Três anos hoje – o Draft faz aniversário e (se) pergunta: o que te move? Para onde você está indo? E por quê?

Adriano Silva - 31 ago 2017O fundador e publisher do Draft, Adriano Silva, bem acompanhado em seu ambiente de trabalho.
O fundador e publisher do Draft, Adriano Silva, bem acompanhado em seu ambiente de trabalho.
Adriano Silva - 31 ago 2017
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por Adriano Silva

O Draft completa três anos hoje.

Gostaria de dizer o seguinte: há carreiras que são sua própria recompensa.

Há talentos que precisamos exercitar, botar na rua, no mundo, fazer florescer. Acho que isso tem a ver com propósito, com missão, com ímpeto realizador. Trata-se de uma motivação muito maior do que possa conter um business model canvas, do que possa expressar um pitch.

Antes de empreender um negócio, empreendemos a nós mesmos. Empreender não significa se jogar no mercado – mas, antes de tudo, se jogar na vida.

Perceba que não estou falando do que os outros vão dizer nem de como o mundo vai acolher a sua iniciativa. Estou falando das coisas que você tem que fazer.

É comum entre os melhores escritores que não tenham ganhado muito dinheiro nem sido suficientemente reconhecidos durante seu tempo de vida. Isso não lhes impediu de construir suas obras. Nem de dar um sentido – ou o sentido – às suas vidas.

Então há coisas que precisamos, simplesmente, fazer.

Artistas que realizam sua arte mirando em fama e fortuna costumam ser artistas medíocres ou frustrados – ou as duas coisas. Grandes artistas se dedicam a fazer só uma coisa na vida: a sua arte. Todo o resto é consequência. (E não a causa.)

Troque arte por empreendimento ou projeto ou profissão. E mantenha o resto. Para o trabalho e os negócios, vale o mesmo raciocínio. Ou o raciocínio deveria ser o mesmo. Makers make. O resto vem. Talvez não do jeito que a gente imaginou. Mas vem.

O caminho mais curto para que nada do que você quer aconteça com você é você não fazer nada para que essas coisas lhe aconteçam

Como ouvi uma vez de Roberto Martini, da Flag – o dinheiro, de um jeito ou de outro, sempre aparece. Não dá para esperar por ele para fazer as coisas. E eu acrescento: provavelmente o melhor jeito de fazer o dinheiro aparecer é fazer as coisas.

Ou como ouvi um dia de Herman Bessler, da Malha e do Templo – quando você está fazendo aquilo que deveria estar fazendo com a sua vida, mesmo se der errado, já deu certo.

E eu acrescento: quando você está fazendo algo que não tem nada a ver com você, quanto mais certo derem as coisas, pior fica. Quanto mais você avançar pela estrada errada, mais longe você ficará do que lhe faz feliz e de quem você é ou gostaria de ser – inclusive profissionalmente.

Acho que eu tenho essa relação com o Projeto Draft. O Draft é a minha própria recompensa. Independente de qualquer outra coisa. O Draft é o que eu devia ter feito em 2014, quando o lançamos, e o que eu devia estar fazendo hoje. Sim, o Draft deu “certo”. Mas ele já teria dado certo mesmo que tivesse dado “errado”.

O Draft encerra em si o exercício completo do empreendimento – enxergar, compreender, planejar e executar. Esse ciclo, quando a gente consegue realizar com sucesso, representa o melhor que a carreira pode oferecer a um empreendedor – seja ele criativo, social, de escala ou corporativo.

(Tenho orgulho desse mapeamento que fizemos, organizando a Nova Economia em quatro territórios: Negócios Criativos, Negócios Sociais, Startups e Inovação Corporativa. É um design elegante – uma equação simples que define um todo complexo. Não ficou nada sobrando, nem faltando – os quatro DNAs dos empreendedores da Nova Economia estão aí. A new economy, em suas várias facetas, estava acontecendo com força no Brasil e no mundo. E o Draft ordenou essa narrativa por aqui. De um modo que, tanto quem estava de fora quanto quem estava dentro, pudessem compreender melhor o que estava acontecendo, enquanto a coisa acontecia.)

O Draft é uma visão que tenho conseguido concretizar com a contribuição de muitos talentos. Em especial, a editora Phydia de Athayde – e seu bravo time de repórteres, que ela seleciona a dedo, e acompanha de perto – e Bruno Leuzinger, nosso editor de Brand Content, um dos mais distintos praticantes do jornalismo de marca no Brasil. Ambos empreendem suas carreiras junto comigo no Draft. Ao lado de nossos talentosos escudeiros: Fabrício Moura, no design, Fred Carbonare e Felipe Olivas, na tecnologia.

