Poucas empresas brasileiras têm uma história tão rica quanto a ContaAzul, que desenvolve softwares de gestão com interfaces amigáveis. Apesar de hoje ser reconhecida como uma das startups de maior sucesso nacional, os sócios não escondem as dificuldades pelas quais passaram desde que decidiram se aventurar pelo empreendedorismo, em 2007. A montanha-russa, que no ponto mais baixo quase fez os fundadores desistirem de tudo, hoje está no pico: 500 mil empresas já foram atendidas pela startup. Vinicius Roveda, 33, CEO da empresa, lembra bem da época em quase jogou tudo para o ar: “Tive muitas oportunidades de desistir, mas o sonho grande é algo que sustenta. É aquela coisa visceral”.
Aos 17 anos, ele começou a estudar a criação de softwares. Em Joinville, onde a empresa está até hoje, iniciou os primeiros testes de sistemas para gestão empresarial online, quando ainda trabalhava na Tecnosystem, um de seus primeiros empregos como desenvolvedor. Ou seja, estudar, trabalhar e fundar um negócio: tudo isso fazia parte do seu dia. “Meu foco sempre foi ajudar os micro e pequenos empresários”, conta.
No ano seguinte, acreditando no potencial da primeira versão do software da sua futura empresa, ele deixou o emprego para vender o produto. O resultado não foi dos melhores: “Ninguém queria comprar, ele não envolvia os clientes, não tinha uma experiência ideal. Foi um ano de trabalho perdido”. Para se recuperar da primeira tentativa frustrada, ele voltou para a casa dos pais e pensou em um plano B.
“O nosso maior problema era a Teoria do Achismo. Pensar em um produto que ninguém vai usar, sem falar com ninguém”
Vinicius ainda lembra de outra dificuldade: a falta de conhecimento de um modelo de negócio. Foi isso que fez ele e os demais sócios, José Sardagna, João Zaranite e Marcelos dos Santos, quase desistirem da empresa em 2011. Os três anos que pulamos na história são descritos pelo CEO como uma “sequência de falhas que gerou um aprendizado enorme”. Nesse ano, a ContaAzul – ainda sem nome – se reconhecia como o time que mais entendia o problema das PMEs no Brasil, e só precisava de mais conhecimento e dinheiro. Uma de suas maiores concorrentes, a ZeroPaper só seria lançada no ano seguinte.
MESES INTENSOS NA MESA DE PINGUE-PONGUE
A recompensa chegou quando a startup deu as caras em São Paulo, durante o GeeksOnAPlane. Foi lá que os sócios apresentaram a ContaAzul a uma das maiores aceleradoras norte-americanas, a 500 Startups, e foram selecionados para um programa no Vale do Silício. Daí em diante, seria pouco dizer que a sorte da empresa mudou. Vinicius e os demais co-fundadores embarcaram para o que seria a sua maior guinada. Chegando nos Estados Unidos, tiveram uma semana para mudar a marca, melhorar a experiência do usuário e se preparar para ser citado no portal TechCrunch, o maior expoente de startups.
Na época, Vinicius havia acabado de se tornar pai. Os primeiros meses da filha, Luiza, ele acompanhou de longe. “Foi bem complicado, ficava olhando para uma foto dela o tempo todo. Além disso, o trabalho era frenético. Começamos em uma mesa de pingue-pongue, onde a gente comia também”, ele diz. No fim do ano, eles conseguiram fechar uma rodada de investimentos com a Monashees e voltaram ao Brasil. Em 2012, conseguiram outra com a Ribbit Capital. Ao todo, foram quatro, as últimas com a Valar Ventures e Tiger Global. O que todos esses fundos viram na ContaAzul? Talento e disposição para oferecer um serviço de acordo com a necessidade do usuário. Vinicius diz:
“Precisamos entender e surpreender o cliente. Então todas decisões da ContaAzul são baseadas em dados, para fazer um produto que os clientes amem usar. A gente é paranoico com isso”
A busca pela inovação, nesse caso, é fundamental. Então, os sócios passaram a se aproximar de profissionais que destacam em diferentes áreas de tecnologia – que eles abordavam pelo LinkedIn mesmo, sem cerimônia – e criaram uma rotina de conferências com engenheiros do Facebook. Em 2014, outro reconhecimento: a CA foi eleita pela Fast Company como uma das empresas mais inovadoras da América Latina.
