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Verbete Draft: o que é Slop

Dani Rosolen - 24 jul 2024
Slop que se ganhou várias versões nas redes, com Jesus Cristo representado com o corpo de camarão.
Dani Rosolen - 24 jul 2024
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Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete deste mês é…

SLOP

O que é: Slop é um termo que se refere ao lixo virtual produzido pela inteligência artificial generativa. São textos, imagens, áudios e vídeos caricatos ou surreais, com contextos que muitas vezes apelam para o emocional, espalhados pelas redes sociais, ebooks e sites de busca na internet.

(Em inglês, a palavra originalmente tem significados como “derramar”, “transbordar”, “movimento desleixado”, “trabalho de baixa qualidade”, “confusão” ou “resíduo”.)

Os especialistas fizeram um paralelo do conceito com o spam (interações indesejadas enviadas via email, WhatsApp e SMS). Esses conteúdos sintéticos criados pela IA também são indesejados, não agregam nada aos usuários e servem apenas para desviar a atenção e até fazer com que a pessoa se perca e esqueça o que estava buscando em meio a tanto “lixo”.

Você já deve ter visto um slop por aí: Uma imagem de Jesus Cristo com corpo de camarão (como o da capa desse verbete) é um exemplo de slop que viralizou no Facebook. Ou ainda crianças na África criando todo tipo de objetos — inclusive carros — usando garrafas pet. Essas duas criações ganharam milhares de variações, pois os slops são capazes de se retroalimentar.

Imagens de idosas centenárias em frente a um bolo de aniversario são outro caso de slop com destaque nas redes sociais, em postagens que convidam os usuários a parabenizar as aniversariantes, que, por sinal, fizeram o próprio bolo. A paisagem Hollywood Mountain também é um exemplo curioso de slop, instigando turistas a visitar esse lugar na Califórnia, exceto que há apenas um detalhe: ele não existe. 

Em texto, um caso que ficou conhecido é o de ebooks vendidos na Amazon sobre como distinguir um fungo letal de comestíveis. Catadores amadores de cogumelos foram alertados a evitar esses livros, pois o conteúdo tinha sido gerado por IA e não era confiável, podendo levar uma pessoa a consumir um fungo mortal.

Origem: O desenvolvedor Simon Willison, cocriador do Django Web Framework e criador do Datasette, é apontado como uma das primeiras pessoas a usar o termo. Ele traçou um paralelo ao falar sobre a importância de “slop” em seu blog:

“Antes do termo ‘spam’ entrar no uso geral, não era necessariamente claro para todos que mensagens de marketing indesejadas eram uma maneira ruim de se comportar. Espero que ‘slop’ tenha o mesmo impacto – deixar claro para as pessoas que gerar e publicar conteúdo indesejável de IA é um mau comportamento”

Mas o próprio Willison admitiu que não é o criador do conceito, que teria surgido no 4chan, no Hacker News e nos comentários do YouTube, “onde anônimos às vezes projetam sua proficiência em assuntos complexos usando linguagem de grupo”, como destaca o The New York Times

O termo teria começado a ganhar destaque como uma resposta às IAs geradoras de artes em 2022 e, em maio de 2024, foi impulsionado quando o Google incorporou o Gemini AI em seus resultados de pesquisa nos EUA, direcionando os usuários para um resultado no topo da busca gerado pela inteligência artificial. Mas, muitas vezes, o que a IA entregava não era o procurado. Por isso, a empresa resolveu voltar atrás e segurar o uso dessa ferramenta. 

Por que estamos vendo tantos slops e quais suas consequências? Esses conteúdos gerados por IA, quando acessados e compartilhados, aumentam o tráfego de sites, o ranqueamento de páginas nas redes e o acesso a anúncios, compensando assim o custo de criá-los. Por isso, há uma proliferação desse tipo de lixo virtual.  

Enquanto isso, conteúdos de qualidade acabam passando batido e o usuário perde seu tempo e atenção nesse labirinto de “lixo” virtual, correndo ainda o risco de cair em espaços inseguros e vulneráveis a golpes e fraudes na internet. 

As empresas de mídia anunciantes também saem perdendo, porque seus conteúdos reais podem ser confundidos com slop, como relatou Farhad Divecha, diretor-gerente da AccuraCast, com sede no Reino Unido. Em entrevista ao The Guardian, ele disse que já aconteceram casos de usuários sinalizarem anúncios da agência de marketing digital como lixo criado pela IA. Quanto a essa questão, vale uma recomendação de Willison: “Nem todo conteúdo promocional é spam e nem todo conteúdo gerado por IA é slop”.

Nick Clegg, presidente de assuntos globais da Meta, chegou a escrever, em fevereiro de 2024, que a empresa está treinando seus sistemas para identificar conteúdo criados por IA. Porém, até o momento, são justamente as redes as principais divulgadoras dos slops.

Em meio a essa realidade, já há quem acredite que a teoria da internet morta, dos idos de 2010, com conteúdos criados e consumidos por bots, está prestes a se concretizar. 

Perspectivas futuras: Diferenciar slops de conteúdos reais pode ser fácil quando as criações são nonsense, mas mesmo assim ainda há risco de perdermos tempo com esse tipo de material.

Para resolver essa cilada, Rita Wu, analista de tecnologia da CNN Brasil e diretora de comunicação e conteúdo do Instituto Fab Lab Brasil, aponta, em sua coluna no site da emissora, um caminho possível

“Fico imaginando que, no futuro, uma das formas para diferenciarmos os conteúdos feitos por humanos e máquinas será por meio dos erros e resultados ditos ‘menos profissionais’ e ‘mais reais’.  Seremos amadores, incorretos, reais e erráticos, frente a uma avalanche incontrolavelmente rápida de conteúdos sintéticos. Essa rugosidade nas produções humanas vai ser um ‘selo de autenticidade’. Talvez, no futuro, vamos valorizar o trabalho humano como hoje valorizamos o excepcional trabalho das máquinas.”

Para saber mais:
1) “First Came ‘Spam.’ Now, With A.I., We’ve Got ‘Slop’?”;
2) “The deluge of bonkers AI art is literally surreal Technology”;
3) “Why doesn’t Facebook just ban AI slop like Shrimp Jesus?”;
4) “The AI-generated Books Trend is Getting Worse”;
5) “Spam dá lugar ao slop com chegada da era da IA”;
6) “Slopificação da internet: você sabe o que é isso?”;
7) Confira uma lista no X com slops extraídos do Facebook.

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