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Você cuida da saúde e recebe dinheiro de volta: essa é a promessa do aplicativo que estimula pacientes a tomarem seus medicamentos

Marília Marasciulo - 14 jan 2025 Marília Marasciulo - 14 jan 2025
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Transformar a adesão ao uso de medicamentos em algo vantajoso para pacientes e farmacêuticas: essa é a proposta da Healward, startup fundada por um cirurgião vascular, um farmacêutico e um fisiatra.

Por meio de um aplicativo, a healthtech incentiva pacientes a seguirem os tratamentos corretamente, registrando horários e períodos de uso, e oferece cashback como recompensa.

Além de engajar os usuários, a empresa lucra com uma taxa cobrada sobre os valores devolvidos pelas indústrias farmacêuticas.

COMO FUNCIONA A HEALWARD

O primeiro passo para usar a Healward é fazer o download do aplicativo que, embora gratuito, exige um cadastro que inclui o compartilhamento de dados como data de nascimento, CPF e número de telefone.

Ao comprar o medicamento, seja na farmácia ou online, o paciente entra no aplicativo e escaneia o QR code da nota fiscal. O próprio app reconhece a medicação, e o paciente deve apenas preencher os horários de ingestão e a duração do tratamento.

Cabe ao usuário registrar quando tomou a medicação, como um check-in. O farmacêutico Vitor Zani, 39, cofundador e diretor de operações da healthtech, afirma:

“A gente atua momento na jornada do paciente logo após comprar a medicação, quando ele está sem nenhum profissional de saúde do lado — é ele com ele mesmo e o medicamento”

Ao final, o usuário recebe um cashback que varia entre 25% e 40% quando o benefício é patrocinado pela indústria farmacêutica, e entre 1% e 3% quando é pago pela própria Healward — um investimento próprio da startup para trazer mais usuários.

“Cobramos uma success fee, espécie de taxa de administração, de 10%”, afirma Zani. Ou seja, se a indústria, ao final do mês, teria de pagar 5 mil reais em cashbacks, a Healward ficaria com 500 reais.

Fundada em 2020, a healthtech acumula 280 mil usuários, que emitiram 490 mil notas fiscais em busca de cashbacks.

Conquistou clientes corporativos, como o Grupo NC, e laboratórios como EMS, Germed, Legrand, Nova Química e Novamed. E consolidou o modelo de negócios baseado na success fee e na criação de aplicativos white label específicos para certas marcas.

A EMPRESA SURGIU A PARTIR DO PROJETO FINAL DE UM PROGRAMA DE LIDERANÇA EM HARVARD

A ideia surgiu da experiência de outro Vitor, o cirurgião vascular paulista Vitor Gornati, 40, que frequentemente recebia pacientes com sintomas persistentes mesmo após a prescrição de tratamentos.

Dono da clínica Prime Care, em São Paulo, Gornati participou de um programa de liderança em Harvard entre 2018 e 2019, no qual precisou criar uma empresa. E pensou logo em resolver o desafio que enfrentava com os próprios pacientes.

Ao investigar o problema, percebeu que a baixa adesão à medicação era um dos principais obstáculos à eficácia dos cuidados médicos.

Segundo pesquisas da Healward, 85% das pessoas atrasam a ingestão de medicamentos, e em quase metade do tempo esquecem-se de tomá-los. Zani afirma:

“Esse índice é maior ainda em países em desenvolvimento como o Brasil. E acontece por diversos fatores, como dificuldades de acesso à medicação, por acharem que o tratamento não vai funcionar, receio dos efeitos colaterais e esquecimento dos horários”

Farmacêutico de formação pela USP, Zani também tem um MBA em marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). E acumulou 15 anos na indústria, em empresas como Takeda, Roche e União Química. Trabalhava em uma área de inovação recém criada na Raia Drogasil quando recebeu o contato de Gornati, seu antigo colega de colegial.

“Quando o Dr. Vitor idealizou a proposta da Healward, entrou em contato comigo para trazer a visão da indústria farmacêutica, que é um dos principais stakeholders da operação.”

A empresa já nasceu com o conceito de oferecer cashback. Zani afirma:

“A gente sabe que é uma dor. Ninguém gosta de comprar ou gastar dinheiro com medicamentos. Mas quando envolve uma questão de saúde, a pessoa pode ficar mais sensibilizada. Ter um benefício natural ajuda ainda mais a chamar o paciente para ter um tratamento legal e engajado”

O fisiatra Marcos Yudi, 40, que tinha experiência com tecnologia, dados e estratégias go-to-market, se juntou aos outros dois sócios.

Em pouco tempo, e com investimento inicial próprio, o trio contratou uma equipe de cinco desenvolvedores para tirar o aplicativo do papel e lançar o MVP em 2020.

A STARTUP RECOMPENSA OS USUÁRIOS PELO USO DOS REMÉDIOS — MAS NÃO CONTROLA A ADESÃO AO TRATAMENTO

Os dados da plataforma mostram uma taxa de 80% de adesão aos tratamentos entre os usuários do aplicativo

A Healward, porém, não tem controle se o usuário realmente tomou a medicação ou se apenas marcou que tomou.

“Vai da consciência de cada um. Não tem como forçar ou controlar ninguém no dia a dia. Temos a parte educativa, voltada para a saúde. E o apoio do médico e das farmácias. É um movimento educativo com recompensa”

(Também parece não haver controle das posologias; a repórter do Draft fez um teste inserindo a informação falsa de que teria de tomar 750 mg de paracetamol de hora em hora — uma dosagem perigosa, que poderia levar a uma lesão hepática —, e o aplicativo não indicou nada de errado.)

As informações coletadas são armazenadas em um banco de dados que fornece dados epidemiológicos e de consumo dos usuários. Revela, por exemplo, uma predominância de medicamentos para pressão, diabetes, respiratórios e sistema nervoso central; um alto volume de notas fiscais emitidas nas regiões Sudeste, Sul e Nordeste; e sem predominância de gênero.

“São informações que têm muito a ver com as principais questões de saúde da população brasileira”, diz Zani. Protegidos pela LGPD, os dados não são disponibilizados para as empresas clientes, mas podem ser utilizados pela startup.

A HEALTHTECH AGORA ALMEJA CRIAR NOVOS MODELOS DE NEGÓCIO E INTERNACIONALIZAR SUA OPERAÇÃO

Hoje, além dos três sócios — Zani e Yudi ficam totalmente dedicados à empresa —, a Healward conta como uma equipe de sete desenvolvedores, uma pessoa no marketing digital e um engenheiro de dados.

A healthtech atingiu o break-even após dois anos de operação e já recebeu 1,5 milhão de reais em investimentos. O desafio atual é desenvolver novas funcionalidades e modelos de negócios. Zani afirma:

“A gente não nasceu pronto — e ainda não está pronto. Tecnologia é uma esteira, tem que trazer as melhorias e inovações sempre”

Entre as apostas estão possíveis parcerias com a Livelo, programa de pontos que ainda não explora o setor de saúde; a criação de um e-commerce dentro do app; e programas de assinatura com cashbacks maiores.

A internacionalização também está nos planos. O que justifica inclusive a manutenção do nome em inglês, meio enrolado para o público interno:

“Por conta disso nunca alteramos o nome, que é meio difícil para o Brasil”, diz Zani. “Não temos barreiras para atuar em outros mercados.”

 

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