Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…
GROWTH MINDSET
O que acham que é: Processo de desenvolvimento baseado apenas em esforço.
O que realmente é: Growth Mindset (Mentalidade de Crescimento, em português) é o entendimento de que habilidades e inteligência podem ser desenvolvidas, já que são apenas ponto de partida para novos conhecimentos. Essa visão é um contraponto à ideia comumente disseminada, e chamada de Fixed Mindset (Mentalidade Fixa), de que estes fatores são inatos.
O Growth Mindset está diretamente ligado ao amor pela aprendizagem. Já no Fixed Mindset, de certa forma, passa-se mais tempo documentando o conhecimento do que desenvolvendo-o.
Segundo a psicóloga Renata Livramento, fundadora e presidente do Instituto Brasileiro de Psicologia Positiva, os defensores da Mentalidade Fixa acreditam que certas características permanecem iguais ao longo da nossa vida, não importa o quanto pratiquemos. “A Mentalidade de Crescimento é mais flexível e nos faz acreditar que é possível mudar e evoluir por meio da nossa dedicação e prática”, diz.
Para Gil Sant’Anna, professor e fundador da Ambamind, escola online de habilidades socioemocionais e criador do Programa de Atenção e Resiliência Acadêmica, o Growth Mindset leva as pessoas a encararem desafios, perseverarem frente a contratempos e se tornarem aprendizes mais eficazes: “A simples ideia de que nosso esforço é mais importante do que nossa inteligência natural é capaz de mudar completamente o futuro de um aluno, por exemplo”.
O Growth Mindset é um entendimento da mentalidade humana e também uma ferramenta de mudanças (por meio de estratégias que envolvem feedbacks, encorajamento e autopercepção) que pode ser aplicado tanto em crianças e jovens (em sala de aula ou fora) como em adultos. Ou seja, não se trata apenas de receber o elogio certo ou fazer esforço.
Sant’Anna diz que a mensagem da Mentalidade do Crescimento às vezes é, de fato, resumida à ideia de que “qualquer pessoa pode fazer qualquer coisa”. “Nada disso é preciso. A Mentalidade de Crescimento é sobre a crença de que alguém pode aprender e melhorar. Para ajudar a moldar os comportamentos e mentalidades, procura-se desenvolver uma cultura consistente de altas expectativas e feedback de qualidade”, afirma.
Livramento também acredita que o Growth Mindset é o resultado de um processo integrativo de desenvolvimento humano e não algo que aconteça de forma mecânica e simplista. “Há que se respeitar o tempo de cada um, as questões biológicas, culturais, sociais etc de cada pessoa. Não é uma ditadura do crescimento.”
Quem inventou: A americana Carol Dweck, professora de psicologia da Universidade de Stanford. Cerca de 30 anos atrás, ela e outros colegas acadêmicos passaram a se interessar em analisar o comportamento dos alunos que iam mal. Esse foi o ponto de partida para uma série de pesquisas que envolveram mais de mil crianças e levaram à concepção do entendimento do Growth Mindest.
Dweck é autora do livro Mindset: The New Psychology of Success, que popularizou o termo.
Quando foi inventado: Em 2012, Dweck falou pela primeira vez sobre o assunto em uma entrevista. O livro foi publicado em 2013.
Para que serve: Para desenvolvimento de potencial, conhecimento e talentos.
Sant’Anna diz que a Mentalidade de Crescimento é benéfica na educação e no ambiente de trabalho, assim como nas relações pessoais, na saúde e nos esportes: “Ela permite que as pessoas enfrentem desafios e aprendam com eles, tenham perseverança e progridam em suas vidas”.
Livramento fala que, de forma geral, pessoas com Mentalidade Fixa têm uma noção mais imediatista de fracasso e sucesso e, por isso, evitam se colocar em situações complicadas ou desafiadoras. “Com o Growth Mind, podem entender as situações difíceis como oportunidades de crescimento e aprimoramento. E quanto mais se desenvolvem, mais acreditam que podem se desenvolver, gerando um ciclo positivo e contínuo.”
Quem usa: Pode ser aplicado desde a infância até a vida adulta em escolas, empresas, em casa etc.
Em 2016, em um congresso sobre governança corporativa, a CEO da Microsoft no Brasil, Paula Bellizia, disse que o poder de aprendizado na força de trabalho é uma das ferramentas vitais para uma empresa de sucesso e que, para isso, é preciso cultivar a Mentalidade de Crescimento na empresa e descartar a cultura da Mentalidade Fixa.
Sant’Anna conta que o conceito é bastante popular entre educadores, pais e instituições ligadas ao desenvolvimento humano. “No Brasil, cada vez mais instituições de ensino estão tentando implementar essa mentalidade tanto para os alunos quanto para os professores, que precisam estar imersos”, diz.
Efeitos colaterais: Distorção do entendimento e de sua aplicação.
Uma das distorções, segundo Livramento, é que a ideia se torne uma exigência externa de crescimento contínuo. “Isso pode gerar uma série de problemas, até mesmo um adoecimento mental”, afirma.
Outra distorção, esta apontada por Sant’Anna, é demandar esforço quando as pessoas ainda estão presas na Mentalidade Fixa. “É preciso ajudá-las a encontrar outra estratégia. Caso contrário, vai haver um esforço redobrado em comportamentos ineficazes.”
Quem é contra: Sant’Anna conta que Luke Wood, professor do curso Black Minds Matter, na faculdade de educação da Universidade Estadual de San Diego, considera a abordagem incompleta e sugeriu que ela cria uma falsa dicotomia entre afirmação de esforço e habilidade, o que, de acordo com ele, prejudica o sucesso de estudantes historicamente desatendidos (particularmente meninos e homens negros). “Ele argumenta que os educadores devem afirmar tanto a capacidade dos estudantes como seus esforços, pois muitos dos estudantes de classes não privilegiadas nunca receberam nenhum elogio em relação às suas habilidades”, conta Sant’Anna.
Para saber mais:
1) Assista ao TEDx The Power of believing that you can improve, no qual Carol Dweck, criadora do Growth Mindset, descreve duas formas de pensar sobre um problema de difícil solução.
2) Leia, na Forbes, Growth Mindset: What It Is and Why It Makes Better Leaders. O texto separa em quatro tópicos o que acredita serem pontos benéficos para líderes.
3) Leia na Harvard Business Review, What Having a “Growth Mindset” Actually Means. Escrito pela própria Carol Dweck, é um bom resumo do conceito.