Os cientistas da computação Diego Nogueira e Davi Reis, ambos com 37 anos, passaram uma década trabalhando no Google. Por lá, lideraram projetos de grande repercussão mundial até que, no início de 2015, coincidentemente, decidiram buscar novos ares. Amigos dos tempos de faculdade, se encontraram em um dos milhares de botecos em Belo Horizonte para falar dos novos planos e perceberam que no fundo buscavam a mesma coisa: criar algo disruptivo, de alta tecnologia e com potencial de impacto muito grande. Assim nasceu a WorldSense.
Basicamente, a startup é um marketplace que faz a ponte entre sites de notícias e anunciantes. Mas não é só isso. A parte disruptiva, “de alta tecnologia e com potencial de impacto” — e que demorou dois anos para ser desenvolvida — é o software capaz de inserir o link da publicidade dentro de um texto que fale de algo relacionado à marca. E esse link leva ao site da marca, em uma página que oferece conteúdo relacionado ao texto que o leitor estava consumindo. Deu para entender? O Diego conta mais:
“Somos a única rede de publicidade que respeita o conteúdo publicado, coloca as marcas no foco da atenção, na parte mais importante daquela página e ainda valoriza a experiência de leitura, sem interromper, sem ser agressivo”
A seu ver, este é um novo modelo a ser explorado pelos sites de notícias, que corre em paralelo aos velhos conhecidos de grande parte dos leitores: os banners, pop-ups e afins. E isso Diego faz questão de deixar claro: seu produto não compete com nenhuma outra forma de publicidade na internet. Por consequência, acaba atraindo um novo público, aquele que não costuma clicar em anúncio. Ou seja: ouro puro.
TECNOLOGIA COMPLEXA, FUNCIONAMENTO SIMPLES
A tecnologia desenvolvida envolve machine learning, inteligência artificial e se arrisca em um local que nunca ninguém conseguiu inserir publicidade com sucesso: dentro do texto. Mas o modo como o negócio funciona é aparentemente simples.
A WorldSense primeiro precisa dos veículos de comunicação interessados em ter esse tipo de publicidade. Depois, é necessário buscar empresas que queiram fortalecer a marca e não necessariamente aumentar as vendas. Isso porque, quando começaram a testar o produto que haviam desenvolvido, Diego e Davi descobriram que o usuário, quando está lendo uma notícia, geralmente não está interessado em comprar. Portanto, o link mais funcional para a publicidade seria o de associar à marca a aquele conteúdo, ou seja, de aprofundar o conhecimento.
Por exemplo: uma empresa de tecnologia informa que quer aparecer em todas as notícias relacionadas à Indústria 4.0. O software então passa a procurar dentro dos sites parceiros da WorldSense quais notícias foram publicadas referentes a este assunto e em qual parte do texto o anúncio seria mais eficaz. Em seguida, o link é inserido dentro de cada uma dessas notícias, direcionando a uma página no site da empresa com mais informações sobre a Indústria 4.0.
Atualmente, a WorldSense tem como parceiros de conteúdo o Grupo Abril de Comunicação, O Grupo NZN (dos sites Baixaki, TecMundo, Superdownloads, entre outros) e os Diários Associados. As marcas que anunciam são muitas, mas oscilam entre 30 e 50 clientes ativos. Entre eles, Totvs, IBM e Intel.
AMIGOS NA FACULDADE, PARCEIROS NO GOOGLE E AGORA SÓCIOS
Diego e Davi são contemporâneos do curso de ciências da computação, na Universidade Federal de Minas Gerais. Também quis o destino que trabalhassem no Google em Belo Horizonte no mesmo período. Entre os feitos na gigante de tecnologia, Davi liderou o time que criou o anúncio patrocinado em rede social. Por sua vez, Diego implementou o Google Mapas em mais de 20 países. Nos últimos anos na empresa, eles fizeram parte do mesmo time, no projeto de criação do Google Local Search, feito do Brasil para o mundo. O lançamento foi em 2014 e teve grande repercussão. Basta dar um Google para comprovar.
Depois disso, coincidentemente, sentiram falta de fazer algo diferente e, sem combinar, deixaram o emprego na mesma época, no início de 2015. Diego queria tirar um sabático de seis meses e depois empreender. Davi pretendia fazer doutorado em recuperação de informação e entendimento de texto. Em uma conversa de bar, um ficou sabendo do plano do outro. E aí Diego conta: “Eu disse para ele fazer o doutorado na minha empresa então. E foi assim que nasceu a WorldSense. A visão tecnológica dentro de um espaço que desse para criar uma coisa muito diferente do que existe e ser muito disruptivo”.
