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Verbete Draft: o que é Play-to-Earn (P2E)

Dani Rosolen - 15 dez 2021
Algumas das criaturinhas do jogo Axie Infinity, o primeiro a adotar o modelo P2E.
Dani Rosolen - 15 dez 2021
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Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…

PLAY-TO-EARN (P2E)

O que é: Play-to-Earn (P2E) ou Jogue para Ganhar/Lucrar, em tradução literal, é um modelo de negócio que estourou recentemente no mercado de criptojogos ou GameFi (games de finanças descentralizadas) impulsionado pela aplicação do blockchain e dos NFTs neste ecossistema.

Neste modelo, o gamer obtém vantagens financeiras ao jogar, acumulando avatares (NFTs), moedas, objetos etc., à medida em que participa ativamente da evolução daquele universo. O ponto de destaque é que esses ativos digitais conquistados podem ser convertidos em criptmoedas na rede blockchain e, posteriormente, em moeda fiduciária, como real ou dólar. Mas essa transação não é tão simples assim (entenda no item “Como trocar minhas moedas”).

A lógica do P2E é simples: monetizar o tempo e o esforço de jogo. Segundo Brunno “Gujo” Portela, diretor de marketing da Final Level:

“Em jogos P2E, o jogador não precisa ser um profissional nem de uma mecânica apurada, como nos e-sports. Mas precisa de disponibilidade e de entender o valor do seu tempo, pois essa é a principal moeda de troca”

Como nasceu e como funciona o P2E: O primeiro e mais conhecido game Play-to-Earn é o Axie Infinity, um jogo de cartas colecionáveis online lançado em 2018 pelo estúdio vietnamita Sky Mavis e que opera na rede de blockchain Ethereum.

A startup, fundada em 2017, fechou há dois meses uma rodada de 152 milhões de dólares com a Andreessen Horowitz, alcançando o valuation de 3 bilhões de dólares. Atualmente, o game conta com 2 milhões de usuários ativos, sendo 40% só nas Filipinas. O Brasil tem quase 3,3% deste montante.

No Axie Infinity, cada participante joga com um axie, monstrinhos colecionáveis com diferentes características e habilidades, que batalham, cumprem missões e se reproduzem dentro do jogo. E são essas atividades que geram moedas para o jogador. Os criptoativos do jogo são as Smooth Love Potions (SLPs) e as Axie Infinity Shards (AXS).

Esta última moeda pode inclusive ser comprada e negociada em exchanges mesmo por quem não faz parte do jogo, como uma forma de investimento. Para se ter uma ideia, desde o começo do ano a AXS já valorizou mais de 29 000%. Ontem, uma unidade da moeda fechou o dia avaliada US$ 96,06

Outros jogos P2E de destaque são Alien Worlds, Cryptopop, Decentraland, Faraland, Genopets, Gods Unchained,  Illuvium, My DeFi Pet, Star Atlas, Splinterlands, REVV Racing e Upland.

Um modelo acessível e democrático? Nem tanto: Segundo Brunno, a grande maioria dos games P2E exige um investimento inicial. No caso do Axie Infinity, por exemplo, o jogador precisa comprar, de quem já está na plataforma, pelo menos três axies (cada um custa a partir de 250 dólares, dependendo de sua complexidade) para começar a receber recompensas ao longo do jogo. Sobre a necessidade de pagar para entrar, Brunno comenta:

“Na minha visão, os jogos P2E não são democráticos, tampouco acessíveis. O que a gente vê é a necessidade de ter um investimento inicial que, pela desvalorização da nossa moeda, é alto. Tem gente que até pede empréstimo para comprar um axie”

Estes três monstrinhos iniciais, assim como os itens que vier a ganhar, se tornam propriedade do jogador, podendo ser vendidos para outras pessoas no marketplace do game ou trocados por dinheiro “de verdade”.

Há uma maneira de entrar no jogo sem investir chamada scholarship (escolinhas, no Brasil), grupos ou pessoas que “alugam” seus monstrinhos para quem não tem capital ou não quer comprar essas criaturas. Dessa forma, os recursos conquistados são divididos (as porcentagens variam) entre o jogador e o dono do axie. As escolinhas, que funcionam como um sistema de renda passiva, são taxado por alguns críticos de “esquema de pirâmide”.

Existem, no entanto, opções de jogos P2E em que não é preciso pagar para dar o start. Entre eles, estão o Gods Unchained e o Mir4. Mas Brunno ressalta que, por mais que o jogador não precise investir para iniciar sua jornada, ele terá de comprar ferramentas (skins) dentro do jogo para performar melhor e gerar mais recompensas, se estiver mesmo interessado em ter algum tipo de lucro.

Como os jogos P2E geram receita: O lucro das desenvolvedoras vem do marketing em volta da popularidade do jogo (o que impacta no valor da moeda do game) e das taxas sobre as vendas feitas no marketplace. No caso do Axie Infinity, por exemplo, é cobrado 4,25% em cima de cada compra ou venda de uma das criaturas, de um pedaço de terra ou de um item especial. O game também cobra 4 unidades de AXS para que os monstrinhos possam se reproduzir.

