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Uma testemunha das transformações da indústria brasileira desde 1969

Mariama Correia - 20 mar 2018
Antônio Justolino da Silva: em vez de um cochilo, flexões no intervalo.
Mariama Correia - 20 mar 2018
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Antônio Justolino da Silva, 75 anos, orgulha-se de nunca ter tido registro de afastamento por doença nos seus 49 anos de trabalho dedicados à fábrica da Fiat Chrysler Automobiles (FCA), em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco. Dono de um vigor físico invejável, sai de casa todos os dias às 4h da manhã para o serviço. Enquanto os funcionários mais jovens tiram um cochilo no intervalo do expediente, ele faz flexões. Está sempre em movimento e nunca se esquiva das horas extras. Tanta resistência rendeu a ele o apelido de “Seu Dureza”.
Toda essa disposição, contudo, não é novidade. Dureza diz que sempre foi assim, incansável. Quando começou a trabalhar na fábrica, que atualmente produz chicotes mecânicos (cabos elétricos utilizados nos veículos) para a Fiat, tinha apenas 25 anos. A data do primeiro dia de trabalho ele nunca esqueceu: 28 de maio de 1969.

Naquela altura da vida, o jovem nascido em Surubim, município do interior de Pernambuco, já tinha feito de tudo um pouco. Desde trabalhar na roça até fazer reparos mecânicos em uma oficina de automóveis na sua cidade. E foi o justamente o conhecimento em solda mecânica que garantiu a ele uma posição na área de funilaria da Jeep Willys, a primeira indústria automobilística do Nordeste brasileiro.
A unidade era projetada para produzir 860 veículos por mês, mais de 10 mil por ano. Os modelos Jeep Willys, criado para a Segunda Guerra Mundial, conhecido no Nordeste como “Chapéu de Couro” e a Rural eram montados por lá. “A gente montava tudo do zero, com as peças vindas de fora”, lembra Dureza.

O trabalho de solda e montagem dos automóveis era artesanal. “Muitas vezes, a gente ficava todo coberto de poeira, porque o carro era lixado na mão”, recorda. A dedicação ao trabalho fez Antônio Justolino ganhar rapidamente o apelido e também assumir uma posição de destaque. “Eu era aquele matuto desenrolado, porque já cheguei com algum conhecimento em solda e sempre tive muita vontade de aprender. Então assumi logo a parte de treinamento dos novos soldadores”, recorda.

Em 1981, a montagem da Willys foi descontinuada e deu origem a uma fábrica de componentes. A então TCA (Tecnologia em Componentes Automotivos) seria adquirida pelo grupo Fiat anos mais tarde, em 2010, quando passou a produzir chicotes elétricos para os carros da marca. Nesse processo, o ambiente de trabalho de Dureza mudou completamente. Dos aproximadamente 250 funcionários, passou a ter mais de dois mil. A produção manual deu lugar a maquinários modernos.

“Mudou tudo. Quando comecei não tinha robô ou as máquinas modernas de hoje. Era pouca gente trabalhando e, dessa época, só quem restou fui eu. Como era um funcionário dedicado, fui ficando”, aponta. “Sou satisfeito por ter sido um pioneiro e de ter feito parte dessa história”, avalia.

Essa história da indústria automotiva em Pernambuco e no Nordeste, da qual ele é testemunha, ganharia um novo capítulo em 2015, a partir da inauguração do Polo Automotivo Jeep, no município de Goiana (PE). A fábrica é a mais moderna planta da FCA no mundo e um deleite para os olhos atentos do profissional experiente. “Hoje tudo está mais fácil. É muito moderno, limpo”, ressalta.

Seu Dureza mostra a fábrica que conhece tão bem a um grupo de visitantes.

O apelido que Antônio Justolino ganhou ainda moço por sua resistência é também uma tradução da força com a qual ele sempre enfrentou os desafios da vida. Pai de três filhas, precisou sustentar a família sozinho quando a esposa adoeceu gravemente. Na época, ele tinha aproximadamente 30 anos. “Eu trabalhava de noite e, quando saia da fábrica, ia ficar com ela no hospital. Uma vez fiquei três dias sem dormir fazendo esse expediente duplo”, recorda. “Minhas filhas foram criadas com ajuda da minha mãe, da sogra, de tias. A vida não foi fácil, mas nunca reclamei”, conta.

As horas extras no trabalho ajudavam a comprar os remédios da esposa que custavam quase um salário mínimo. “Um dia meu gerente descobriu o motivo pelo qual eu tinha tantas horas extras e a empresa passou a me dar uma ajuda de custos para pagar os remédios dela”, lembra. “O trabalho também custeou, por um período, a mudança da minha esposa de hospital. Eles forneciam táxi para o transporte dela. Sempre tive muita compreensão dos meus chefes e por isso sou muito grato”, ressalta.

Mesmo depois do falecimento da esposa, Dureza continuou com sua inabalável dedicação trabalho. Sua única ausência aconteceu cinco anos atrás, quando foi agredido durante um assalto e precisou ser hospitalizado. Seria o primeiro atestado médico que ele entregaria em toda a sua trajetória profissional, mas a admiração dos companheiros de trabalho falou mais alto. “Quando cheguei na empresa para entregar o atestado, minha chefia não deixou. Em vez disso, me deram férias para meu histórico não ficar manchado”, conta.

Tantos anos dedicados à família e ao trabalho, por fim, não conseguiram abater o espírito incansável de Dureza. Como quem ensina uma fórmula simples de felicidade, o sorridente Antônio Justolino se declara satisfeito com a vida que tem. Criou suas filhas, é saudável, feliz no trabalho e conta com o respeito dos colegas. Nos dias de folga, gosta de ir a Surubim conversar com as pessoas, caminhar e ver as festas de vaquejada. “Nunca fico parado. Os mais jovens acham engraçado porque nunca me veem sentado”, relata achando graça. “Acho que me acham uma inspiração, por isso procuro dar conselhos, dizer para eles se dedicarem porque assim vão crescer na empresa”, diz e, antes de terminar a entrevista, faz questão de salientar. “Por mim, continuo trabalhando até onde der”.

 

Esta matéria pode ser encontrada no Mundo FCA, um portal para quem se interessa por tecnologia, mobilidade, sustentabilidade, lifestyle e o universo da indústria automotiva.

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