“Escolha um trabalho que ama e você não vai ter que trabalhar um único dia de sua vida”. Essa frase, atribuída ao pensador chinês Confúcio, que viveu há 2.500 anos, retrata o sonho de muita gente. Sem questionar a sabedoria do aforismo, se hoje fosse simples fazer isso, boa parte das pessoas que conhecemos provavelmente trocaria sua profissão para algo como instrutora de surfe ou chef de cozinha, encontraria mercado e viveria bem e feliz para sempre.
O que acontece na vida real é um pouco diferente. Muita gente acaba trabalhando menos com o que gosta, mas mais com o que é possível ou o que paga melhor ou o que permite que se dedique também à vida pessoal (ou uma série de outros “ous”). E bastante gente até gosta do que faz, mas na maior parte do tempo não está fazendo exatamente o objeto de sua paixão, mas sim outras “burocracias” relacionadas ao dia a dia da profissão.
Essas pessoas então estão condenadas a trabalhar de maneira infeliz? “Não”, responde, de forma enfática, a executiva Claudia Rizzo, gerente de produtos de bem-estar e saúde, que construiu sua carreira em relacionamento com clientes e, nos últimos cinco anos, dedicou-se a estudar sobre felicidade no trabalho. “A grande questão a respeito da felicidade tem a ver com o nosso comportamento em relação às coisas do cotidiano, a como enxergamos o que nos acontece.”
Claudia começou a interessar-se sobre o tema ao perceber que era crescente o volume de empresas que a procuravam informando que seus funcionários estavam perdendo a saúde mental – e, por isso, precisavam de atendimento psicológico (que a Sodexo oferece por meio do produto Sodexo Apoio Pass, com apoio psicológico, emocional, jurídico e financeiro aos colaboradores das empresas clientes).
“Temos uma visão de trabalho muito romântica, de pensar que de repente vamos ter uma epifania que vai, de alguma forma, nos transformar em uma pessoa feliz. E isso sempre foi um questionamento meu, porque parecia algo distante. Pensava: onde está essa tal felicidade?”, afirma Claudia.
Segundo a executiva, a resposta para isso é complexa e passa por estudos científicos realizados por pesquisadores como os psicólogos americanos Martin Seligman, da Universidade da Pensilvânia, e Sonja Lyubomirsky, da Universidade da Califórnia, além do físico indiano Amit Goswami, para determinar a composição da felicidade.
Uma “fórmula da felicidade” resultou desses estudos, que estabelece a seguinte equação: 50% dela têm um componente genético – ou seja, a pessoa nasce com essa predisposição. Outros 10% dependem de circunstâncias da nossa vida, como onde moramos, as pessoas com quem convivemos, nossa idade, quanto dinheiro temos.
“E 40% estão relacionados ao nosso comportamento intencional – e é aqui que temos que nos concentrar”, diz a executiva.
“A felicidade, portanto, tem muita relação com nosso comportamento. Ela não é uma coisa abstrata. É, sim, algo construído no dia a dia”, afirma Claudia Rizzo. “Tudo tem a ver com como você se comporta em relação às coisas que acontecem com você. É preciso, portanto, mudar seu olhar em relação ao trabalho e às coisas que acontecem na sua rotina.”
Para entender melhor isso e descobrir como podemos incorporar a felicidade em nosso trabalho, Claudia desfaz, abaixo, alguns mitos:
Em primeiro lugar, não é possível separar nossa vida pessoal de nossa vida profissional, como muitos acreditam. “Somos uma só pessoa. Uma coisa vai interferir na outra, não tem jeito”, diz Claudia. Por isso mesmo, e porque cada pessoa é diferente, não há uma fórmula mágica para ser mais feliz pessoalmente (e, portanto, também no trabalho). “Cada pessoa tem um jeito de encontrar algo. Uns precisam de religião. Outros, de filosofia. Para outros ainda, o esporte ajuda. Tem gente que é só sair correndo para começar a pensar melhor.”
“Um animal nunca questiona sua vida. O leão não vai acordar um dia e pensar que não pode comê-la. Animais não criam problemas para eles mesmos. Nós, humanos, criamos”, diz Claudia. Por isso, quando nos deparamos com algum problema no trabalho, nossa tendência é olhar tanto para aquilo que ele acaba ganhando uma proporção que não tem. É preciso saber distinguir um obstáculo pontual de algo realmente grave. “O próprio Dalai Lama afirma que há dois tipos de problemas”, afirma a executiva. “Um é o que podemos resolver – basta ir lá, portanto, e solucioná-lo. Outro é o que não tem solução. Não há motivos para se preocupar com nenhum deles portanto.”
