabeça, desta jornada iniciada em uma infância humilde até aquele momento.
Essa grandiosa experiência me mostrou a força da educação e como ela pode abrir portas inimagináveis. Eu não era nenhum gênio, apenas enxergava cada chance e tomava para mim como um desafio possível, um caminho a ser trilhado
A verdade é que os desafios sempre me motivaram.
Agora, pense naquele guri do interior do Rio Grande do Sul sendo gente grande na capital francesa…
Eu passava todos os meses de janeiro em Paris, ministrando aulas e participando de programas de formação de executivos, um vínculo acadêmico que me permitiu manter uma relação constante com a Europa, mesmo já residindo de volta no Brasil, mais precisamente em Porto Alegre, onde permaneço até hoje.
Antes de ir para Paris, passei em três concursos públicos. Aos 18 anos, fui aprovado no Banco do Brasil e na Receita Estadual, o que garantiu uma certa estabilidade financeira
Trabalhei por sete anos na Fazenda Estadual, mas, quando surgiu a oportunidade de estudar no exterior, abri mão da remuneração e da carreira que já tinha consolidado.
No ano em que me mudei, trabalhava como professor na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), também como professor concursado na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) e era servidor de carreira da Secretaria da Fazenda do RS.
No mesmo dia, solicitei minha exoneração na Secretaria, na UERGS e pedi minha licença não remunerada na Unisinos. Pois bem, ganhei uma bolsa de aproximadamente 1 200 dólares do CNPq. A única certeza que tinha é que, depois do doutorado, outras oportunidades viriam
Eu queria muito mais, sabia que podia muito mais. Abandonei um cargo estável e seguro para perseguir um sonho, movido pela paixão em aprender, impulsionado pelas oportunidades, mas principalmente encorajado pelos desafios.
Hoje, tenho orgulho de ter entrado na lista dos 100 maiores cientistas da América Latina na área de Gestão e Negócios (2022 e 2023) do AD Scientific Index, com um legado de citações em artigos científicos que contribuem para o avanço do conhecimento.
Tenho minha parcela de contribuição para o poder público: fui Secretário Estadual de Inovação, Ciência e Tecnologia e atuo junto ao Judiciário Estadual. Na academia, orientei mais de 30 teses de doutorado e dissertações de mestrado, fui pró-reitor acadêmico da Unisinos.
Toda esta minha trajetória pessoal e profissional me levou a tomar várias frentes – ou mergulhar em diversos desafios – e uma delas foi cofundar a edtech Startup Academy, em 2024. Neste projeto, aplicamos aquilo em que acreditamos: tecnologias exponenciais para revolucionar a educação
A Startup Academy reflete não apenas uma jornada de superação e crescimento, mas também um compromisso profundo com uma educação palpável e inovadora. Somos uma edtech com o propósito de se tornar a principal referência na educação empreendedora na América Latina, acreditando que o ensino superior precisa ser inovador, ágil e conectado às realidades do mercado.
Nosso objetivo não é apenas transmitir conhecimento, mas capacitar nossos alunos a construir, formar e concretizar suas próprias startups. Em um formato de graduação inovador, os estudantes passam por uma jornada prática e transformadora, que ao final lhes garante não apenas um diploma reconhecido, mas um negócio real, pronto para escalar no mercado.
Essa abordagem é o resultado de anos de amadurecimento, em que aprendi que a verdadeira educação não é apenas teórica, mas também voltada para a prática e as necessidades do empreendedor moderno.
Criamos uma rede sólida de mentores e parceiros que orientam nossos alunos em cada fase, desde a ideação até a execução de suas startups, superando as barreiras do tradicional ensino superior e criando empreendedores capazes de transformar ideias em negócios sustentáveis
Com a Startup Academy, o caminho está pavimentado para essas pessoas; estamos formando empreendedores de várias partes do país, conectando alunos a uma educação que transforma, que gera impacto econômico ao impulsionar a criação de startups competitivas e resilientes e impacto social, ao proporcionar acesso ao ensino formal e à formação empreendedora para quem busca transformar o seu futuro.
Se eu saí do interior profundo do Rio Grande do Sul para a academia francesa, para uma Secretaria de Estado, para um lugar como pesquisador de destaque e, agora, para empreender, tenho certeza que muitos outros poderão trilhar caminhos extraordinários, unindo educação e inovação para construir um futuro melhor.
Alsones Balestrin é cofundador da edtech Startup Academy, ex-Secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, ex-pró-reitor da Unisinos, Conselheiro de Administração e Fiscal, certificado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) – e também aluno da professora Geni, que o ensinou a ler e a enxergar o mundo pelo viés da educação.
Gay, negro e natural do sertão cearense, Ângelo Vieira Jr. estudou em escola pública e precisou batalhar para quebrar estereótipos e crescer na carreira. Ele fala sobre sua jornada e conta como virou especialista em marketing e inovação.
Thaís Borges cresceu num ambiente de vulnerabilidade social, mas não deixou que sua origem definisse o seu destino. Ela conta como fez para crescer na carreira e se tornar mentora e investidora de negócios periféricos comandados por mulheres.
Movida pelo lema “siga sua paixão”, Letícia Schwartz foi viver nos EUA e fez sucesso com livros sobre gastronomia. Até que se apaixonou pela educação e fundou uma consultoria que ajuda alunos a ingressar em faculdades americanas.