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Você colocaria seu bebê em um berço de papelão? A Nanú mostra que, além de sustentável, o produto é prático

Priscilla Santos - 10 abr 2019
Adriana (à esquerda) e Isabel: as amigas já tinham pensando em vários projetos para empreender juntas. Mas foi quando se tornaram mães que puderam embalar esse primeiro "filho".
Priscilla Santos - 10 abr 2019
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Basta sair o teste de positivo no exame de gravidez para a lista de afazeres começar e os nove meses parecerem pouco tempo em meio a tantas providências. Além dos exames e consultas médicas, vem o enxoval, com itens de alto custo e que serão usados pouquíssimas vezes.

Com a ideia de atender a pais e mães que querem simplificar a vida e serem mais sustentáveis, a Nanú chegou ao mercado em setembro de 2018 com berços-caixas feitos de papelão, que suportam até seis quilos e podem ser usados para o bebê tirar as sonecas diurnas e dormir à noite próximo aos pais – nas primeiras semanas ou meses de vida esse contato pode facilitar as mamadas noturnas. Isabel de Barros, 36, cofundadora da Nanú e mãe de uma menina de dois anos e meio, resume a proposta parafraseando sua ginecologista:

“O que o recém-nascido precisa, além do amor e do leite da mãe, cabe em uma caixinha de sapato. Esse período da gestação e pós-parto já é cansativo, para que complicar algo que pode ser simples?”

Alternativa aos clássicos moisés, pequenos berços, algumas vezes portáteis, tradicionalmente usados para bebês recém-nascidos, a Nanú pode ser colocada em qualquer superfície plana e estável, como em uma mesa ou no chão. Vem com um colchão forrado com lençol 100% algodão e estampa unissex.

Por pesar menos de três quilos, o berço-caixa pode ser facilmente transportado do quarto para a sala, por exemplo, acompanhando os pais até em um passeio. “Usei muito a da minha filha mais velha para levar para a praia. Colocava as roupas dela dentro da caixa para a viagem, então já servia de mala e de berço”, conta Adriana Nazarian, 36, mãe de uma menina de dois anos e meio e de um bebê de três meses e cofundadora da Nanú.

Quando o bebê não couber mais na caixa, ela pode ganhar novos usos: de piscina de bolinhas a caixa de brinquedos, para guardar lençóis, cobertores etc. “Uma amiga usava para guardar papeladas. Outro dia uma mãe postou foto no Instagram usando a Nanú de mesinha de apoio para trabalhar no computador na cama”, diz Adriana. Depois de passar por todas essas fases, quando finalmente a caixa chegar ao fim de sua vida útil, pode ser reciclada.

INSPIRAÇÃO NÓRDICA E MÃO NA MASSA PARA CRIAR UMA VERSÃO BRASILEIRA

A Nanú Box foi inspirada em um berço-caixa já tradicional na Finlândia, onde desde os anos 1930 o governo distribui o produto com itens básicos de enxoval dentro – como fraldas e roupinhas – para as mães que fazem o acompanhamento do pré-natal.

Foi uma estratégia para diminuir a mortalidade infantil no país, que na época em que a iniciativa teve início era muito alta, principalmente entre famílias de baixa renda. Com o tempo, os berços de papelão se arraigaram na cultura local – a ponto de algumas pessoas reutilizá-los por anos a fio, por exemplo, como caixa para os enfeites de Natal.

O berço, em papelão, foi inspirado em uma tradição cultural finlandesa de bebês dormirem em caixas. Os da Nanú custam 270 reais. Na foto, Martin, de 3 meses, filho de Adriana.

Costumam ser dados de presente para casais prestes a se tornarem pais. Assim, passaram a ser produzidos no país nórdico por marcas comerciais, que lançaram versões estampadas e recheadas de roupinhas, além de itens essenciais como tesourinha, babador, paninhos, luvas, meias e fraldas.

Isabel e Adriana eram amigas desde a faculdade de Rádio e TV na FAAP e já tinham pensado em diversos negócios juntas – de agência de comunicação à marca de guardanapos. “Sempre tivemos muitas ideias e cada uma ia seguindo sua carreira”, afirma Isabel, que largou as redações em 2015 para se tornar professora de yoga, mas logo engravidou e suspendeu as atividades.

