Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…
BOOTSTRAPPING
O que acham que é: Ato de puxar as alças laterais de uma bota para calçá-la.
O que realmente é: Bootstrapping é o ato de se criar de uma startup com recursos apenas do próprio empreendedor, sem a participação de investidores. Em alguns casos, há capital proveniente das primeiras vendas ou serviços gerados pelo próprio negócio.
O conceito é passível de algumas variações como, por exemplo, a adição de “muito esforço do empreendedor” em contraposição à falta de dinheiro; a condição de que não seja herdeiro de bens familiares; a necessidade de que o negócio seja feito na internet; a possibilidade, desde que a quantia seja mínima, de investimento externo.
Isso pouco ou nada muda a ideia central do Bootstrapping: uma pessoa sozinha constrói algo (do zero) mais na raça do que na grana. Dessa forma, o conceito é aplicável a diversas áreas.
No ganho: O Bootstrapping dá ao empreendedor independência e autonomia sobre o próprio negócio, livrando-o de retornos e reports a investidores, o que pode gerar perda de foco no propósito inicial de empreender.
Na perda: O tempo de monetização do negócio, segundo Cláudio Carvajal, coordenador acadêmico do Centro Universitário FIAP, pode ser maior do que a necessidade de caixa para o seu funcionamento. Ou seja, há um risco de que uma boa ideia se torne ineficaz justamente por falta de recursos. “O ponto a ser trabalhado pelo empreendedor neste caso, é se preparar com capital próprio de investimento que permita suportar a startup sem monetização por um período maior do que nos planos de negócios usuais”, afirma.
No processo: Para a Foundr Magazine, o que mais há no mercado são pessoas tentado fazer Bootstrapping por falta de grana. Mas o processo pode ser intimidador. Por isso eles reuniram depoimentos de 11 empreendedores (link no item “Para saber mais”), com dicas e ensinamentos para quem está ou quer encarar o processo.
Dois artigos publicados mês passado, “Bootstrapping Isn’t For Everybody, But Is It For You?”, na Forbes, e “Self-Made Is Well-Played: Why Bootstrapping Is the Way To Go For Entrepreneurs”, no Entrepreneur, trazem um panorama bem amplo — e positivo — do Boostrapping em relação ao mercado sem, contudo, deixar de ser realista. Valem a leitura.
Ambos os links estão no item “Para saber mais”.
No dicionário: Originariamente, bootstraps são pequenas alças feitas de tiras de tecido e costuradas na parte traseira ou lateral de botas que, ao serem puxadas para cima, facilitam o calçamento. A palavra foi criada na primeira metade dos anos 1800 e, assim como o acessório que nomeia (colocado também em alguns modelos de tênis), continua usual nos dias de hoje.
Na cultura: Ainda em meados do século XIX, o verbete literal gera uma expressão idiomática: To pull (oneself) up by (one’s) bootstraps, em tradução livre, algo como “levantar uma pessoa pelas alças da sua bota”. A ideia era apontar atos ou esforços não factíveis, impossíveis a ponto de beirar o ridículo.
Mas no século XX, a partir de uma passagem escrita por James Joyce em Ulisses — “There were … others who had forced their way to the top from the lowest rung by the aid of their bootstraps” — o dito passou a ter sentido oposto e ser autoaplicável. A informação é do dicionário inglês Oxford (OED) e está no texto “Why The Phrase ‘Pull Yourself Up By Your Bootstraps’ Is Nonsense”, do HuffPost (link no item “Para saber mais”).
O texto é de 2018 e está ligado ao uso da expressão no contexto sociopolítico norte-americano, já que levantar a si mesmo pelas alças da própria bota representa a figura do self-made man, da pessoa que sai do nada e constrói um império por esforço e mérito próprios, sem uso de quaisquer auxílios governamentais.
Há pouco menos de um mês, em um encontro na Câmara dos Representantes, a congressista americana Alexandria Ocasio-Cortez disse que essa ideia é uma piada. A fala completa está no texto “’It’s a physical impossibility to lift yourself up by a bootstrap’: Alexandria Ocasio-Cortez argues everyone needs help to succeed”, da Business Insider (link no item “Para saber mais”).
Quem também já criticou a expressão foi o então senador Barack Obama, em 2008, em discurso na Convenção Nacional Democrata em que aceitou concorrer à presidência dos Estados Unidos. O New York Times publicou a transcrição do discurso.
Na tecnologia: Em linhas gerais, Bootstrapping é um processo que carrega e executa automaticamente comandos. Não é algo só restrito à galera de TI ou nerds porque é daí também que vem o booting up — no Brasil, “dar um boot” — quando se quer iniciar o sistema operacional de um computador.
Vale dizer que Bootstrap também é o nome de um framework de desenvolvimento usado para criar sites (CSS, JavaScript, HTML). Foi criado por uma equipe do Twitter e tem código aberto desde 2011.
Para saber mais:
1) Leia, na Foundr Magazine, 11 Bootstrapping Entrepreneurs Share How They Found Business Success Without Funding.
2) Leia, na Forbes, Bootstrapping Isn’t For Everybody, But Is It For You?
3) Leia, no Entrepreneur, Self-Made Is Well-Played: Why Bootstrapping Is the Way To Go For Entrepreneurs.
4) Leia, no HuffPost, Why The Phrase ‘Pull Yourself Up By Your Bootstraps’ Is Nonsense.
5) Leia, na Business Insider, ‘It’s a physical impossibility to lift yourself up by a bootstrap’: Alexandria Ocasio-Cortez argues everyone needs help to succeed.