Transformar a adesão ao uso de medicamentos em algo vantajoso para pacientes e farmacêuticas: essa é a proposta da Healward, startup fundada por um cirurgião vascular, um farmacêutico e um fisiatra.
Por meio de um aplicativo, a healthtech incentiva pacientes a seguirem os tratamentos corretamente, registrando horários e períodos de uso, e oferece cashback como recompensa.
Além de engajar os usuários, a empresa lucra com uma taxa cobrada sobre os valores devolvidos pelas indústrias farmacêuticas.
O primeiro passo para usar a Healward é fazer o download do aplicativo que, embora gratuito, exige um cadastro que inclui o compartilhamento de dados como data de nascimento, CPF e número de telefone.
Ao comprar o medicamento, seja na farmácia ou online, o paciente entra no aplicativo e escaneia o QR code da nota fiscal. O próprio app reconhece a medicação, e o paciente deve apenas preencher os horários de ingestão e a duração do tratamento.
Cabe ao usuário registrar quando tomou a medicação, como um check-in. O farmacêutico Vitor Zani, 39, cofundador e diretor de operações da healthtech, afirma:
“A gente atua momento na jornada do paciente logo após comprar a medicação, quando ele está sem nenhum profissional de saúde do lado — é ele com ele mesmo e o medicamento”
Ao final, o usuário recebe um cashback que varia entre 25% e 40% quando o benefício é patrocinado pela indústria farmacêutica, e entre 1% e 3% quando é pago pela própria Healward — um investimento próprio da startup para trazer mais usuários.
“Cobramos uma success fee, espécie de taxa de administração, de 10%”, afirma Zani. Ou seja, se a indústria, ao final do mês, teria de pagar 5 mil reais em cashbacks, a Healward ficaria com 500 reais.
Fundada em 2020, a healthtech acumula 280 mil usuários, que emitiram 490 mil notas fiscais em busca de cashbacks.
Conquistou clientes corporativos, como o Grupo NC, e laboratórios como EMS, Germed, Legrand, Nova Química e Novamed. E consolidou o modelo de negócios baseado na success fee e na criação de aplicativos white label específicos para certas marcas.
A ideia surgiu da experiência de outro Vitor, o cirurgião vascular paulista Vitor Gornati, 40, que frequentemente recebia pacientes com sintomas persistentes mesmo após a prescrição de tratamentos.
Dono da clínica Prime Care, em São Paulo, Gornati participou de um programa de liderança em Harvard entre 2018 e 2019, no qual precisou criar uma empresa. E pensou logo em resolver o desafio que enfrentava com os próprios pacientes.
Ao investigar o problema, percebeu que a baixa adesão à medicação era um dos principais obstáculos à eficácia dos cuidados médicos.
Segundo pesquisas da Healward, 85% das pessoas atrasam a ingestão de medicamentos, e em quase metade do tempo esquecem-se de tomá-los. Zani afirma:
“Esse índice é maior ainda em países em desenvolvimento como o Brasil. E acontece por diversos fatores, como dificuldades de acesso à medicação, por acharem que o tratamento não vai funcionar, receio dos efeitos colaterais e esquecimento dos horários”
Farmacêutico de formação pela USP, Zani também tem um MBA em marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). E acumulou 15 anos na indústria, em empresas como Takeda, Roche e União Química. Trabalhava em uma área de inovação recém criada na Raia Drogasil quando recebeu o contato de Gornati, seu antigo colega de colegial.
“Quando o Dr. Vitor idealizou a proposta da Healward, entrou em contato comigo para trazer a visão da indústria farmacêutica, que é um dos principais stakeholders da operação.”
A empresa já nasceu com o conceito de oferecer cashback. Zani afirma:
“A gente sabe que é uma dor. Ninguém gosta de comprar ou gastar dinheiro com medicamentos. Mas quando envolve uma questão de saúde, a pessoa pode ficar mais sensibilizada. Ter um benefício natural ajuda ainda mais a chamar o paciente para ter um tratamento legal e engajado”
O fisiatra Marcos Yudi, 40, que tinha experiência com tecnologia, dados e estratégias go-to-market, se juntou aos outros dois sócios.
Em pouco tempo, e com investimento inicial próprio, o trio contratou uma equipe de cinco desenvolvedores para tirar o aplicativo do papel e lançar o MVP em 2020.
Os dados da plataforma mostram uma taxa de 80% de adesão aos tratamentos entre os usuários do aplicativo
A Healward, porém, não tem controle se o usuário realmente tomou a medicação ou se apenas marcou que tomou.
“Vai da consciência de cada um. Não tem como forçar ou controlar ninguém no dia a dia. Temos a parte educativa, voltada para a saúde. E o apoio do médico e das farmácias. É um movimento educativo com recompensa”
(Também parece não haver controle das posologias; a repórter do Draft fez um teste inserindo a informação falsa de que teria de tomar 750 mg de paracetamol de hora em hora — uma dosagem perigosa, que poderia levar a uma lesão hepática —, e o aplicativo não indicou nada de errado.)
As informações coletadas são armazenadas em um banco de dados que fornece dados epidemiológicos e de consumo dos usuários. Revela, por exemplo, uma predominância de medicamentos para pressão, diabetes, respiratórios e sistema nervoso central; um alto volume de notas fiscais emitidas nas regiões Sudeste, Sul e Nordeste; e sem predominância de gênero.
“São informações que têm muito a ver com as principais questões de saúde da população brasileira”, diz Zani. Protegidos pela LGPD, os dados não são disponibilizados para as empresas clientes, mas podem ser utilizados pela startup.
Hoje, além dos três sócios — Zani e Yudi ficam totalmente dedicados à empresa —, a Healward conta como uma equipe de sete desenvolvedores, uma pessoa no marketing digital e um engenheiro de dados.
A healthtech atingiu o break-even após dois anos de operação e já recebeu 1,5 milhão de reais em investimentos. O desafio atual é desenvolver novas funcionalidades e modelos de negócios. Zani afirma:
“A gente não nasceu pronto — e ainda não está pronto. Tecnologia é uma esteira, tem que trazer as melhorias e inovações sempre”
Entre as apostas estão possíveis parcerias com a Livelo, programa de pontos que ainda não explora o setor de saúde; a criação de um e-commerce dentro do app; e programas de assinatura com cashbacks maiores.
A internacionalização também está nos planos. O que justifica inclusive a manutenção do nome em inglês, meio enrolado para o público interno:
“Por conta disso nunca alteramos o nome, que é meio difícil para o Brasil”, diz Zani. “Não temos barreiras para atuar em outros mercados.”
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