O primeiro projeto das amigas que decolou junto foi o de serem mães. Embora não tenham combinado de engravidar ao mesmo tempo (até porque, mesmo querendo, seria muito difícil isso dar certo), os filhos delas acabaram nascendo com uma semana de diferença.

Foi em uma das madrugadas acordadas para amamentar e navegando na internet que elas descobriram o berço finlandês. Logo pensaram: temos que trazer isso para cá. Isabel conta:

“Queríamos comprar um berço  de uma marca finlandesa para fazer uma pesquisa, mas os mais completos chegava a 600 euros, era começar devendo”

Então elas adquiriram uma opção mais barata da Califórnia. A encomenda ficou retida nos Correios por tanto tempo que a licença maternidade de Adriana acabou e ela voltou a trabalhar na redação de uma revista. Isabel cuidava do filho sem ajuda profissional e não tinha muito tempo livre. Se não fosse o marido de Adriana para retirar o berço nos Correios tempos depois, até hoje ele estaria lá, brincam as duas. “Quando chegou, nossos bebês já não cabiam nele para dormir. Mas os colocamos lá sentadinhos e eles amaram”, diz Isabel.

Aí teve início a saga para entender como fabricar um produto similar no Brasil. Primeiro, foram atrás de indústrias que faziam caixas de papelão para embalagem, começando por um fornecedor do pai de Adriana, que tem uma loja de artigos infantis. “Não dava para fazer com eles. A caixa que compramos de fora não tinha emendas no fundo, as daqui todas tinham”, diz Isabel.

Depois veio outra questão: alguns fornecedores até fariam a caixa, mas não dava para ser estampada. A alternativa encontrada – depois de muita pesquisa – foi imprimir as caixas em gráficas de revistas. “Assim, o papel viria estampado e laminado, tornando possível limpar o berço com pano úmido.”

Ao todo foi um ano e meio de pesquisa para chegar ao produto final. Embora não seja exigido selo do Inmetro para berços portáteis, espontaneamente elas fizeram testes do produto, que passou por exames na Falcão Bauer, empresa que realiza exames de controle de qualidade de objetos. Isabel afirma:

“Fizemos dois testes: um com a tinta, para ter certeza que era mesmo atóxica, e outro de resistência. A Nanú ficou pendurada por 24 horas com dez quilos de peso e não teve nenhum estrago”

As empreendedoras quiseram ser ainda mais prudentes e divulgaram a capacidade de peso do berço-caixa como seis quilos. “Até porque o bebê de dez quilos já é muito grande para caber na caixa. Mas ela aguenta”, afirma Adriana.

Depois de entender que precisaria imprimir o produto em gráficas, a dupla ligou para cerca de cem dessas empresas no país até chegar a um fornecedor. Havia também o problema da quantidade. “A maioria só aceitava pedidos a partir de mil unidades, depois conseguimos 500 e, finalmente, 300, quando decidimos fazer”, conta Isabel, que investiu, junto com Adriana, cerca de 35 mil reais para fabricar esse primeiro lote da Nanú. Mas a coragem para se arriscar assim precisou de uma acelerada.

COM UMA ACELERAÇÃO FOCADA EM MULHERES, O PROJETO SAIU DO PAPEL

Entre fraldas e mamadas, o projeto ia tomando corpo – mas no ritmo possível para quem cuida de crianças pequenas. “Antes de ter filho, cada uma com sua carreira, a gente não conseguiu tirar nada do papel, imagina com bebê. Estava mais preocupada em dormir e comer. Mas era algo que estava latente”, diz Isabel. Adriana ainda trabalhava bastante fora e o tempo que sobrava queria passar com a filha.

