Treinar os funcionários usando games? A Kludo mostra que as equipes podem evoluir mais rápido dessa forma

Maisa Infante - 6 maio 2019
Daniel Sgambatti é o CEO da Kludo e espera, a partir da participação no The Next Web, conquistar clientes e investidores estrangeiros.
Maisa Infante - 6 maio 2019
COMPARTILHE

Quando ainda era criança, Daniel Sgambatti, 45, vendia adesivos na escola para os colegas. Na faculdade de Propaganda e Marketing, eram energéticos. Essa veia empreendedora foi herdada do pai, que tinha uma representação de cereais e com quem ele trabalhou até terminar a faculdade.

Hoje, Daniel é CEO da Kludo, empresa que faz games para treinamentos corporativos e faturou 1,5 milhão de reais em 2018. Ele tem como sócio o designer de games Ulisses Dantas, 26. O CEO afirma:

“Somos uma ferramenta de autoria que permite ao cliente produzir conteúdo para treinamento e entregá-lo como um jogo em vez de slides ou PDFs”

A empresa existe com esse nome desde meados de 2018. Mas a história é mais longa e tem a ver com toda uma jornada que Daniel empreendeu a partir de 2013, quando abriu a consultoria de RH Talent Matching, especializada no recrutamento de jovens brasileiros que estudavam fora e queriam voltar ao mercado brasileiro.

Depois de comprar uma participação na Daquiprafora, consultoria educacional que prepara jovens para fazer graduação no exterior, Daniel deixou o emprego na Vale, onde ficou por seis anos e ocupou cargos de gerente comercial e gerente de novos negócios.

Trabalhando com esses jovens que queriam sair do país, ele percebeu que havia um mercado para ajudá-los a ingressar no mercado de trabalho quando voltassem e deixou a sociedade na empresa (onde ainda é conselheiro), para montar a consultoria.

Foi a partir desse negócio que começou uma trajetória de erros e acertos que desembocou na Kludo, empresa que os sócios vão expor nos dias 9 e 10 deste mês no The Next Web, na Holanda, conferência que reúne investidores e empresários de negócios da internet. “Ficamos eufóricos e honrados ao sermos selecionados para participar.”

COM GAMIFICAÇÃO, ELES PROMETEM AUMENTAR O ENGAJAMENTO

Com as ferramentas da Kludo, as empresas podem produzir treinamento, seja para atender necessidades de desenvolvimento técnico ou comportamental, em um ambiente virtual em que texto, imagem e vídeos são transformados em jogo.

Há diversas atividades pré-concebidas como diálogos entre personagens, associação de elementos, vídeos, quiz, entre outras. Como nos games de diversão, na medida em que vai consumindo o conteúdo, o usuário muda de fase e evolui no jogo. Daniel afirma:

 “O uso da plataforma consegue reduzir em até 30% do tempo necessário para treinar as pessoas, com um aumento de mais de 10% de retenção do conteúdo, além de engajamento muito maior no consumo do material”

Hoje, a Kludo tem uma carteira com 12 clientes, entre eles empresas como O Grupo Boticário, Sanofi, Cielo, Itaú e Accenture. O cliente paga uma taxa de set-up de 5 mil reais, que inclui a criação de um ambiente com login e senha e um treinamento para que ele possa usar ao máximo todos os recursos oferecidos.

Os usuários da Kludo conseguem personalizar o avatar de seus personagens.

Depois, é cobrada uma mensalidade, cujo valor começa em mil reais (para 100 pessoas) e varia de acordo com o número de usuários e a quantidade de conteúdo. Hoje, há 20 mil usuários cadastrados.

Dentro da plataforma, os gestores têm acesso a relatórios com dados sobre o uso e o desempenho dos games, o que pode ajudá-los na definição de novas metas e estratégias mais assertivas dentro da empresa.

Para este ano, a previsão é alcançar um faturamento de 5 milhões de reais. A estratégia da empresa é ampliar a conversa com outras setores das corporações, e não somente o RH.

“Já fizemos negócio diretamente com o time de vendas e áreas de operação. Isso nos ajuda a crescer mais porque podemos acessar diretamente os tomadores de decisão de áreas que não precisam interagir diretamente com o RH.” Eles querem, também, a partir da participação no The Next Web, estreitar a conversa com possíveis clientes e investidores internacionais.

DE CONSULTORIA DE RH A EMPRESA DE TECNOLOGIA

Formado em Propaganda e Marketing e com pós-graduação na Fundação Dom Cabral, Daniel não é um expert na área em que atua hoje.

Mesmo assim, em 2015, decidiu que transformaria a Talent Matching em uma empresa de tecnologia. Naquele ano, o empreendimento integrou o time de residentes do Cubo, centro de empreendedorismo tecnológico do Itaú. E Ulisses entrou para a empresa como desenvolvedor, levando seu conhecimento sobre o mundo de games para a startup.

