Há um tempo contamos aqui na plataforma a história da economista Carolina Dassie, que trabalhou por cerca de 10 anos no mercado financeiro, até que começou a sentir vontade de realizar algo mais. “Até então, eu apenas cumpria meu papel como funcionária, não sentia que tinha um impacto real. Eu queria efetivamente melhorar a vida das pessoas”, lembra.
Observando que seus colegas tinham dificuldade de comer lanches saudáveis no dia a dia do trabalho, surgiu a ideia para começar o seu negócio, a Hisnëk. Mas durante essa trajetória ela identificou uma demanda reprimida na área da saúde mental, e resolveu pivotar o seu negócio.
Como começou a empresa?
A Hisnëk nasceu com o foco de ajudar as pessoas nessa refeição do meio da tarde, para que comecem bem e com praticidade. Sem gordura trans, hidrogenada, sem aditivo químico tóxico, com sódio, açúcar e gordura controlado, os 22 snacks chegavam uma vez por mês em qualquer lugar do Brasil. As caixas poderiam ser entregues para indivíduos ou como planos de empresas, mas sempre em um pagamento por assinatura.
Há algum tempo a empresa mudou o foco. Conte-nos como foi essa transição para a área de saúde mental.
No final de 2017, começo de 2018, houve muita procura das empresas pelos snacks para os colaboradores. Assim, criamos um produto para o corporativo chamado Snack Corp que, por meio de uma mensalidade, oferecia aos colaboradores desconto nas caixas de snacks além de acesso a uma nutricionista via e-mail ou whatsapp.
Porém, no contato com as áreas de Recursos Humanos, fui percebendo o quanto a saúde mental era um assunto crucial para as empresas. O ano de 2017, por exemplo, fechou com 175 mil pessoas afastadas por esse motivo, segundo o INSS. Além disso, a OMS indicou que a depressão será o problema que mais vai incapacitar colaboradores no mundo no próximo ano. Porém, os RHs têm muita dificuldade para lidar com esses problemas, não por incompetência, mas por esse ser um tema tabu.
Para melhorar esse cenário, a Hisnëk pivotou. Era necessário um intermediário para os colaboradores ficarem confortáveis para falar sobre sua saúde mental, pois raramente era desejado que o assunto chegasse ao RH. Foi, então, criado a Robô IVI, inteligência artificial capaz de conversar com os colaboradores e entender o comportamento deles. Com isso, cria-se um relatório mensal que analisa se as ações de bem-estar promovidas pela Hisnëk foram eficazes. A inteligência artificial também é capaz de oferecer conteúdos específicos para as necessidades de cada colaborador com especial foco a Síndrome de Burnout (distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico, resultante de situações de trabalho desgastante). Os snacks ainda se mantém, mas de maneira não impulsionada.
Assim, passamos a atuar em três frentes: uma, a nutrição e a alimentação, para prevenir e controlar doenças crônicas; outra, a saúde mental, focado na prevenção da Síndrome de Burnout; e por fim a saúde física, criando sugestões de treinos acessíveis e garantindo orientação profissional individual.
Nesse processo, nossa maior dificuldade maior é envolver os colaboradores a usar uma solução que ajude nesse tema tabu. Além disso, temos o desafio da tecnologia, desenvolvida para melhorar cada vez mais o engajamento dos colaboradores.
Como funciona a Hisnëk atualmente?
Somos uma startup de health tech especializada em saúde mental e bem-estar. Desenvolvemos nossa própria metodologia HNK – Wellness – aplicada nas áreas de saúde mental, física, emocional e social para ambientes corporativos e pacientes oncológicos. Nos ambientes corporativos melhoramos os índices de qualidade de vida, produtividade, sinistralidade, absenteísmo (ausências ou atrasos no trabalho) e Burnout. Com os pacientes oncológicos nos aprimoramos na qualidade de vida relacionado a saúde durante a jornada de tratamento.
Como tem sido essa nova etapa?
Tem sido incrível. Usamos uma inteligência artificial para aumentar o contato humano, estamos descobrindo maneiras tecnológicas de criar um acolhimento personalizado. Sinto que fazemos a diferença.
