Verbete Draft: o que é Agroecologia

Isabela Mena - 15 maio 2019
Não confunda Agroecologia com agricultura orgânica. Esta última pode ser praticada em larga escala, ser uma monocultura, utilizar a mecanização, vender por preços acima do mercado etc.
Isabela Mena - 15 maio 2019
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Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…

AGROECOLOGIA

O que acham que é: O mesmo que agricultura orgânica.

O que realmente é: Agroecologia é uma área de atuação multidisciplinar que adota conceitos e princípios da ecologia na agricultura e de justiça social e econômica nas formas de produção e comercialização. Nesse mesmo sentido, é um setor de estudo acadêmico.

Alguns princípios ecológicos que permitem o desenho de agroecossistemas sustentáveis são, por exemplo, utilização de técnicas de controle de pragas com plantas repelentes ou ervas medicinais e a criação de barreiras vivas com plantas que possam impedir a entrada de vento ou de insumos químicos de uma propriedade vizinha.

Janaina Fragoso, diretora do Instituto IBI de Agroecologia e mestre em Agroecologia pela Universidade de Córdoba, na Espanha, diz que o manejo da produção é feito em harmonia com o meio ambiente, seguindo os princípios da floresta e da natureza. “A Agroecologia ajuda a recuperar o solo e permite o aumento e a conservação da biodiversidade, não apenas de espécies vegetais mas de animais também.”

Outra característica da Agroecologia é sua produção majoritariamente feita por famílias, em pequena escala e com diversidade de culturas. Segundo Fragoso, a prática é uma forma de geração de trabalho e de renda no campo. “Além disso, é comercializada por valores justos. Dessa forma, está alicerçada em três pontos: o ambiental, o social e o econômico.”

Agroecologia e a agricultura orgânica não são a mesma coisa. Esta última pode ser praticada em larga escala, ser de monocultura, totalmente mecanizada, explorar mão de obra, ser vendida por um preço fora do mercado, visar lucro alto ou ter objetivos intensamente capitalistas — todos valores opostos aos que constituem a chamada Agroecologia.

Quem inventou: A autoria do termo agroecology é creditada ao agrônomo norte-americano Basil Bensin, que o utilizou em uma publicação científica, em 1928, ainda apenas como aplicação da ecologia na agricultura.

No final dos anos 1970, o conceito começou a incorporar elementos sociais e tomar a forma atual. Fragoso conta que era uma resposta às manifestações da crise ecológica no campo, com todo o pacote da revolução verde.

“A Agroecologia nasceu para analisar fenômenos como a relação entre as pragas e as plantas cultivadas e, pouco a pouco, foi se ampliando para uma concepção da atividade agrária mais relacionada com o meio ambiente, mais equilibrada socialmente e preocupada com uma sustentabilidade a longo prazo. O enfoque afeta e agrupa vários campos de conhecimento.”

Dois pesquisadores de bastante relevância no conceito atual são o chileno Miguel Altieri e o norte-americano Stephen Gliessman.

Para que serve: Além de preservar e ajudar a recuperar o meio ambiente, a Agroecologia melhora a qualidade de vida das pessoas envolvidas, tanto a dos pequenos produtores rurais quanto a dos consumidores, que ganham acesso a alimentos sem agrotóxico e a preços mais justos.

“É cada vez mais uma ferramenta muito potente não só de produção de alimentos e conservação da biodiversidade, mas de geração de renda e nova lógica de cadeia produtiva”, afirma Fragoso.

Quem usa: A Agroecologia é praticada e estudada na maior parte do mundo. No Brasil, de acordo com Fragoso, dentro dos movimentos como o da reforma agrária, quilombolas e indígenas. “São movimentos sociais que têm uma visão do fortalecimento da autonomia dos produtores”, diz.

Aqui no Draft já contamos a história da Kiro, bebida que leva gengibre fornecido por produtores agroecológicos, principalmente de comunidades quilombolas do Vale do Ribeira, e pela Cooperapas (Cooperativa Agroecológica dos Produtores Rurais e de Água Limpa da Região Sul de São Paulo); da Quitandoca, mercado que comercializa produtos agroecológicos de agricultoras quilombolas atendidas pela Sempreviva Organização Feminista (SOF), que fomenta a formação de grupos para comercializar a produção de agricultoras do Vale do Ribeira (SP); e da Escola Brasileira de Ecogastronomia (EBÉ), que é também um empório que vende produtos agroecológicos.

Quem é contra: Parte do setor do agronegócio, cujo investimento está na monocultura (como a da soja) e na automação, e produtores de alimentos convencionais (que levam agrotóxico).

Para saber mais:
1) Leia, no The Guardian, European farms could grow green and still be able to feed population.
2) Leia, na Business Insider, Eco-farming can solve hunger and climate crises, experts say.

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