Foi quando Isabel descobriu um programa de aceleração para negócios criados por mães, o B2Mamy, que faria um dia de mentoria no Google Campus. Isabel conta sobre as reações das outras empreendedoras durante o encontro: “As pessoas acharam o produto muito inovador, ninguém tinha ouvido falar. Mas muitas se assustavam”. Ela prossegue:

“Quando você chega e fala ‘vou fazer um vestido de algodão orgânico’, todo mundo tem uma imagem do produto. Mas ‘vou fazer um berço que é uma caixa’, é difícil de imaginar…”

O dia de mentoria havia sido em setembro de 2017. No começo do ano seguinte, abriram as inscrições da B2Mamy para um programa de aceleração de quatro meses. Era pegar ou largar. E Adriana decidiu, então, deixar o emprego para investir nesta empreitada junto com a sócia.

Quando o bebê não dormir mais na Nanú, ela pode ter múltiplos usos: Luna, filha de Adriana, usa a caixa de piscina de bolinhas.

Foram oito módulos temáticos – passando por vendas, financeiro, marketing – em que as fundadoras definiram praticamente tudo da empresa, a começar pelo nome. “Uma coisa que entendemos lá é que precisávamos primeiro fabricar o produto e, depois, testá-lo, colocar na rua, fazer pesquisa”, diz Isabel.

Primeiro a dupla tentou o caminho do meio. Lançou o site e o Instagram e promoveu uma pré-venda. A meta era, ao fim de três meses, ter 150 Nanú Boxes encomendadas. Se fosse atingida, fariam a produção. Nas duas primeiras semanas tiveram dez encomendas. “Vimos que esse era um produto comprado mais no final da gravidez, então as pessoas não podiam esperar três meses para recebê-lo, que era o prazo que estávamos dando.”

As sócias decidiram não colocar mais tanto esforço na pré-venda, mas arcar com a produção de 300 caixas, que foram lançadas já com o valor atual de 270 reais (mais frete). Quando a Nanú Box chegou da fábrica, o segundo filho de Adriana já estava para nascer. “Passei o dia entregando os berços e ele nasceu à noite.”

COMO LIDAR COM UM CONCORRENTE DE PESO NO MEIO DO CAMINHO

Era o filho nascendo, os produtos chegando às mãos das clientes e, no meio de tantos acontecimentos e expectativas, eis que surge a primeira concorrente da marca no Brasil. A apresentadora Bela Gil fez o pré-lançamento da Bela Baby Box, também um berço portátil em papelão com opção de vir com um kit enxoval junto. Apesar do susto, elas se mantiveram confiantes. “Vimos pelo lado positivo, que é uma pessoa de renome estar divulgando o conceito.”

De lá para cá, a Nanú Box já passou a ser vendida em lojas físicas (Mundo Bió, Amoreira, Panaceia e Valutin), em São Paulo. Além de duas online (Ateliê Baobá e Bump Box), fora o site e o Instagram. As empreendedoras já iniciam parcerias com marcas infantis. “A partir de agora, virá dentro do berço uma amostra grátis do Mama+, um chá de ervas para estimular a produção de leite materno”, diz Adriana sobre as novidades. Hoje, a empresa fatura cerca de 4 mil reais por mês.

O próximo passo é focar no business-to-business, com vendas em escala para hospitais, laboratórios médicos e empresas que possam presentear gestantes com o produto. A dupla acredita que lançar os berços no varejo, de toda maneira, foi um acerto para testar o conceito. “Já mandamos uma pesquisa perguntando para que as pessoas mais usam a Nanú e muita gente disse que é para os banhos de sol do bebê, algo em que não tínhamos pensado”, diz Adriana.

Parece que empreender é mesmo como a vida de mãe de primeira viagem. A cada mamada e troca de fralda se vai aprendendo o caminho. No momento, nenhuma das empreendedoras pensa em uma nova gravidez. Enquanto isso, embalam juntas esse novo filho, que promete trazer muitas alegrias.

DRAFT CARD

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  • Projeto: Nanú
  • O que faz: berços-caixas portáteis
  • Sócio(s): Adriana Nazarian e Isabel de Barros
  • Funcionários: 2 (apenas as sócias)
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2018
  • Investimento inicial: R$ 35.000
  • Faturamento: R$ 4.000 mensais, em média
  • Contato: [email protected]
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