O fato de estar localizada no CUBO ajudou a entrar no universo da tecnologia?
Estar no CUBO ajudou demais, pois fico em contato com um ambiente que estimula constantemente o desenvolvimento de tecnologias. Isso foi fundamental na criação da Robô IVI. Acredito que essa mudança e a transição para o novo mercado e a criação da tecnologia aconteceram com tanta rapidez, em parte por estar dentro do CUBO.
Quais as principais lições que você tirou da sua história empreendedora, desde que começou, em 2014?
Em primeiro lugar, tenha uma escuta muito ativa. É assim que conseguimos entender as necessidades do mercado e de nossos clientes. Foi dessa forma que tive a chance de tornar a Hisnëk um produto de maior impacto.
Em segundo, sempre teste. Faça um produto pequeno, deixe rodar um pouco e depois o melhore. Se existe uma ideia que pode ser lançada pequena, lance-a o quanto antes para depois melhorar. Não lance algo muito redondo, as coisas podem não sair como imaginado. Se a ideia já fica minimamente de pé, faça-a, para depois entender onde alocar melhor os gastos. Assim, é possível testar economizando tempo e dinheiro. Não há problema em errar, mas erre rápido gastando pouco.
Qual foi a sua maior conquista até aqui?
Conseguir montar um time conciso para desenvolver cada vez melhor o produto da Hisnëk. Parece trivial, mas montar um time não é fácil. Só com o tempo conseguimos ter as pessoas certas nas melhores posições para errar rápido, entender as necessidades de mudança e melhorar cada vez mais nosso produto.
Leia também: A Hisnëk vendia snacks por assinatura. Agora, é uma healthtech que promove a saúde mental no escritório
Qual é o seu sonho?
O meu sonho é poder olhar para trás e ver que conseguiu ajudar muita gente. Quero sentir que efetivamente melhorei a saúde mental colaborando na identificação dos grupos de risco. Se conseguir auxiliar as pessoas a terem um tratamento resolutivo para não chegar a problemas crônicos de saúde metal, estarei feliz. Para isso, precisamos desenvolver ainda mais o produto e nos internacionalizar, quebrar as barreiras do país.
Se pudesse voltar no tempo e refazer uma decisão, corrigir algum momento de sua trajetória, o que seria?
Eu não mudaria nada. Eu errei muito, mas cada erro foi um aprendizado essencial para fazer o certo. Eu não teria, por exemplo, entendido o valor de ter uma tecnologia própria se não tivesse ela terceirizada antes. Dessa forma pude ver o trabalho necessário e como é importante desenvolvermos o máximo de produtos in house (na própria empresa) e, assim, implementarmos nosso DNA logo de início.
Se pudesse dar apenas uma dica para quem está querendo empreender, qual seria?
Crie algo que você realmente acredite. Algo que faça a diferença no mundo e que você identifique muito, pois é difícil empreender. É necessário resiliência e, para sustentá-la, é preciso grande confiança, paixão e crença no seu trabalho. É necessário ter certeza de que está fazendo a diferença, caso contrário, a chance de desistir é alta.
Quais seus planos para o futuro?
Pretendo manter um time conciso em que todos cresçam juntos em um ambiente de trabalho alegre. Desejo fazer a diferença na vida dos colaboradores expandindo a solução para novas empresas. Assim, ajudaremos cada vez mais pessoas na luta contra essa doença invisível que é a mental.
Para saber mais:
O que faz: Startup que desenvolve uma inteligência artificial, a Ivi, de bem-estar e de suporte para saúde mental dos colaboradores.
Sócios: Carolina Dassie, CEO
Funcionários: 10 funcionários
Sede: Cubo-Itaú
Início das atividades: 2014
Investimento inicial: Duas rodadas totalizando R$ 600 mil de investidores anjo
Contato: [email protected]
Esta matéria pode ser encontrada no Itaú Mulher Empreendedora, uma plataforma feita para mulheres que acreditam nos seus sonhos. Não deixe de conferir (e se inspirar)!
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