Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…
MAKERSPACE
O que acham que é: A mesma coisa que Hackerspace ou Fab Lab.
O que realmente é: Makerspaces são espaços comunitários (algo como ateliês, oficinas e até garagens) equipados com ferramentas (como impressoras 3D, cortadoras a laser, routers, serra tico-tico, furadeira, lixadeiras etc) de uso compartilhado para a criação de projetos, protótipos e trabalhos manufaturados. A maioria deles usa o sistema de membership, há os que aceitam usuários por hora e ainda os que abrem apenas para eventos específicos. “Os makerspaces geralmente são criados por indivíduos que se organizam de forma não muito profissional para compartilhar espaço e ferramentas, mas também por empresas, organizações associadas, escolas, universidades ou bibliotecas. O objetivo é dar acesso aos equipamentos, sendo que cada espaço tem um modelo único, que atende aos propósitos da comunidade que habita”, diz Heloisa Neves, fundadora da We Fab, consultoria maker que aplica colaboração a processos de inovação e implantação de labs, e professora do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Se você procurar por “makerspace” na Wikipedia (seja em inglês ou português), a página que aparece é a de Hackerspace porque os termos são considerados sinônimos. Porém, Heloisa diz que os primeiros hackerspaces eram um espaço compartilhado por programadores. Com o tempo eles começaram a adicionar outras áreas como a concepção de circuitos eletrônicos e criaram um modelo de acesso via filiação (membership), como num clube. “Hoje, os hackerspaces são conhecidos como clubes onde hackers (pessoas que trabalham com programação e eletrônica) se reúnem para aprender junto, trocar conhecimento e se divertir. Têm um caráter mais fechado do que os outros modelos por ser um clube mais direcionado a pessoas que já possuem um certo conhecimento e querem passar um tempo juntos para fazer projetos ou compartilhar informações, não tendo uma veia educacional muito forte ou um modelo estabelecido de acolhimento aos visitantes”, diz ela. No texto Is it a Hackerspace, Makerspace, TechShop, or FabLab?, da Make Magazine é possível perceber, já pelo título, que dois outros termos também entram na salada: TechShop e Fab Lab. Mas estes se distinguem daqueles, principalmente, por serem marcas registradas. TechShop, é o nome de uma cadeia que desde 2006 oferece acesso público à fabricação de equipamentos high-end em troca de taxas de adesão e Fab Lab (nós já contamos aqui no Draft) é um projeto do MIT, criado em 2005 por Neil Gershenfeld de quase 800 espaços de fabricação, todos com um kit standard de ferramentas (incluindo equipamentos eletrônicos básicos e também impressora 3D, cortadora a laser, cortadora de vinil, fresadora CNC grande e fresadora CNC de precisão). “Pode-se dizer que um Fab Lab é também um makerspace, mas nem todo makespace é um Fab Lab pois, para ser chamado assim, é necessário que o laboratório siga uma carta de princípios, a chamada Fab Charter. Um dos princípios mais importantes é a obrigatoriedade do espaço estar aberto ao público em geral a um custo bastante reduzido pelo menos uma vez por semana, chamado Open Day“, diz a fundadora da We Fab.
Quem inventou: O termo Makerspace já existia mas foi consolidado pelo norte-americano Dale Dougherty, co-fundador da O’Reilly Media, editora e organizadora de conferências técnicas conhecida por defender o Open Source e a Web. Dougherty, que cunhou o termo “Web 2.0” durante o desenvolvimento da Web 2.0 Conference, é fundador da Make Magazine, que levou a mentalidade do-it-yourself para a tecnologia do dia a dia. Ele é também o criador da Maker Faire, que lidera o movimento maker em Nova York, Detroit e Bay Area. Pioneiro, Dougherty é o desenvolvedor do primeiro site comercial na web, lançado em 1993 e chamado de Global Network Navigator (GNN). Em 2011, ele proferiu o TED We are makers. A imagem que abre este texto mostra o presidente Barack Obama com o garoto Joey Hudy e sua máquina que lança marshmallow, na inauguração da Mini Maker Faire em 2012, na Casa Branca.
Quando foi inventado: Em 2005, ano da criação da Make Magazine, de Dale Dougherty. Mas o termo se tornou realmente popular em 2011 quando Dougherty e a Make Magazine registraram o domínio makerspace.com e começaram a usar o termo para se referir a espaços de design e criação cujo acesso fosse público. Segundo Heloisa Neves, foi a filha (na época, uma criança) de Dougherty quem o encorajou a usar “maker” em vez de “hacker” porque acreditava que “todo mundo gosta de fazer coisas” (“everyone likes making things”). “Dale usou o termo maker também para mostrar que esses espaços de ‘fazer’ abrigavam mais do que somente programação e eletrônica, como era comum nos hackerspaces”, conta ela.
Para que serve: “Para aprender com a comunidade, compartilhar experiências, ver o que está acontecendo no universo maker e, principalmente, projetar, prototipar e fabricar coletivamente ou individualmente objetos que não seriam possíveis de serem fabricados na sua própria garagem seja por falta de ferramentas, por falta de informações sobre como fazer ou mesmo por falta de capacidade técnica, que podem ser adquiridas num makerspace”, diz Neves.
Quem usa: Tanto pessoas que tenham como hobby produzir suas próprias coisas como profissionais interessados em testar uma ideia e até crianças que queiram aprender fazendo. Também usam educadores que se interessam por novas formas de aprendizagem. Um texto do The Atlantic, publicado em abril deste ano, estima que existam cerca de 2 mil hacker e makerspaces no mundo. No Brasil, além do We Fab, há o Olabi e o ABC Makerspace. “Temos mais hackerspaces e Fab Labs do que makerspaces no país”, afirma Heloisa.
Efeitos colaterais: Alguma frustração com os resultados. “Muitos acreditam que basta estar dentro de um makerspace para que se produza qualquer coisa de forma simples, como num apertar de botão. Como se ninguém precisasse estudar para ser um designer ou um engenheiro ou gastar horas tentando entender a fundo um sistema para ser um maker “, diz Neves.
Quem é contra: Heloisa Neves diz que há pessoas que questionam a segurança no uso das máquinas e ferramentas, além de criticar o caráter lúdico para tratar questões sérias e a qualidade dos protótipos. “Nesses espaços, trabalha-se muito com um protótipo que chamamos de ‘sujo’ ou de ‘processo’ porque acredita-se que são melhores para o trabalho colaborativo”, conta. Outra crítica comum, segundo a fundadora da We Fab, é de que os makerspaces ainda são utilizados em sua maioria por homens com certo conhecimento prévio sobre o assunto. “Mas nossa tentativa é de que haja diversidade e inclusão cada vez mais”, afirma.
Para saber mais:
1) Assista ao TEDx Makerspace: Make Community, de Jamie Leben, fundador da Loveland Creatorspace, um makerspace sem fins lucrativos.
2) Fique de olho e programe-se: no ano que vem acontecerá uma edição Mini da Maker Faire, no Rio de Janeiro, e no local será feito um makerspace para adultos e crianças. O evento vem para o Brasil pelas mãos de Daniela Brayner, da Nuvem Criativa.
3) Assista ao TEDx Você ainda vai ser um Maker, de Heloisa Neves, que tem graduação no Fab Academy, em Barcelona (curso oficial da rede Fab Lab).