Depois que a mãe foi despejada, Vinicius Marques criou a EasyJur para agilizar o monitoramento de processos

Adriana Fonseca - 25 jun 2019
A equipe da EasyJur: o fundador Vinicius Marques é o que está sentado à direita.
Adriana Fonseca - 25 jun 2019
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Em 2018, o Conselho Nacional de Justiça divulgou uma pesquisa estimando que há no Brasil um total de 80 milhões de processos em tramitação à espera de uma definição. Cabe aos advogados acompanhar o andamento desses processos de forma “manual”, entrando periodicamente nos sites dos tribunais e conferindo se houve algum avanço.

Se a Justiça é lenta, a tecnologia pode dar uma força. Fundada em 2014, em Uberaba (MG), a EasyJur lança mão de um exército de bots que vasculha essa montanha de dados, rastreando alterações e agilizando o trabalho. Diz o fundador, Vinicius Marques, 30:

“Nossa plataforma monitora de forma automática os processos relacionados ao nome daquele advogado e ao seu número de OAB, enviando notificações sempre que o status é alterado”

A solução não é a única e nem mesmo a primeira disponível no mercado. Hoje, já existe até uma Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs, da qual a EasyJur é associada.

Vinícius, porém, enfatiza que sua startup desenvolveu algoritmos proprietários que, combinados à inteligência artificial, permite a análise preditiva de precedentes e jurisprudência integrada em uma única plataforma, o que aumentaria o “nível de assertividade” na produção de teses para petições iniciais e contestações.

O ERRO DE UM ADVOGADO INSPIROU A CRIAÇÃO DA STARTUP

Formado em Análise de Sistemas pelo Instituto Federal do Triângulo Mineiro, ele tinha 19 quando montou sua primeira empresa, voltada ao desenvolvimento de softwares para lojas virtuais. Sua trajetória de empreendedor, porém, sofreu uma guinada por conta de um problema familiar.

Acionada judicialmente, a mãe de Vinicius descobriu que a casa onde morava havia sido vendida para mais de uma pessoa. Os outros compradores entraram na Justiça requisitando a posse do imóvel. Com o processo correndo, a mãe de Vinicius passou a depositar o valor do financiamento imobiliário em juízo, e a quantia era redirecionada às pessoas lesadas com a compra do imóvel.

Quando a dívida do vendedor da casa com os demais compradores estava quitada, a mãe do rapaz foi orientada a realizar os pagamentos seguintes para o vendedor do imóvel. Vinicius lembra:

“Ela não achou justo, afinal ele havia lesado outras pessoas. Então, contratou um advogado para entrar com um processo judicial”

No meio do caminho o advogado perdeu um prazo. Pior para a mãe de Vinicius, que ficou sem casa: foi surpreendida com um oficial de Justiça batendo à sua porta, com uma ordem de despejo em mãos.

Ao conversar com amigos sobre o ocorrido, Vinicius conheceu as dificuldades em acompanhar o andamento de processos. Um desses amigos, advogado, sugeriu que ele pensasse numa solução (já que trabalhava “com software”). A ideia, que poderia soar despretensiosa, foi a fagulha para o desenvolvimento da primeira versão do EasyJur.

UM CONTRATO COM A OAB DE MINAS GERAIS IMPULSIONOU O NEGÓCIO

Durante um ano, Vinicius ralou sozinho no projeto. Conforme recolhia feedbacks dos advogados que testavam a plataforma, o empreendedor começou a chamar outros desenvolvedores para desenvolver a ferramenta junto com ele. “Até hoje, usamos a metodologia de melhoria contínua”, diz, afirmando manter um canal aberto com profissionais da área.

“Eu já tinha desenvolvido a plataforma e havia disponibilizado o sistema gratuitamente na minha cidade, para teste e validação. Quatrocentos advogados estavam usando a EasyJur quando a OAB entrou em contato comigo”

O ano era 2016. Ao firmar, com a seção mineira da Ordem dos Advogados do Brasil, seu primeiro grande contrato, Vinicius passou a se dedicar integralmente à EasyJur. Dos 400 advogados iniciais, a base de usuários saltou imediatamente para 5 mil. E, nos últimos três anos, esse número aumentou em oito vezes: hoje, há mais de 40 mil advogados usando a plataforma — o equivalente a 3,5% do total de 1,1 milhão de advogados em todo o país.