Simplificar é a palavra. Para parecermos produtivos – para os outros e para nós mesmos –, fazemos tudo ao mesmo tempo: respondemos e-mail, entramos em reunião, falamos ao telefone, preparamos apresentação. “E nunca estamos 100% presentes nas tarefas. O corpo está lá, mas a cabeça não. E isso é um baita ladrão de felicidade”, diz Claudia. Estar presente na tarefa que realiza, portanto, é a solução.
Segundo um levantamento de 2018 do ISMA-BR (International Stress Management Association), 72% dos brasileiros entre 25 e 65 anos que estão no mercado de trabalho sofrem, em maior ou menor grau, com o estresse. Desse total, 32% pessoas são vítimas de burnout – e metade delas acaba desencadeando quadros depressivos. “Há uma preocupação genuína das empresas hoje com a felicidade de seus colaboradores, embora ainda sejam muito poucas as que fazem algo de fato”, diz Claudia.
“O trabalho, no modelo que está, adoece as pessoas.”
Por outro lado, as empresas também entendem os benefícios de ter colaboradores felizes. Pesquisas de universidade renomadas como a da Califórnia mostram que pessoas mais felizes têm 31% a mais de produtividade, conseguem vender 37% mais e são três vezes mais criativas. “É preciso transformar a empresa num lugar em que as pessoas estão felizes.”
Existe inclusive uma métrica para isso, o Índice de Felicidade no Trabalho (IFT). Com base nele, em parceria com a FIA (Fundação Instituto de Administração), a revista Você S.A. divulga anualmente um ranking das Melhores Empresas para Trabalhar – em 2019, aliás, a Sodexo foi eleita a melhor empresa na categoria Benefícios e uma das 150 melhores do país.
O estresse sentido no ambiente de trabalho muitas vezes, de acordo com a executiva, não é culpa do trabalho em si, mas sim do líder. “É importante que as empresas tomem cuidado com o tipo de gestão que seus executivos estão fazendo, o quanto eles apertam seus subordinados e quanto isso interfere na saúde deles”, afirma a executiva.
Por que quem trabalha na sua própria startup costuma ser feliz? “O sujeito escolheu estar lá, inventou aquele negócio. Ele chamou amigos que acreditam naquilo. Não é exatamente o modelo que faz o negócio dar certo, são as pessoas. É a alegria, o envolvimento delas, a capacidade de produzir.”
Isso tudo pode ser conseguido em qualquer empresa. Se o colaborador sentir-se valorizado e motivado por seus superiores, sua tendência é ser mais feliz. Assim como quando ele entende que os propósitos da companhia convergem com seus pessoais. Ou quando percebe de que a companhia se preocupa com sua saúde e qualidade de vida.
“Cabe à empresa prestar atenção em seu colaborador e dar a ele a liberdade de ser quem é – e não estou me referindo apenas ao ponto de vista pessoal, do respeito e da diversidade”, diz Claudia Rizzo. “É profissionalmente mesmo. Muita gente faz muito bem o trabalho e o chefe o promove e isso acaba com a pessoa.”
“A empresa tem obrigação de, quando identificar um talento, dar a ele a oportunidade de dizer o que quer.”
Para Claudia, isso não costuma ser uma opção. “Se o sujeito falar que não quer ser promovido, ele está frito. Com medo de dizer não, aceita a promoção e começou aí seu ciclo de infelicidade. O líder tem que aproveitar os talentos no lugar certo, e não querer se aproveitar do talento da pessoa para algo que ele precisa”, diz.
“Costumo dizer que, quando passamos o dia inteiro com uma pessoa rica, não ficamos rico. Quando passamos o dia todo com uma pessoa bonita, também não ficamos mais bonito. Mas quando passamos o dia todo com uma pessoa infeliz, saímos dele contaminados.”
Muito além de política pública, passou do tempo de equidade racial estar apenas na agenda de responsabilidade social de empresas no Brasil. Saiba o que grandes organizações, como a Sodexo, estão fazendo em prol dessa causa.