Acabou que Diego não teve tempo de descansar e Davi gostou da ideia de empreender. Juntos investiram parte das economias, conversaram com mais alguns amigos e levantaram um total de 600 mil reais para iniciar os trabalhos. Nos primeiros meses, alugaram algumas cadeiras em um coworking, em Belo Horizonte. Os sócios não tinham retirada e o dinheiro arrecadado pagava o desenvolvimento do produto, dois estagiários e um funcionário.
Os amigos que tinham blogs também colaboraram com o desenvolvimento do produto e forneceram suas páginas para teste. Diego e Davi pediam a senha do ADM (administrador de uma página de conteúdo online), incluíam o código javascript (que permitia a inserção dos links) nas notícias e analisavam o resultado. Foi aí que tiveram a certeza que o negócio iria para frente. Mas ainda faltavam alguns ajustes. O anúncio mostrava que havia engajamento com o leitor, que o link atraia atenção, mas o momento não era de conversão, não era de compra. Diego fala:
“Nos testes, percebemos que nosso produto servia para posicionar a marca frente a um conceito. Torná-la autoridade em um assunto”
Sabendo que rumo iriam trilhar, os sócios viajaram ao Vale do Silício em 2016 para conversar com especialistas do meio. Diego lembra que o responsável pelo Google Ventures foi um dos entusiastas do negócio e os apresentou ao fundo brasileiro de investimento Monashees.
A viagem não tinha o objetivo de buscar investidores, mas o feedback altamente positivo fez com que os sócios passassem a conversar com gente disposta a colocar mais dinheiro no negócio para que pudesse finalmente funcionar. A Monashees e mais cerca de sete investidores anjo aportaram, então, um milhão de dólares na WorldSense. Diego e Davi não revelam a porcentagem vendida de ações, mas ainda possuem o controle majoritário da empresa. O dinheiro deu fôlego para aumentar a equipe e as vendas começaram, de fato, em janeiro de 2017.
A IMPREVISÍVEL MISSÃO DE SURFAR NAS NOTÍCIAS
O modelo de negócio funciona como a oferta de um serviço pré-pago. O cliente coloca o crédito e o valor vai sendo debitado à medida que o link da marca aparece nas notícias dos sites parceiros da WorldSense. Não há como prever o tempo que demorará, porque depende da pauta. A notícia é publicada sem interferência da WorldSense. Diego diz que sua startup “apenas surfa no conteúdo”.
Vai do cliente ser super específico ou abrir o leque para mais opções. Uma clínica de fertilidade, por exemplo, pode acompanhar a gravidez de uma super celebridade e ter o link vinculado a todas as notícias dessa celebridade durante sua gestação. Ou participar apenas de reportagens que falem sobre tratamento de fertilidade, o que não é tão constante. A oportunidade é proporcional.
A precificação do negócio também é bem variável. Vai de 12 reais por mil visualizações ao preço fixo de mil reais por intervenção em um artigo que seja muito específico. Hoje há três formatos para o cliente escolher.
O primeiro é o de inserir apenas um link com “saiba mais”. A segunda forma é incluir uma nota de cinco a seis linhas dentro da notícia, mais o link. E a terceira é a notícia inteira ser patrocinada pelo cliente. Esta última inclui a marca da empresa aparecer no início e no pé da reportagem, com uma breve justificativa sobre o motivo de apoiar aquele texto.
O dinheiro pago pelo cliente é repartido com o meio de comunicação em porcentagem de acordo com o mercado. Varia de 50% a 70% para o site e 50% a 30% para a WorldSense. O veículo parceiro ainda tem alguns benefícios ao se associar à startup. Gratuitamente, é oferecido o serviço que ajuda a mídia a encontrar links relacionados a um conteúdo publicado e, ainda, um relatório de audiência.
A WorldSense atualmente estuda três novos formatos para serem implementados, todos em publicidade dentro do texto. Anunciar em vídeo e áudio não são cartas fora do baralho. Ainda sem pensar muito em break even, o foco para 2018, segundo Diego, está em buscar mais clientes. E, possivelmente, abrir mais uma rodada de investimentos. Por isso, optaram por não revelar o faturamento do ano passado.
“O nosso principal desafio agora é construir um canal de aquisição de clientes que a gente consiga ter acesso a várias empresas, principalmente o perfil de médias empresas que a gente acredita ter atendido melhor. Nosso próximo desafio é escalar essa operação de mercado até ter a confiança de que achamos um caminho para fazer isso”, diz o empreendedor.
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