O filósofo suíço Jean Piaget acreditava que, desde pequenas, as pessoas deveriam ser as protagonistas dos seus processos de aprendizagem. É uma teoria que vem atravessando os anos — e parece se encaixar cada vez mais no contexto atual.
No ensino superior, por exemplo, “colocar o aluno no centro” encabeça a lista de aspectos que devem ser levados em conta pelo estudante antes de fazer a matrícula, de acordo com um estudo realizado pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes).
Na prática, criar um programa com essa premissa é algo complexo, que depende de uma combinação de fatores. “É resultado de muito trabalho, investimento em inovação, treinamento contínuo das equipes e escuta sempre ativa”, afirma José Rogério Moura de Almeida Neto, vice-reitor do UNIFAA – Centro Universitário de Valença, localizado no interior do Estado do Rio de Janeiro.
Segundo ele, não se trata apenas de incorporar ferramentas ou plataformas à rotina de estudos. Vai muito além. “É necessário realizar mudanças significativas nas estruturas mais profundas. Fundimos o mundo físico com o digital em nossa proposta pedagógica, criando um conceito figital”, comenta.
A instituição se destaca por oferecer programas voltados ao desenvolvimento de competências profissionais e socioemocionais capazes de preparar as pessoas para um mundo conectado, global e sustentável.
Os cursos estão disponíveis em três modalidades: Prime Act (presencial), Prime ACT ON (semipresencial, combinando aprendizado interativo e aplicação prática) e Prime ON, que oferece a flexibilidade do ensino digital. Todos são baseados em metodologias ativas e também no uso de tecnologias que potencializam o ensino.
Um dos mais procurados é o de Medicina, sobretudo devido à rápida inserção dos alunos no contexto prático. A instituição mantém um Hospital e uma Maternidade Escola, além de integrar o Sistema Único de Saúde (SUS) presente na região. Segundo o vice-reitor:
“Buscamos estruturar um grande ecossistema transformador de vidas, não só dos alunos, mas também de professores e de colaboradores em geral”
A inovação, por sua vez, tem um papel de destaque nessa estrutura que ele chama de ecossistema. Embora o primeiro software de gestão acadêmica tenha sido adquirido em 2013 (enquanto muitas instituições já utilizavam o recurso), esse passo foi fundamental para o UNIFAA enxergar a importância da digitalização.
“Começamos a ter um novo olhar sobre a educação mediada pela tecnologia. Entendemos que era o caminho que deveríamos seguir”, diz.
Houve, portanto, uma transformação cultural, um processo vivo e contínuo, que alia o investimento em recursos inovadores ao treinamento de todas as equipes, uma representação fiel do conceito lifelong learning. “Formamos um time de pessoas adaptáveis, inovadoras e criativas, reunidas sob um forte propósito de transformar vidas pela educação”, afirma o vice-reitor.
E olha só o resultado disso tudo: a instituição foi uma das primeiras do Brasil a solicitar o processo de credenciamento de cursos a distância, disponibilizados a partir de 2018 (com nota máxima do Ministério da Educação).
Para se ter uma ideia, o volume de alunos inscritos na modalidade cresceu 675% ao longo desses anos, chegando a mais de 1.600 mil em 2021. “Unimos educação, tech, data e ágil, colocando as pessoas no centro do processo”, ressalta o vice-reitor.
Foi essa experiência que viabilizou e facilitou a criação de cursos na modalidade Prime Act On, em 2020 (hoje com mais de 500 matriculados). “Neste novo contexto lançamos novas modalidades, sentimos uma necessidade contínua de ampliar e acelerar a transformação digital“, pontua.
Para isso, a instituição decidiu criar uma gerência de novos negócios e inovação, que se dedica a analisar ferramentas e estratégias adequadas. Também foi estruturado um comitê centrado nesses assuntos para que a adoção de tecnologias seja transversal.
Esse investimento contínuo, aliás, foi fundamental no contexto pandêmico. “Chegamos em 2020 mais preparados. Tínhamos todas as ferramentas disponíveis, que nos permitiram oferecer aulas 100% remotas (e bem estruturadas) em uma semana após o decreto estadual que determinou o fechamento das instituições de ensino para o público. Conseguimos reunir competências importantes para darmos uma resposta rápida a um momento tão desafiador”, diz.
Hoje, o UNIFAA enxerga a tecnologia como um importante instrumento mediador do processo de ensino-aprendizagem. Ou seja, é uma camada facilitadora, capaz de abranger mais pessoas (há estudantes em mais de 340 cidades do Brasil), dar agilidade aos processos e contribuir para que os alunos sejam protagonistas dos seus percursos. É como se fosse uma alavanca para a autonomia.
Além disso, tais recursos ajudam a aproximar as pessoas, um dos pilares do Centro Universitário de Valença. “Mantemos uma relação muito próxima, em todos os aspectos. Criamos uma série de rituais que conectam todos os envolvidos”, diz o vice-reitor.
