Verbete Draft: o que é Femtech

Isabela Mena - 12 dez 2018
No século 21, a criação de um termo próprio para startups focadas em mulheres não significa tanta evolução, já que o mercado deveria ser pensado igualmente para ambos os gêneros (foto: Elvie/Reprodução).
Isabela Mena - 12 dez 2018
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Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…

FEMTECH

O que acham que é: Fintechs para mulheres.

O que realmente é: Femtech é um termo criado a partir da junção dos prefixos de female e technology para designar o mercado que utiliza tecnologia avançada e disruptiva (como Inteligência Artificial, machine learning, Big Data e Internet das Coisas) e muitas vezes interativa para a saúde e bem estar da mulher. Aplicativos que gerenciam o ciclo menstrual e detectam o período fértil (entre outros features) são o que há de mais conhecido na área, mas ela compreende também gadgets (como um fortalecedor de assoalho pélvico); wearables (como bomba para tirar leite materno colocada dentro do sutiã e pulseira que mede taxa hormonal); produtos e serviços que inovam tecnologicamente na matéria-prima e, consequentemente, no uso (como teste de gravidez sem plástico que pode ser jogado dentro da privada, sem risco de indiscrição, e absorvente em forma de disco flexível que pode ser usado durante o sexo).

Segundo a ginecologista integrativa Luciana Gandra, as Femtechs são ferramentas tanto de saúde física como mental, psicológica, sexual e social. “Elas entram na onda do autoconhecimento e as mulheres têm mais facilidade em compartilhar sua intimidade, dissertar sobre sua vida reprodutiva e sexual. Este é um dos motivos por que têm tido grandes investimentos”, afirma. Em janeiro deste ano, a consultoria Frost & Sullivan publicou o estudo Femtech —Time for a Digital Revolution in the Women’s Health Market, no qual estima que as Femtechs podem atingir 50 bilhões de dólares até 2025.

Quem inventou: O termo foi cunhado pela empreendedora dinamarquesa Ida Tin, fundadora e CEO de uma das primeiras e mais conhecidas Femtechs do mundo, a Clue, do aplicativo de controle menstrual e de ovulação de mesmo nome.

Quando foi inventado: A Clue foi fundada em 2013. Em vídeo postado no YouTube em 2016, Tin fala que a expressão Femtech segue o mesmo raciocínio da palavra fintech (criada a partir da junção dos prefixos das palavras financial e technology), utilizada para designar uma categoria de startups focada na área financeira.

Para que serve: Em linhas gerais, para auxiliar mulheres no gerenciamento de sua saúde, facilitar sua vida, estreitar sua relação com seu corpo. De acordo com Gandra, quanto mais uma mulher conhece seu funcionamento, melhor será o proveito que poderá tirar de sua natureza cíclica. “É possível adaptarmos nossa alimentação e até nossos treinos de acordo com as fases do ciclo menstrual, por isso, podem ser de grande ajuda os aplicativos que os organizam”, diz. Para a nutróloga Patrícia Savoi, a acessibilidade é um dos maiores benefícios das Femtechs. “Ter à mão um aplicativo que reúne diversas informações sobre a saúde da pessoa pode ser importante em muitos momentos.”

Há diversos apps que funcionam como agenda de ciclo menstrual e, baseando-se nesses dados, detectam o período fértil e a data da próxima menstruação. Quanto mais informação a usuária coloca (se teve cólicas, dor de cabeça, sintomas de TPM, libido aumentada ou diminuída etc.), mais o aplicativo “conhece” a usuária e torna-se acurado, dependendo dos features que oferece. O Clue, como já dito, é um dos mais conhecidos, mas há também o Woom e o Period Tracker, entre outros. O Moody, como o nome indica, foca na questão das alterações de humor; o Dot e o Flo focam em quem quer engravidar. O My Pill é um app para quem toma pílula anticoncepcional.

Dentre os gadgets que são também wearables há a Ava, uma pulseira que mapeia hormônios, usada também por quem quer engravidar (mas não só) e a Elvie Pump, um bomba de tirar leite materno que pode ser usada dentro do sutiã (é silenciosa). Já o Elvie Trainer é um dispositivo intravaginal para o fortalecimento do assoalho pélvico (por meio dos chamados exercícios de Kegel) que evita a incontinência urinária (além de melhorar o prazer sexual da mulher). Lia é um teste de gravidez feito de um material que se dissipa na água (como papel higiênico) e, como pode ser jogado na privada, torna-se 100% discreto (é 99% confiável no resultado). Já o Flex é um absorvente menstrual em forma de disco flexível (feito de um composto de polímeros) que não é colocado no canal vaginal e, por isso, pode ser usado durante o sexo.

Quem usa: Mulheres em qualquer faixa etária, dependendo do que procuram, e sistemas públicos de saúde. É o caso do NHS, na Inglaterra, que este ano fez uma parceria com a empresa do Elvie Trainer, que passou a ser oferecido a pacientes com incontinência urinária. O problema afeta, estimadamente, uma entre três mulheres inglesas, o que custa 233 milhões de libras por ano para o governo. Como o Elvie Trainer custa 169 libras e reduz a necessidade de cirurgias pela metade, a economia é de 424 libras por paciente.

Efeitos colaterais: Possibilidade de falha no que se propõe. É o caso, pelo menos, do aplicativo sueco Natural Cycles, um método contraceptivo digital aprovado em vários países da União Europeia. Embora use um termômetro bastante preciso para checar em que momento do mês a mulher está em relação à fertilidade, foram reportadas falhas por muitas mulheres.

Quem é contra: Muitos investidores e empreendedores homens.

Para saber mais:
1) Leia, no The Guardian, Digital contraceptives and period trackers: the rise of femtech.
2) Leia, na Forbes, Women’s Healthcare Comes Out Of The Shadows: Femtech Shows The Way To Billion-Dollar Opportunities.

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