Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…
ECONOMIA COMPARTILHADA
O que acham que é: Um tipo de economia ligado apenas à aplicativos e tecnologia.
O que realmente é: Economia Compartilhada (do inglês Sharing Economy) é a prática de dividir o uso ou a compra de serviços facilitada, principalmente, por aplicativos que possibilitam uma maior interação entre as pessoas. “O fato das pessoas estarem conectadas e poderem ‘criar’ serviços visando lucro ou não altera muitos dos paradigmas econômicos — e nos desafia também a entender como será a economia nos próximos anos”, diz Cláudio Carvajal, coordenador do curso de Administração da FIAP e professor e consultor na área de Gestão Empresarial. Segundo ele, a Economia Compartilhada é o resultado da busca pela solução de problemas como a escassez de recursos frente ao aumento crescente do consumo em todo planeta.
Renê José Rodrigues Fernandes, professor e gerente de projetos do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV-CENN), diz que a Economia Compartilhada nada mais é do que o velho conceito de emprestar coisas e compartilhar custos, algo que as pessoas fazem há milhares de anos. “Isso não é novo nem para as pessoas nem para as empresas. No mundo empresarial, há centenas de anos os custos de uma empreitada são compartilhados por meio da união de duas ou mais companhias nas tão conhecidas joint ventures, visando redução de gastos e aumento de lucros”, diz. Segundo ele, a diferença entre passado e presente está na atual tecnologia da informação e nas redes sociais, que deram um nova roupagem para o conceito. “Antes da comunicação digital, ficávamos restritos a compartilhar custos com nosso círculo mais próximo de amigos e conhecidos. Hoje, o mundo é o limite. Podemos dividir o custo de uma viagem de carro com pessoas que nunca vimos antes, ou emprestar nossas casas para pessoas do outro lado do planeta”, afirma.
Emprestar nem sempre é o verbo mais conjugado na Economia Compartilhada e, por isso, não faltam críticas a startups que se colocam como parte dessse modelo mas, na verdade, lucram sem de fato “compartilhar” nada com os usuários (é o caso de Uber e Airbnb). Por isso surgiram os termos sharewashing e ridewashing (este último, especificamente para empresas de transporte) que significam “revestir de outro significado” o compartilhamento ou a carona (também chamados de “contra-termos”). No ano passado, a Vice publicou o texto The Problems with ‘Sharing’ em que expunha essa crítica. Em janeiro deste ano, a Harvard Business Review fez o mesmo no artigo The Sharing Economy Isn’t About Sharing at All. (Em breve faremos um Verbete sobre o assunto).
Quem inventou: Não existe um inventor.
Quando foi inventado: O conceito de Economia Compartilhada é quase tão antigo quanto humanidade. O termo, contudo, passou a ser utilizado mais frequentemente após os anos 2000 em função do desenvolvimento das tecnologias da informação, juntamente com o crescimento das redes sociais. “Isso proporcionou o surgimento de plataformas online que possibilitaram o compartilhamento de informações, em um primeiro momento, com os exemplos clássicos dos software livres, passando pela Wikipedia e outros sites de compartilhamento de conhecimento, chegando, ao longo da última década, no compartilhamento de bens e serviços que conhecemos atualmente”, diz Fernandes.
Para que serve: Para diminuir gastos na aquisição ou uso de algo para dois ou mais indivíduos. “Há também outros benefícios, como a contribuição para a redução do impacto ambiental, o aumento do uso consciente e a maior oportunidade de acesso a determinados bens e serviços”, diz Fernandes, da FGV. Já Carvajal acredita que a Economia Compartilhada sirva também como ferramenta de empoderamento e libertação. “As pessoas podem manifestar sua opinião, criticar governos, empresas, produtos e serviços, com um poder de impactar outras pessoas em qualquer parte do mundo. Isso nunca foi possível na história da humanidade, e transformará o mundo”, afirma o professor.
Quem usa: Todos nós somos potenciais participantes da economia compartilhada. Desde pessoas que compartilham a furadeira com vizinhos de forma convencional (tocando a campainha) como as que usam a internet para o mesmo fim — o site brasileiro Tem Açúcar propõe exatamente isso. Os exemplos mais conhecidos, hoje, estão nos ramos de hospedagem e transporte e os ícones são os já citados Uber e Airbnb mas há outros exemplos, como o Bliive (troca de tempo livre), o PetRoomie (espécie de Airbnb para pets) e o Bike Anjo (que ensina a andar de bicicleta na cidade) para citar alguns de áreas diferentes.
Empresas, ONGs, governos, movimentos políticos e sociais também podem usar a Economia Compartilhada. “Ela está presente até em atividades mais complexas, como, por exemplo, empresas que dividem a compra de um helicóptero para seus executivos “, diz Fernandes. Carvajal cita gigantes da internet como Facebook, Twitter e Whatsapp dizendo que seu principal ativo é o número de usuários e seu principal poder, a capacidade de conectar pessoas. “Essas empresas valem mais do que grandes indústrias que detém a propriedade de imóveis, máquinas e equipamentos. Seus donos tiveram uma boa ideia e criaram organizações bilionárias sem recursos significativos para investir”, diz.
Efeitos colaterais: A Economia Compartilhada pode trazer os riscos inerentes à não regulação de uma atividade. “Um hotel é fiscalizado pelo Corpo de Bombeiros quanto a rotas de fuga, presença de extintores de incêndio etc. Já particulares que estão compartilhando um apartamento não estão sujeitos à mesma regulação e proteção de órgãos públicos. Para táxis, é a mesma coisa. Os carros de trabalho normalmente são sujeitos a inspeções constantes e os motoristas devem ser treinados. Nas caronas, não temos a mesma garantia”, diz Fernandes. Segundo o professor da FGV, há elementos que diluem esses riscos como o a possibilidade do usuário de um aplicativo avaliar negativamente um mau motorista e, assim, avisar outras pessoas e melhorar o serviço.
Quem é contra: Órgãos reguladores, pelos motivos acima, e indústrias tradicionais, por se sentirem ameaçadas. “Qualquer empresa ou setor que tenha seu modelo de negócios impactado pela Economia Compartilhada pode ser contra. Podemos citar como exemplo a polêmica com relação ao uso do Uber em São Paulo e outras cidades do mundo. Como ele representa uma nova concorrência para os taxistas e empresas de táxis, a categoria é contrária”, diz Carvajal, da FIAP. Fernandes diz que alguns críticos têm sido enfáticos ao dizer que a Economia Compartilhada com cobrança de uso nada mais é que outra forma de comercialização de bens e serviços inserida dentro de uma mesma lógica capitalista. “O que a internet estaria possibilitando agora seria apenas o aluguel ou venda de bens e serviços em microescala”, afirma.
Para saber mais:
1) Leia, na Business Insider, The sharing economy has changed everything, and these 10 companies are at risk, sobre grandes empresas tradicionais como Volkswagen, Ryatt Hotels e Santander que estão sendo verdadeiramente abaladas pela Economia Compartilhada.
2) Assista aos TEDx Creating Opportunity Through the Sharing Economy, de Emily Castor, do Lyft, app de caronas e The Sharing Economy, de Kurt Abrahamson, CEO da ShareThis, que compartilha ‘social intelligence’.
3) Leia, na Forbes, o artigo Affluent Millennial Travelers Embrace The Sharing Economy, sobre a importância e influência da Geração Y na Economia Compartilhada.
4) Leia e assista, no TAB UOL, Compartilhe-se, um apanhado detalhado sobre o tema.