Para se manter sustentável financeiramente e com as moedas valorizadas no mercado, Brunno diz que os jogos precisam ter um roadmap bem definido ou correm o risco de ir à falência em pouco tempo. “Foi o que aconteceu com um título chamado Death Road, em que eu mesmo investi 900 dólares, e com o Plant vs Undead, que em três meses acabou.” E complementa:

“O jogador precisa entender o momento de entrar e de sair para não perder dinheiro. É realmente como trabalhar no mercado de trading de criptomoedas”

Jogar para viver ou viver para jogar: Há relatos de que, em média, um jogador de Axie Infinity consiga fazer 1 080 dólares por mês jogando. Essa renda pode vir de duas formas: da troca das moedas SLP e AXS por dinheiro; ou da venda de axies (depois de conquistar uma determinada quantia de SLPs, o jogador pode cruzar dois de seus axies, gerando um novo bichinho) e outros itens colecionáveis. Neste relato, Gustavo Marinho diz que ganhou quase 2 500 reais em um mês.

A empresa de investimentos Three Body Capital considera os P2E uma nova forma de gerar emprego e recursos para as populações de baixa renda. Em um artigo no seu site, a empresa cita o estudo “Jogadores de aluguel: jogos e o futuro do trabalho com poucas habilidades”, publicado em 2016 por Edward Castronova, professor de mídia na Universidade de Indiana. Em um dos trechos de sua pesquisa, ele afirma o seguinte:

“Dentro de vinte anos, o jogo será uma fonte significativa de renda para a força de trabalho com pouca qualificação. A remuneração do jogo será o principal meio pelo qual os ganhos extremos dos ricos chegarão aos pobres.”

Isso já está acontecendo.  Nas Filipinas, que tem a maior população de jogadores do Axie Infinity do mundo, o game foi usado por muitas pessoas para manter suas famílias durante a crise da Covid-19.

O filipino John Aaron Ramos, 22, por exemplo, teria comprado dois apartamentos em Manila, capital do país, com o dinheiro feito na “jogatina”. O montante arrecadado por jogadores nas Filipinas motivou o governo local a querer cobrar impostos sobre esses ganhos. Dá para conferir aqui outros relatos de gamers brasileiros e venezuelanos que vêm fazendo grana jogando.

Na visão de Brunno, não é tão fácil viver dessa forma — ainda mais num país como o Brasil, com a moeda desvalorizada. Ele diz que, para fazer uma renda razoável, uma pessoa precisaria jogar pelo menos 18 horas por dia — média que varia de jogador para jogador.

Como trocar minhas moedas: Não pense que as transações financeiras do mundo dos games para a vida real são simples.

O especialista da Final Level explica que para entrar num jogo que exige a compra de um avatar, o jogador precisa depositar seus reais em uma corretora de criptomoedas, como a Binance, por exemplo. Nesta plataforma, a moeda brasileira será convertida em ether, que por sua vez devem ser transferidos para a rede Ethereum. Só então o montante pode ser endereçado para a plataforma do Axie Infinity e, enfim, convertido em AXS, a moeda do game usada para comprar os monstrinhos.

Para vender os ativos conquistados no game, a lógica é a mesma. “Toda vez que uma pessoa pensa em entrar em um NFT game, ela precisa ficar atenta às taxas, porque precisará operar pelo menos quatro sistemas com taxações diferentes para fazer essa transferência de tokens”, afirma Brunno.

Riscos: Apesar de as pessoas estarem sim ganhando dinheiro com o P2E, é preciso entender que essa renda tem relação com a popularidade de jogos como o Axie Infinity. Mas se o frenesi em relação ao game acabar, seu ecossistema tende a empacar e minar essa engrenagem financeira. Segundo Brunno:

“É um sistema supercomplexo. Mesmo eu que sou um entusiasta de NFT games tenho medo de entrar nos jogos… Prefiro não ser o early-adopter e ganhar um pouco menos, mas arriscar menos também”

Por isso, a dica de especialistas é não enxergar esses jogos como uma fonte de renda ou uma plataforma de investimento, até porque assim como outros ativos digitais, os avatares e tokens podem se desvalorizar.

Perspectivas futuras: Para o profissional da Final Level, o futuro dos criptojogos e, consequentemente, do modelo P2E, é incerto.

“Assim como os NFTs de arte tiveram uma explosão e agora estão num platô, acredito que isso pode acontecer com esses jogos”

Por outro lado, ele crê que o modelo, que descentraliza o negócio dos games, ajudará a trazer inovação e balançar o mercado tradicional de jogos. “Tudo isso dará uma agitada no modo como os gamers se relacionam com os jogos e fará as publicadoras repensarem o que estão fazendo.”

Por ora, as previsões são boas. Atualmente, de acordo com a plataforma CoinGecko, o mercado de GameFi vale mais de 27 bilhões de dólares — e deve seguir aquecido com as promessas da criação de metaversos.

Para saber mais:
1) Leia na Wired o artigo “Escapist fantasy of NFTgames is capitalism”;
2) Acesse no site do World Economic Forum o texto “What play-to-earn games mean for the economy — and metaverse”;
3) Veja no Cointelegraph “NFT and GameFi: The two biggest things in cryptocurrency and the foundation for this new blockchain project”;
4) No Infomoney, confira “Axie Infinity: como funciona e quais os riscos do jogo com criptomoedas e NFT que tem rendido grandes ganhos por mês”.

 

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