por Zaima Milazzo
Uma das mudanças impostas pelo novo coronavírus ao setor produtivo é a descoberta imediata de que somos mais versáteis do que imaginávamos. Temos a capacidade de alterar radicalmente as atividades e as metodologias com as quais estávamos acostumados, ainda que a mudança não estivesse nos planos.
As indústrias não têm outra opção senão repensar toda cadeia de negócios, incluindo a sua produção.
Trabalhar junto nunca foi tão importante e avaliar como é possível gerar um impacto positivo durante a pandemia a partir de parcerias e inovação aberta passou a ser uma premissa
Felizmente, em vez de optar pelo caos da pandemia e lamentar o impacto da Covid-19 nos negócios, muitas empresas têm sido capazes de se reinventar, reorganizando as linhas de produção e colaborando no enfrentamento da crise de forma coletiva.
É o que ocorre com as montadoras — antes acostumadas a montar carros, motos e outros motores— estão agora consertando respiradores mecânicos para auxiliar o setor de saúde e a indústria de bens de consumo, produzindo álcool gel em larga escala, por exemplo.
Em momentos como este, toda ajuda é bem-vinda e mais do que necessária. Por isso, o Brain, um centro de inovação fundado pela Algar Telecom, foi buscar novas maneiras de contribuir.
Uma das formas que encontramos de auxiliar o sistema de saúde foi utilizar nossas impressoras 3D para produzir EPI (equipamento de proteção individual)
Em outubro, em parceria com um pool de empresas e instituições variadas, anunciamos a criação de um Hub de Inovação voltado para a Indústria 4.0.
A iniciativa conta com o apoio de grandes players da indústria de alimentos, BRF (empresa que tem um canal de brand content aqui no Draft) e Cargill; da VLI, de logística; da Eurobras, que atende a construção civil; do bairro planejado Granja Marileusa; do Sebrae; do Senai/FIEMG; e da UFU (Universidade Federal de Uberlândia).
Além de oferecer espaços de coworking, o hub também contempla o laboratório Open Maker, ambiente em que empresas têm acesso a insumos para melhorar a produtividade, capacitar colaboradores e gerar novos produtos e soluções em seu processo de inovação.
Em meio à crise do novo coronavírus, a decisão do hub foi utilizar a estrutura existente e a expertise em inovação aberta para contribuir com o fornecimento de equipamentos de proteção para os hospitais. O laboratório se adaptou e passou a desenvolver, com o uso de impressoras 3D, suportes que são fixados em máscaras Face Shield, EPI com uma placa transparente de acetato que cobre todo rosto, da testa até o pescoço.
Todo o material produzido é encaminhado para a Secretaria Municipal de Saúde de Uberlândia (MG), cidade onde hub está localizado, para que abasteçam as instituições de saúde.
A fabricação dos suportes para Face Shield representa uma mudança significativa nos projetos do hub, condizente com este momento de crise e escassez de EPIs e produtos médicos.
Desde que foi fundado, o laboratório Open Maker viabilizou projetos variados, mas sempre focados nas dores e principais demandas de negócios das indústrias locais. Agora, todos os conceitos de inovação aberta e o trabalho em conjunto dos integrantes do ecossistema foram direcionados para o apoio à saúde pública.
O valor unitário de cada máscara é praticamente irrisório, já que o principal custo envolvido é o da mão de obra (colaboradores do Senai têm atuado no desenvolvimento das peças) e o investimento que já foi feito nas impressoras 3D.
Trata-se de uma iniciativa pontual perante o grave quadro nacional, mas para a região de Uberlândia há o potencial de contribuir com o trabalho daqueles que se esforçam para salvar vidas.
A estimativa local é que 320 suportes desse tipo sejam necessários neste momento. O hub de inovação já imprimiu 50 peças no primeiro lote e neste momento trabalha no segundo
Essa parceria e a impressão dos suportes são ações alinhadas com um grupo criado no município, o Juntos Por Uberlândia, uma sociedade civil organizada por meio de empresas, entidades, poder público e comunidade, com o objetivo de apoiar a compra e a manutenção de materiais para o setor de saúde da região.
Passando por essa experiência e observando os movimentos conjuntos realizados em todo o Brasil, percebo que a afirmação “toda ajuda é bem-vinda” nunca fez tanto sentido como atualmente.
Fica ainda mais claro que, além de cada empresa e colaborador contribuir individualmente de alguma forma, os resultados podem ser muito maiores se somarmos forças
À medida que o vírus avança e a crise se agrava, temos notícia de novas parcerias firmadas em todo país para ajudar as comunidades e o Brasil. Muitas estão aproveitando metodologias e ferramentas inovadoras. Todos nós fomos ou seremos afetados de alguma forma pela Covid-19. E todos, juntos, temos as melhores chances de superar o problema.
Zaima Milazzo é engenheira eletricista com especialização em telecomunicações pela Universidade Federal de Uberlândia. Atualmente, é diretora presidente do Brain, o Instituto de Ciência e Tecnologia criado pela Algar Telecom.
Como reagir rapidamente às ameaças em um mundo onde as certezas mudam a cada instante? Lidar com esse desafio (na vida e no trabalho) é o tema do novo livro da consultora Tonia Casarin. Leia um trecho.
Marcelo Nakagawa, professor de inovação do Insper, derruba mitos e explica como pequenas e médias empresas podem e devem embarcar na transformação digital (se não quiserem comer poeira da concorrência e fechar as portas).
As mulheres são só 15% dos parlamentares eleitos no Brasil. Isabela Rahal, da organização Elas no Poder, explica o que precisamos fazer enquanto sociedade para aumentar esse índice e construir um país melhor para todo mundo.