O Brasil tem hoje milhões de pessoas em algum nível de insegurança alimentar. Em outras palavras: literalmente passando fome. Uma pesquisa divulgada pelo FGV Social com base em dados do instituto Gallup World Poll diz que, em 2021, eram cerca de 77 milhões de pessoas, ou seja, 36% da população brasileira. Quem trabalha no setor de alimentos deveria ter estes dados martelando na cabeça todos os dias – principalmente antes de de jogar fora um único grão de arroz. Entretanto, não é assim que funciona. O Brasil é campeão de desperdício de comida – e um dos motivos é que nem toda empresa sabe o que fazer e para onde mandar excedentes de produção.
É aí que entra a Infineat, a primeira filantech do Brasil. A empresa une as pontas e coloca todo mundo em contato: primeiro, faz a gestão dos alimentos que seriam descartados por restaurantes, supermercados e indústrias; depois encaminha isso a uma plataforma que contém uma rede de instituições parceiras; coordena a coleta dos produtos e, por fim, garante a entrega diária de refeições frescas a quem mais precisa.
“Nós unificamos o processo inteiro para as duas pontas. É um formato inteligente e efetivo, pois conseguimos um processo padronizado, com toda governança adequada de dados, impacto e informações afins. Esta é uma dor muito evidente no setor alimentício, principalmente mercados e restaurantes, que enfrentam muita dificuldade de fazer essa gestão”, explica Alexandre Vasserman, CEO da empresa.
Como resultado, a Infineat já conseguiu salvar 1.100 toneladas de alimentos e complementar 1,86 milhões de refeições. Ao todo, são R$ 11,15 milhões em valor de produtos redirecionados desde o início da operação em 2021.
Ao ajudar as empresas a lidar com o problema do desperdício, a Infineat oferece um serviço inovador que pode potencializar a agenda ESG de quem precisa descartar alimentos que ainda estão aptos ao consumo.
“Fazemos o ESG raiz, pois lidamos estruturalmente em todas as áreas que fazem parte da agenda. No social, o impacto é direto na vida de milhares de pessoas que recebem os alimentos, como meio ambiente, evitamos que alimentos em boas condições sejam enviados para lixões, aterros ou incineração. Já na governança, possibilitamos a unificação dos dados e visibilidade do impacto que está sendo gerado”.
Até mesmo o impacto financeiro pode ser relevante para quem opta por cuidar da gestão de desperdício alimentar de forma sistematizada. De acordo com o empresário, o retorno proporcionado às empresas é alto, uma vez que economizam com o descarte do resíduo orgânico, que tem o custo por quilo bem mais alto que outros tipos de materiais.
“O conceito de filantech surgiu com o propósito de gerar uma revolução no setor filantrópico, reforçando a atuação de causas que já existem e que não conseguem alavancar, ampliando seu poder de ação e de impacto”, explicou Vasserman.
Desde a faculdade de administração de empresas com ênfase em sustentabilidade na Fundação Getulio Vargas, em São Paulo, o empresário sonhava em trabalhar com impacto social. Após uma temporada de um ano em Israel, Vasserman entendeu como conectar tecnologia para escalar soluções de problemas socioeconômicos estruturais.
“Colocar a comida na mesa de quem precisa com uma visão de modelo de negócios e dar uma nova roupagem para o terceiro setor são meus propósitos. Uso todas as oportunidades que tive na vida até agora para trazer uma nova visão para o setor, alinhando os pontos de impacto social, ambiental e financeiro”.
Atualmente a Infineat trabalha com duas formas de financiamento: capital social privado de grandes filantropos e a parceria com empresas, onde oferecem projetos customizados para conter o problema do desperdício.
“Para cada real investido na operação, cerca de 15 reais em valor de produtos são resgatados e entregues às instituições assistidas. É uma estratégia onde todos os elos se beneficiam, pois ajuda a solucionar uma das problemáticas sociais mais urgentes, que a é fome. Além disso, proporcionamos uma nova abordagem de como construir negócios”.
“Ao enfrentar o combate à fome, uma cadeia inteira começa a ser mudada. Desde os colaboradores, que, por meio de treinamentos, passam a se sensibilizar com a questão do desperdício, até mesmo quem investe nossa operação. Todos passam a ser agentes de transformação”.
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