Um deles é a sessão de acolhimento, um grande encontro para a apresentação da infraestrutura e das equipes (até as famílias são convidadas para tornar o ambiente mais acolhedor). “Chamamos de batismo no nosso ecossistema.”
Em seguida, a instituição apresenta as ferramentas disponíveis, tais como aplicativos, plataformas e canais de comunicação. Todas têm um papel muito importante: ouvir as opiniões dos alunos ao longo de todo o percurso acadêmico, reunindo dados que orientam a realização de melhorias focadas na Customer Experience (UX).
Ou seja, além de oferecer metodologias ativas, o mindset da instituição foi inteiramente voltado ao protagonismo dos alunos. Colaboradores de todos os setores são treinados constantemente para compreender as necessidades de cada um.
“Qualquer decisão ou iniciativa que iremos tomar, pensamos primeiro no estudante. Utilizamos o Customer Centricity”
Segundo o vice-reitor, trata-se de um projeto contínuo e minucioso, que faz parte do reposicionamento estratégico desenhado para o centro universitário.
Outra preocupação do UNIFAA é a constante atualização das infraestruturas físicas. Os espaços pedagógicos são remodelados conforme a adoção de novos recursos digitais e reformulações nas práticas pedagógicas.
A sala de aula, por exemplo, foi pensada para estimular o trabalho colaborativo e a autonomia. “Tal premissa também sustenta a criação de espaços fora do prédio principal, como a biblioteca, que será inaugurada no final de 2021. Buscamos fazer melhorias para que nossos ambientes, sejam eles virtuais ou físicos, estejam coerentes com as políticas pedagógicas”, diz José Rogério.
Com mais de 50 anos de tradição no ensino, o UNIFAA deu um importante passo em 2014, quando decidiu pleitear a migração para Centro Universitário. Foi um passo estratégico, uma vez que tal configuração assegura a autonomia necessária para a abertura de cursos.
Essa mudança exigiu ainda um trabalho de reestruturação. “Foi aí que começamos a repensar a nossa atuação. Queríamos que ela estivesse cada vez mais voltada à construção do futuro que desejávamos ter. Criamos, então, uma nova cultura”, comenta José Rogério.
A chancela saiu em 2019 (e com nota máxima do MEC). De oito cursos, então, foi possível expandir para 20, uma semana depois. Os ganhos em velocidade foram enormes, bem como em variedade de opções para os alunos. “Era a flexibilidade que precisávamos para enfrentar o mercado.”
Foi o suficiente para o volume de estudantes quadruplicar desde então e a oferta de cursos crescer exponencialmente (hoje são 11 presenciais, 9 semipresenciais, 25 a distância, 20 pós-graduações presenciais e 70 na modalidade a distância).
“Conseguimos criar um portfólio completo na área da saúde e ainda expandir para outras áreas, como arquitetura, engenharia, administração e ciências contábeis. Temos opções para todas as áreas do conhecimento”
De acordo com o vice-reitor, cada novo curso é estruturado e lançado depois de uma pesquisa de mercado, que aponta tendências e possibilidades, seguida de uma avaliação realizada pelo conselho universitário do UNIFAA.
Em relação à infraestrutura, além dos três campi em Valença (Sede, Saúde e Hospital Veterinário), há mais dez polos de apoio à modalidade Prime On distribuídos entre a Região Serrana e Médio-Paraíba, no Rio de Janeiro, que permitem atender estudantes de outras localidades.
A preocupação com o desenvolvimento local também faz parte da filosofia do Centro Universitário de Valença. Ao possibilitar o desenvolvimento das competências necessárias para a transformação das pessoas, mais profissionais capacitados passarão a empreender ou atuar nos negócios regionais. “Estamos expandindo as nossas fronteiras, construindo valores”, diz José Rogério.
Um exemplo é o lançamento, em 2022, de uma escola de tecnologia, que já nascerá totalmente digital. Seu objetivo é oferecer cursos livres e profissionalizantes, voltados à inserção no mercado de trabalho, para formar desenvolvedores e programadores.
Além de ser uma iniciativa que irá ampliar a capacidade de atuação do UNIFAA, José Rogério acredita que possui um potencial enorme para a economia local. “É uma importante semente para evolução regional, um potencializador para a geração de startups e novos negócios.”
Outro benefício é justamente elaborar uma metodologia proprietária consistente, que irá contribuir significativamente para chancelar cursos superiores voltados ao setor.
“É um projeto que conecta todos os nossos princípios e valores, oferecendo uma educação transformadora, um desenvolvimento permanente e a universalização do ensino. Queremos ser protagonistas na construção do nosso futuro”
Aliás, na opinião do vice-reitor, cumprir esse papel com consistência está totalmente ligado ao que defende o professor Gary Hamel, da London Business School. Segundo ele, “a inovação é a única garantia contra a irrelevância”.