A primeira experiência em tecnologia da dupla foi o aplicativo Motiva.vc, desenvolvido para ajudar as universidades a reduzir a evasão escolar. A plataforma fazia uma análise comportamental dos jovens e, com base nas respostas, oferecia conteúdo para ajudar esses jovens a não desistir da faculdade.

Os sócios começaram com um app gamificado (em que elementos de jogos são utilizados em uma atividade da vida real), mas perceberam que para atrair a atenção dos estudantes precisariam desenvolver um game, em que a experiência é mais imersiva e mais próxima do tipo de conteúdo que eles consumiam no dia a dia.

A Kludo oferece um ambiente virtual de game, em que a empresa insere o conteúdo que quer utilizar e os usuários consomem em forma de jogo.

“Precisávamos da atenção deles para consumir o conteúdo que queríamos disponibilizar.” Ainda assim, não deu certo. Daniel acha que eles poderiam ter sido mais rápidos na percepção de que era preciso deixar a gamificação de lado e mergulhar direto nos games.

Quando isso aconteceu, houve a mudança nas regras do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), que passou a ter uma taxa de juros mais alta, de 3,4% para 6,5% ao ano, além disso, foram implantados alguns limites de vagas e o programa priorizou o atendimento de alunos matriculados em cursos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Segundo o CEO, como várias universidades não estavam prontas para operar sem a ajuda do governo, o negócio perdeu fôlego com tudo isso, ma ficou a lição de que é preciso ouvir o usuário. “Uma frase que não é minha, mas que resume bem isso é: ‘Não ame sua solução, ame o problema’.”

TER FOCO É FUNDAMENTAL

Depois da experiência que não deu certo com as universidades, Daniel voltou-se para o mercado corporativo e entrou no ano de 2016 com um negócio híbrido entre consultoria e tecnologia (até porque a sustentabilidade financeira do negócio vinha da consultoria).

Ulisses Dantas é o sócio que entende da parte de desenvolvimento de jogos.

A partir de 2017, a operação passou a ser focada apenas em tecnologia com o lançamento, no primeiro semestre, de um game para análise de perfil, pensado para ajudar a reduzir o turnover das empresas.

Desta vez, ele ouviu o que os usuários queriam. “Quando fomos para o mercado, as empresas nos provocaram dizendo que gostariam de usar a solução para treinar as pessoas. Fomos mais rápidos nessa mudança de caminho e pivotamos o negócio.”

Já no segundo semestre de 2017, a Talent Matching passou a oferecer o game para treinamento. Foi também o momento em que o CEO precisou colocar dinheiro na empresa e fez um investimento de 200 mil reais.

“Aprendi que negócios dependem de foco. Quando você coloca o foco 100% no que quer fazer, isso tem uma chance enorme de dar certo”

Em 2018, veio a mudança de nome para Kludo — K vem de Knowledge (conhecimento) e Ludo significa “eu jogo” em latim (e, sim, é também o nome de um tradicional jogo de tabuleiro). No meso ano, Ulisses tornou-se sócio do negócio e a empresa captou de 1,2 milhão de reais com investidores-anjos.

PARA CRESCER É PRECISO ENCONTRAR BONS PROFISSIONAIS

Hoje, Daniel enxerga dois grandes desafios para a Kludo. Um deles é quebrar a resistência que alguns gestores do mundo corporativo ainda têm com sua startup:

“Se o executivo não é uma pessoa acostumada com games, pode ter um pouco de preconceito com nosso negócio, porque vê o filho jogando e acha que isso é coisa de criança”

Mas os bons cases conquistados na trajetória têm ajudado nessa aproximação com os clientes. O outro desafio é atrair profissionais qualificados para escalar o negócio. Em 2018, o número de funcionários dobrou, chegando a 20 e, neste ano, eles esperam formar um time de 50 pessoas.

Nessa trajetória, um dos erros que Daniel considera que a empresa cometeu foi fazer contratações erradas e demorar para consolidar algumas demissões. Para ele, ter uma equipe afinada vai ser fundamental para fazer a Kludo deslanchar.

O empreendedor diz que na área de games há uma boa oferta de profissionais qualificados. Já na área de desenvolvimento de tecnologia, a demanda é maior do que a oferta. “Hoje, minha maior atribuição como CEO é encontrar gente ponta firme para fazer esse negócio crescer.” Uma coisa é certa: os sócios estão prontos para mudar de fase.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Kludo
  • O que faz: Games para treinamento empresarial
  • Sócio(s): Daniel Sgambatti e Ulisses Dantas
  • Funcionários: 20
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2018
  • Investimento inicial: R$ 200.000
  • Faturamento: R$ 1.500.000 (2018)
  • Contato: contato@kludo.com.br
COMPARTILHE

Confira Também: