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Verbete Draft: o que é Teoria U

Gisela Blanco - 13 maio 2015 Otto Scharmer
Otto Scharmer conceituou a Teoria U: uma metodologia para transformar organizações (imagem: reprodução YouTube)
Gisela Blanco - 13 maio 2015
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Gisela Blanco, que assina este texto, é jornalista mestre em Business Innovation pela University of London.

Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…

TEORIA U

O que acham que é: Alguma teoria sobre negócios.

O que realmente é: Uma metodologia para fazer uma equipe inteira aprender algo novo. A Teoria U se propõe a ajudar a implementar mudanças e aumentar a produtividade em organizações (que podem ser empresas, governos, escolas etc). Funciona como uma espécie de passo-a-passo, com sete etapas definidas: suspender; redirecionar; deixar ir; estar presente; deixar vir; decretar a lei e incorporar. Todas essas etapas fazem parte de uma jornada com começo, meio e fim, que completa o formato de um “U”, daí o nome. Na primeira ponta da letra, fica o início do processo, em que a equipe precisa começar a entender e questionar o que já pensa e faz, como a organização funciona. Depois vem o aprofundamento, a jornada em direção ao fundo do “U”. Tudo que não é realmente importante deve ser deixado de lado. Nessa etapa, o método pede que a equipe se conecte consigo mesma e com seu trabalho. Cada um deve entender exatamente quem é, e o que faz. “Nesse aprofundamento a gente se liga com a intuição e entende o que de melhor poderia acontecer. Qual é o melhor futuro para aquela situação? É aqui que acontece um insight que vai levar o grupo a querer sair voando e realizar esse futuro”, diz o professor Wilson Nobre, membro do Fórum de Inovação da FGV. Por último, vem a subida, que inclui cristalizar a nova visão e as novas intenções e elaborar protótipos com as novas ideias a serem testadas, de forma parecida com o que acontece no Design Thinking.

Quem inventou: Os primeiros passos da Teoria U nasceram na Holanda, com pesquisas sobre pedagogia, no fim dos anos 1960. Quase 30 anos depois, Otto Scharmer, economista americano e professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT), elaborou uma teoria a partir daquela base que podia ser aplicada a qualquer tipo de organização. Ele explicou a metodologia no livro Teoria U, escrito depois de muitos anos investigando metodologias sobre mudanças (o chamado Change Management), inclusive ao lado do colega de MIT Peter Senge, um dos maiores experts no assunto, autor do livro A Quinta Disciplina. Os dois eram parte de um grupo de estudiosos que adaptou modelos matemáticos para lidar com problemas de organizações. A principal ideia ali era olhar para o todo em vez de dividir as questões em partes isoladas, o chamado pensamento sistêmico.

Quando foi inventado: Scharmer publicou o livro em 2009, mas a base dele vem de uma pesquisa que durou 10 anos no MIT, a partir de 1996, e da qual ele fez parte com os colegas Peter Senge e Joseph Jaworski. Lá, esses pesquisadores desenvolveram um conceito que é central para a teoria U, chamado “presencing” (para muita gente, uma coisa é sinônimo da outra). É uma mistura das palavras “presence” (presença) e “sensing” (sentindo). Segundo o Presencing Institute (fundado por Scharmer), a palavra se refere à “habilidade de sentir e trazer ao presente o melhor futuro potencial de alguém”, que é justamente a competência que o lider deve levar o grupo a desenvolver no meio da jornada “U”.

Para que serve: Principalmente para aumentar a produtividade e para implementar mudanças. Imagine uma equipe que precisa, por exemplo, aprender a trabalhar com menos recursos. Em vez de convocar várias reuniões para absorver a novidade ou tentar mudar cada um à sua maneira, o gestor do time pode usar a teoria U como um manual para guiar a mudança. “Muitas vezes, não adianta só chamar o funcionário e dizer ‘agora você vai trabalhar assim’ e pronto. É preciso toda uma jornada para que ele possa compreender a transformação que tem que fazer”, afirma o professor Wilson Nobre. E completa: “A grande sacada da Teoria U é que ela ajuda as pessoas a se transformarem para entregar algo melhor para si próprias e para a sociedade”.

Quem usa: Governos, universidades, empresas, ONGs. “Aqui no Brasil, um bom exemplo é a Natura, que chamou o próprio Otto Scharmer para ajudar a conduzir um processo de mudança dentro da empresa”, conta o professor Wilson Nobre. No site do Presencing Institute, são citadas também as brasileiras Fundação Getúlio Vargas e Fundação Dom Cabral, que aplicam os princípios da Teoria U em pesquisas e em salas de aula. Outros exemplo podem ser encontrados em estudos de caso, como esse do programa Hope to Home, nos Estados Unidos.

Efeitos colaterais: Como a Teoria U é um método específio, quem tenta aplicá-lo pulando etapas, sem seguir os passos descritos por Otto Scharmer no livro, pode não ter o resultado esperado.

Quem é contra: “Conectar-se consigo mesmo”, “presenciar e sentir”. À primeira vista, essas frases soam bonito e podem parecer até coisas simples de se fazer, mas enganam. Antes mesmo da publicação do livro, a teoria de Scharmer já ecoava entre as universidades de negócios e tecnologia mundo afora. Por isso, em 2007, o professor Jonathan Reams, da Universidade de Ciência e Tecnologia da Noruega, escreveu um artigo com uma série de críticas. Uma delas é que muitas vezes a Teoria U parece não ter sido desenvolvida para ser seguida por qualquer pessoa, mas apenas por uma elite dos chamados “criativos culturais”, gente com uma capacidade muito grande de fazer coisas como se colocar no lugar do outro. O autor cita que Scharmer diz em certo momento que é preciso ter um “coração aberto” (open heart), uma capacidade para ouvir com empatia, “trocar de lugar” com outras pessoas ou sistemas. “Mas, apesar de essa ser realmente uma qualidade valiosa, o que não é discutido aqui são os pré requisitos para fazer isso. Alguém pode ter um coração aberto em vários sentidos, mas existem ações e estágios específicos em que a capacidade de realmente tomar a perspectiva de outra pessoa emerge e vai crescendo”, diz no artigo.

 

Para saber mais:
1) Assista essa entrevista em português com Otto Scharmer.
2) Veja esta série de aulas do próprio autor.
3) Conheça o Presencing Institute.
4) Acompanhe a coluna de Otto Scharmer no site do Huffington Post.

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