A seção capixaba da OAB também fechou acordo para disponibilizar o acesso à plataforma aos advogados filiados (há negociações em andamento com a OAB Distrito Federal). O grosso dos contratos, porém, é fechado diretamente com escritórios de advocacia e profissionais autônomos. Nos últimos 12 meses, o faturamento foi de 770 mil reais.

A EasyJur oferece três tipos de planos. O mais barato custa 19,90 reais ao mês para um usuário e 200 cadastros de processos. Em seguida vem o “premium” (72,90 mensais), que permite acesso de três usuários e cadastro de até 500 processos a serem monitorados. Há ainda o plano “enterprise”, para escritórios maiores, que pode sair por 3 mil reais por mês.

A partir da categoria “premium”, a ferramenta traz mais funcionalidades, como sincronia com a agenda do Google, controle de prazos e de reembolsos e interface com sistema de CRM para gestão de projetos. A plataforma cria documentos (como procurações e contratos) de forma automatizada e sugere tomadas de decisão em consequência da atualização do status do processo, como marcar uma audiência — que pode ser inserida instantaneamente na agenda do advogado.

PARA ESCALAR, O EMPREENDEDOR BUSCOU APORTE E ACELERAÇÃO

Os planos oferecidos têm sido revistos constantemente desde a fundação. O “premium” responde por 70% do faturamento — e, até 2018, custava 99 reais ao mês. “A gente vem testando a precificação”, diz Vinicius. “Com isso, reduzimos o preço do modelo ‘premium’ e lançamos o plano para autônomos”

O empreendedor conta que, logo que passou a se dedicar em tempo integral ao projeto, passou a pensar em formas de turbinar a empresa:

“Coloquei no radar a necessidade de passar por uma aceleração, principalmente para ter mentores. Eu não tinha sócios e precisava me conectar com esse ecossistema para ver como alavancar o negócio”

Em 2018, selecionada pela Darwin Startups, a EasyJur recebeu um aporte de R$ 170 mil em troca de 12% de participação na empresa. Com a mentoria fornecida pela aceleradora, Vinicius adaptou a jornada do usuário dentro da plataforma para aumentar as conversões de quem usa o modelo básico oferecido pela OAB para o modelo “premium”.

O empreendedor Vinicius Marques durante o pitch da Darwin Aceleradora.

“Normalmente é preciso ter alguém na equipe falando com o usuário para convertê-lo. O que fizemos foi criar gatilhos na ferramenta, com uma jornada de usuário guiada, para que a conversão aconteça sem a interferência de uma pessoa”, diz Vinicius. “Dobramos a receita mensal recorrente depois disso.”

Além dos 170 mil reais da Darwin, a EasyJur contou com mais 30 mil reais de uma subvenção econômica do Sebrae. “É um programa que você submete o projeto e 80% do valor é investido a fundo perdido”, diz Vinicius, que calcula ter investido cerca de 500 mil reais no desenvolvimento da empresa, entre recursos próprios, o aporte da aceleradora e o dinheiro da subvenção.

Hoje, a EasyJur tem dez funcionários, incluindo desenvolvedores, suporte, Customer Success, área comercial e dois advogados. Em busca de sua primeira rodada de investimentos, Vinicius conta com ajuda da Ynovus, que seleciona e apoia startups com potencial de receber aportes:

“Ajudamos a desenvolver o pitch, ensaiamos a apresentação, fazemos as projeções financeiras e colocamos os empreendedores em contato com investidores”, afirma Matheus Tavares, um dos fundadores da Ynovus. “Se tivermos sucesso, ficamos com uma participação da empresa e passamos a ser sócios.”

Por ora, rodada de investimentos à parte, a meta de Vinicius é faturar 1 milhão de reais em 2019 e dobrar, até o fim do ano, o número de usuários da EasyJur, alcançando 80 mil advogados em todo o Brasil.

 

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: EasyJur
  • O que faz: Automatiza o acompanhamento de processos judiciais
  • Sócio(s): Vinicius Marques
  • Funcionários: 11 (incluindo o sócio)
  • Sede: Uberaba (MG)
  • Início das atividades: 2014
  • Investimento inicial: R$ 500 mil
  • Faturamento: R$ 770 mil (últimos 12 meses)
  • Contato: [email protected]
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