Sobretudo, o Draft é o lugar em que eu desejo estar. Eu não gostaria de estar fazendo outra coisa. Em termos profissionais, isso significa realização. E essa sensação não tem preço.

O Draft me concede o sentimento de estar empregando da melhor maneira possível meu tempo e as competências que construí vida afora.

Bem como o sentimento de estar prestando um serviço relevante, de ter tirado da cartola uma solução real para um problema real, de fazer diferença para melhor na vida das pessoas e das marcas que nos dedicamos a atender.

Hoje, em retrospectiva, imaginando a hipótese de que não tivesse feito o Draft (a decisão mais óbvia e sensata é sempre não empreender), vejo que ele era uma espécie de obrigação. Minha com o mundo. Mas, sobretudo, minha comigo mesmo.

Há empreendimentos que se constroem assim para o empreendedor – como um compromisso irrecusável. Como uma bandeira ou uma causa que dá significado ao nosso dia a dia e que expressa a nossa compreensão do – e a nossa contribuição ao – mundo

Empreendimentos assim são como uma ideia que não sossega enquanto não virar realidade. Algo que você simplesmente tem que dar à luz. Sob a pena de manter aquela gestação encruada dentro de você pelo resto da sua vida.

Eu não sei se o Draft irá crescer e deixar de ser um empreendimento para se tornar uma empresa. Eu não sei se ele vai se transformar num negócio de escala, numa startup feita para se expandir, ou se continuará sendo uma butique com jeito de negócio da economia criativa, em que o cliente é atendido pelo dono. Até aqui temos olhado para a relevância e não para o crescimento. Para o apuro e não para a escala. Para qualidade de vida e de trabalho, e não para o aumento exponencial das receitas.

Três anos depois do primeiro post, publicado em 29 de agosto de 2014, ainda encontro, todo dia, alguém que deveria conhecer o Draft, e que se surpreende c0m o Draft, e que vira fã do Draft, e que ainda não conhecia o Draft. Por “culpa” nossa. (Ou, mais precisamente, minha.) Porque nossa velocidade até aqui tem sido a orgânica, do boca a boca. Nunca tivemos um plano de expansão agressivo, visando conquistas aceleradas.

Isso é bom, por um lado. Temos preservado nossa essência. Somos um negócio feito para viver. E não um negócio feito para vender. A gente tem optado pela felicidade do dia a dia e não por meter o pé no fundo e fundir o motor, em busca de mais ganhos financeiros. (Eu já acelerei muito em minha vida, tanto como executivo quanto como empreendedor. Meu foco era chegar lá. Tenho tentado andar com mais serenidade, curtindo a paisagem, focando mais no caminho do que na tal linha de chegada, se é que ela existe e onde quer que ela esteja.)

Por outro lado, isso é ruim. Se estamos fazendo direitinho, se somos relevantes, se nossa oferta tem valor, por que não escalar esse benefício e oferecê-lo a um número cinco ou dez vezes maior de pessoas? O Draft ainda é, de certo modo, no seu trigésimo-sexto mês de vida, the best kept secret in town. Um clube de insiders. Uma comunidade de early adopters, de influenciadores e formadores de opinião, de gente que está no topo da pirâmide da Inovação e do Empreendedorismo no país.

O tamanho que o Draft tem hoje, em seus canais, é absolutamente natural. E, por isso, quero crer, é sólido. É com essa mesma naturalidade que temos olhado para o roll-out do Draft em direção à base da pirâmide – não temos tido pressa em crescer, o ritmo da expansão da nossa comunidade não tem sido motivo de insônia.

De empreendedor para empreendedor: esse é o ponto em que nos encontramos hoje. No terceiro aniversário do Draft, tendo sobrevivido até aqui à maior crise econômica da história do país, essa é a nossa reflexão estratégica.

Estamos relativamente consolidados como artesãos editoriais. Como ourives de informação e conhecimento. Como chefs especializados em inovação e negócios disruptivos. Fazemos o Draft de um jeito que cabe em nossa manufatura, na qual temos polido com amor e afinco nosso craft até aqui. Talvez isso seja sabedoria. Talvez isso contenha um pouco de egoísmo da nossa parte. O tempo dirá.

Sigamos juntos. É uma honra tê-lo conosco.

 

Adriano Silva é o fundador e publisher do Projeto Draft.

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