UMA CULTURA FEITA PARA SURPREENDER
Atendimento ao cliente é uma área que significa mais para os sócios da empresa. Avessos a call centers, eles criaram um departamento de “encantadores de clientes”, denominado UAU. Lá, a missão é mais conquistar do que prospectar, sem script e por qualquer meio disponível. Além disso, a ContaAzul investe em uma cultura interna bem pouco corporativa, inspirada na gestão horizontal. Para Vinicius, o objetivo da CA é ser transparente na tomada de decisões importantes. É por isso que os sócios organizam encontros semanais para sentar com os funcionários e discutir as questões mais importantes da empresa.
Lá também entram na pauta as informações que os time de campo, com os clientes, trazem para aprimorar os softwares. Vinicius diz: “Às vezes, tem uma série de testes acontecendo para gerar mais engajamento. Estamos vendo onde temos menos cliques, se precisamos mudar alguma cor, posição. Tudo é validado antes de ir para a engenharia”.
Apesar de evitar burocracias, o processo para entrar na ContaAzul é longo. Mas a oferta de vagas tem sido impressionante. No fim do ano passado, a empresa abriu 80 posições e agora tem um escritório com mais de mil metros quadrados, com 250 funcionários. “Precisamos manter a barra muito alta para avaliar as pessoas que entram, porque temos uma cultura de desafios, autonomia, diversão e velocidade”, afirma Vinicius.
Todo o esforço é para fazer um mesmo produto funcionar para muitos perfis de empresários: do conectado a todas as tecnologias àquele que ainda usa o livro de contas para gerir seu negócio. Um dos maiores desafios, no entanto, é desenvolver um sistema que esteja 100% alinhado com as expectativas de uma nova geração de empreendedores, que cresceu com um computador e hoje valoriza as vantagens da nuvem. Para essa galera dizer “UAU”, a integração de sistemas é fundamental.
No pacote, o usuário emite boletos, notas fiscais, faz controle financeiro e de estoque, e tira relatórios. São quatro planos mensais, que variam entre 29 reais (para autônomos) a 199 reais (para empresas de médio porte).
PARA ONDE A CONTAAZUL VAI AGORA?
A crise econômica atual não assusta ou desacelera os planos da empresa. “Lá fora não vai mudar como enxergam o potencial do Brasil. O fator economia oscila sempre. Mas quantas pessoas vão usar internet e smartphones nos próximos 10 anos?”, diz Marcelo. E como o foco da empresa são os empreendedores, a equipe da CA ainda vai passar a emitir um conjunto de índices sobre o desempenho das micro e pequenas empresas brasileiras. Previsto para ser divulgado a cada trimestre, o Termômetro ContaAzul será baseado em pesquisas que usam a ferramenta e precisam de informações para tocar suas PMEs.
Outro plano é adquirir outras startups, de preferência empresas com propostas complementares. “Estamos monitorando o mercado, nosso porte nos permite acelerar alguns negócios”, diz Vinicius, que não pode abrir o faturamento da empresa. O CEO ainda entrega que sua equipe tem um projeto de Fintech chamado Ecossistema, ainda sem detalhes para contar, que tem a ver com a mudança de postura de bancos, governo e contadores — algo que a ContaAzul quer ajudar a realizar.
Além disso, a startup tem outra ambição: transformar o papel do contador no Brasil. “Ele pode virar uma figura estratégica, não só ser o cara que cuida da parte burocrática”, diz Vinicius. Para explicar a diferença que a empresa pode trazer para os os escritórios de contabilidade, o sócio Marcelo dos Santos exemplifica: “O que o contador faz em dois dias, pode tomar só cinco minutos. Aí, ele pode usar esse tempo para trabalhar como consultor, ter insights e dar dicas importantes ao empresário”.
Educar o setor contábil, assim como muitos empreendedores que relutam em trocar as planilhas do Excel por uma plataforma em nuvem, é um dos maiores desafios da empresa, mas a ContaAzul parece ter fôlego e estrutura para aguentar o perrengue.
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