Me tornar CEO foi uma conquista enorme – e meu maior desafio. Mas sei que cada passo da jornada até aqui me preparou para este momento.
Nos primeiros 14 anos da minha carreira, atuei na área comercial e de desenvolvimento de novos negócios em empresas do setor petroquímico. Minha primeira formação acadêmica é em Química.
E essa parece ser uma área daquelas que não têm cara de “coisa de mulher”. E muitas vezes, de fato, fui tratada como se realmente estivesse no lugar errado.
Lembro de uma ocasião em que, como gerente de contas de uma empresa do setor, fui com o CEO até um dos clientes para resolver uma situação.
Mesmo sendo a gestora da conta e atuando no dia a dia, tive de ouvir o CEO me pedir para aguardar do lado de fora, pois aquilo era um assunto “para homens resolverem”
Infelizmente, passar por esse tipo de situação não é exclusividade minha. Todos os dias, mulheres em todo lugar se sentem diminuídas ou excluídas.
Quantas de nós já falaram algo em uma reunião para, minutos depois, o colega ao lado dizer a mesma coisa – só que ser ouvido e reconhecido? É lógico que isso incomoda e não deveria acontecer nunca…
Evoluindo em um setor que não parecia ser “para mulheres”, aprendi a me posicionar. Percebi que precisaria saber muito mais sobre os clientes para garantir a cadeira que tinha na época
Precisava fazer mais visitas, bater as metas com mais frequência e por uma margem maior. A cobrança seria muito maior. Aprendi a considerar isso como parte do jogo. Uma parte injusta, sem dúvida, mas foi algo que me fortaleceu.
Confesso que nunca fui de ter metas ambiciosas, do tipo “um dia vou chegar a tal lugar”. Minhas ambições sempre foram: fazer o meu melhor a cada dia e criar o caminho para o passo seguinte.
Se eu era gestora de contas pequenas, queria me aperfeiçoar para ter condições de assumir maiores. Ao gerir contas nacionais, almejei as internacionais. E por aí vai.
Nessa de um passo por vez, após 14 anos não via espaço para avançar mais nada no setor petroquímico. Um cargo de alta direção não era um objetivo: era uma impossibilidade.
Mulheres chegavam no máximo a uma gerência de vendas. Uma diretoria de área? Talvez em outro lugar, não onde eu estava. CEO? Nem em sonho
Foi quando recebi um convite para trabalhar na Swarovski como gerente de desenvolvimento de negócios para toda a América Latina.
No setor de luxo, meus horizontes se ampliaram: a presença feminina não era tolerada, e sim desejada. O input era diferente, e os resultados também.
Convivendo com mulheres em cargos executivos e recebendo melhorias, comecei a ver que seria possível avançar. E isso me aguçou a vontade de criar espaços para mim também
Por três anos, pude me desenvolver em novas áreas e competências, ampliando minha visão estratégica e a capacidade de liderar equipes em outros países.
Minha paixão por lidar com pessoas e alcançar resultados continuava a mesma, mas as possibilidades se tornaram muito maiores.
Em março de 2020, a pandemia me encontrou em transformação. Tinha saído da Swarovski e reencontrado a Helena Prado, uma mulher incrível que, dona da agência de comunicação PinePR, lidava com os papéis de empreendedora e mãe com uma enorme desenvoltura.
Fui convidada por ela para um trabalho pontual: organizar a estrutura comercial da agência, que vinha em um ciclo de crescimento. Aceitar esse job foi, sem dúvida, a melhor decisão que já tomei na vida!
Na PinePR, me deparei com uma nova realidade. Uma agência liderada por uma mulher, em que as lideranças femininas são muito valorizadas.
Me senti confortável em expor minhas ideias, trazer novos formatos de negócios, produtos e relacionamentos, treinar equipes, fazer sugestões e explorar novas possibilidades. Acabei me tornando Head de Marketing e Novos Negócios
Desde que assumi esse desafio, iniciamos um processo de reestruturação da empresa. Fiquei responsável por buscar clientes com porte maior, principalmente os que tivessem crescimento acelerado. E foram mais de 60 conquistados em pouco menos de um ano.
Vi que na agência havia um lugar de oportunidades e portas abertas, já que lá 75% da liderança é feminina e existe um espaço de diálogo que ainda não tinha encontrado em lugar nenhum.
Eu já vinha realizando várias funções da liderança executiva. E, com os resultados atingidos ao longo desse período de trabalho, acabei sendo convidada para assumir o cargo de CEO.
Ainda assim, mesmo com quase 20 anos de experiência profissional, de vez em quando, bate aquela Síndrome da Impostora.
Não é sempre que sinto que estou 100% preparada, mas como tenho a mania de olhar mais para o copo cheio, me jogo nos desafios sem medo de pedir ajuda
Essas são boas dicas para quando temos esse sentimento de insegurança: saber contar com sua equipe para pedir auxílio quando necessário, olhar para todos os lados de um problema e se jogar.
Aquela frase “vai com medo mesmo” é o que resume para mim a solução para essa síndrome que atinge muitas mulheres no ambiente de trabalho.
E que bom que posso contar com outras pessoas para me fortalecer. Por aqui, os times precisam ser complementares – as diferenças não são apenas aceitas, mas estimuladas.
Então, é natural que a equipe como um todo seja forte, pois as competências se somam. Tenho uma experiência grande com a gestão de times, mas não tenho 100% do conhecimento em comunicação. Estou sempre aprendendo com os outros colaboradores, enquanto eles também aprendem comigo. E essa troca é maravilhosa!
O trabalho é um meio e os desafios a gente supera todo dia, em união. As vitórias são de todo o time e é com esse espírito que continuamos a crescer.
Sei que não estarei 100% preparada para tudo, mas junto com os colaboradores, me sinto preparada para encarar o que vier.
Pela primeira vez na carreira, não tenho um próximo passo que queira dar, pois o que faço me realiza a cada dia
O que almejo? Me capacitar cada vez mais para colaborar com o crescimento das pessoas com as quais trabalho e ajudar a empresa a continuar crescendo.
Conquistei um espaço que nunca tive e sou respeitada e ouvida – não por imposição, e sim por mérito. E isso é muito mais do que poderia ter sonhado quando comecei esta jornada.
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