Quantas notícias você já leu sobre o casamento de Meghan Markle e do príncipe Harry? Quanto tempo já perdeu discutindo ou torcendo para o romance de Bruna e Neymar ou de Kim Kardashian e Kanye West? E o quanto já dedicou a ouvir a história de amor dos seus avós?
Se a história que te trouxe até aqui desperta menos interesse do que a de famosos desconhecidos, talvez o motivo seja falta de curiosidade. Mas também pode ser aquele velho preconceito arraigado. “Os idosos costumam ser invisíveis socialmente”, diz o especialista em gerontologia Diego Felix Miguel. “A pandemia trouxe uma visibilidade para essas pessoas, mas ainda é importante lembrar que eles também têm desejos afetivos e românticos. O confinamento reforçou a importância de ter um companheiro para atravessar esse momento, para que ele se torne menos difícil.”
Pensando nisso, a Zissou, marca especialista em artigos de sono, decidiu resgatar e celebrar histórias de amor reais de casais da terceira idade para servir de alívio nesses tempos pandêmicos –e de inspiração nesse Dia dos Namorados.
“Fomos forçados a viver em confinamento com a chegada do vírus. Para a maioria, isso é temporário, mas essa é a dura realidade cotidiana da velhice”, diz Ilan Vasserman, sócio-fundador da Zissou.
A vontade de fazer uma ação voltada para a terceira idade veio também da observação de que as marcas não costumam ter empatia com os idosos pela falta de conectividade tecnológica desse público.
“O momento do Dia dos Namorados foi um incentivo para nos aproximarmos do centro de convivência da terceira idade Convita, onde conhecemos histórias inspiradoras de relacionamentos íntimos: de casamentos de várias décadas até reencontros amorosos após grande perda”, conta Ilan. “E esperamos compartilhar um pouco da conexão com a realidade dessas vidas tão especiais.”
Quando o jovem Giuseppe Lisa aceitou, a contragosto, o convite do irmão para “dar um pulinho” no parque do Ipiranga, em São Paulo, ele nem se arrumou: foi de short e chinelo. Não desconfiava que aquele passeio mudaria sua vida. Os dois encontraram duas primas muito bonitas e conversaram. Quis o acaso que, na hora em que decidiram dar uma volta de carro no quarteirão, Giuseppe se sentasse junto com Valdelena, e seu irmão com a prima dela. “O destino decidiu que seria assim.” A relação do outro casal durou pouco. E, 54 anos depois, Giuseppe e Valdelena ainda estão juntos.
A rotina de passeios do italiano de Salerno e da “caipira de Palmital” (SP), no entanto, ficou pra trás desde que a pandemia de Covid-19 começou. “A gente não é de ficar em casa e passamos o ano inteiro trancados”, diz ele. “Foi a pior coisa que poderia ter acontecido. Mas a companhia da Valdelena foi fundamental. Se ela não estivesse comigo, acho que eu já tinha ido também.”
Sem furar a quarentena, o casal teve um gostinho da vida lá fora na semana passada, quando recebeu em casa um jantar para celebrar o Dia dos Namorados, promovido pela Zissou –com direito a vinho, flores e balões. “Trouxe lembranças do passado, de como começou o nosso encontro e, ao mesmo tempo, deu um alívio na pandemia”, diz Valdelena. “Foi espetacular.”
Em 46 anos de casados, Giuseppe e Valdelena não tinham mais comemorado a data. “Foi a primeira vez. Depois que a gente casa e tem filhos, se esquece da gente.” Recuperaram do passado também o velho hábito de escrever declarações de amor:
“Esses 46 anos juntos foram os mais felizes de nossas vidas”, dizia a cartinha de Valdelena. Na sua, Giuseppe exaltou a companheira de tantos anos: “Realizou os meus sonhos”.
“Liberte seus Sonhos” é o mote da campanha da Zissou, que promoveu a comemoração antecipada de Dia dos Namorados e também presenteou os dois com travesseiros. Como parte da ação, no Dia dos Namorados, 5% das vendas da marca serão revertidos ao Convita, centro de convivência para a terceira idade ligado à comunidade italiana, em São Paulo, e frequentado por Giuseppe e Valdelena. A instituição ajuda idosos em situação de vulnerabilidade social ao mesmo tempo em que oferece cursos e atividades para a promoção do envelhecimento ativo.
Uma das populações mais vulneráveis para a Covid-19, os idosos se viram obrigados a se isolar com mais rigor durante a pandemia e, assim, se afastar da convivência com filhos, netos e amigos. E aqueles que vivem em instituições de longa permanência se viram, de repente, privados das tão aguardadas visitas. “Ao mesmo tempo em que foram rotulados como grupo de risco, o que envolve muitos preconceitos, eles também tiveram que se adaptar e criar redes de apoio”, diz Diego Miguel, que também é gerente do Convita.
Diante do isolamento forçado da família e de amigos, muitos idosos puderam contar com a cumplicidade de seus parceiros. E outros resolveram se abrir para o amor em tempos de pandemia. Pelo Brasil e pelo mundo, pipocaram notícias de idosos que vivem em instituições e que se apaixonaram e até se casaram em meio à pandemia –e também por causa dela.
“Imagina pro idoso passar por esse turbilhão sozinho, sem ter pessoas por perto que possam ser um contraponto de carinho e afeto e lembrá-los da sua importância?”
Para Francesco Pandolfi, 83, esse porto seguro em meio ao confinamento é Marli, 72, sua namorada há quatro anos (“Namorada não, mulher!”, ele corrige). Os dois se conheceram num espaço de convivência para idosos, em São Paulo, onde ele fazia aulas de dança, e ela, de computação.
Os dois eram viúvos e, num dia frio, ele a convidou para tomar um chocolate quente. “A gente tá velho. Podemos formar um casal”, propôs Francesco. Marli topou. Desde então, os dois vivem em casas separadas, mas ficam juntos todos os finais de semana na casa dele. O casal também foi presenteado com travesseiros Zissou e trocou cartas para celebrar o Dia dos Namorados.
“Eu passo os dias muito sozinho, então, quando ela vem ficar três dias, é uma ‘meraviglia’”, diz o italiano, que também frequenta o Convita. Marli é fundamental, ele diz, para que consiga enfrentar esses tempos pandêmicos.
“Quando fico com saudade durante a semana, arranjo uma desculpa e vou na casa dela tomar um cafezinho.”
Francesco sonha em, depois que tudo isso passar, voltar a fazer viagens com Marli e aproveitar ao máximo a vida enquanto pode. Giuseppe, que esqueceu as bodas de prata, planeja comemorá-las junto com as de ouro daqui a quatro anos. Já Valdelena deseja que o casamento ainda dure muito –“e com saúde”.
“O sonho é fundamental porque a gente só vai superar esse momento se tiver uma projeção do que será o depois”, lembra Diego. “E, com o aumento da expectativa de vida, quem está com 60 anos ainda pode ter mais 20, 30 anos de vida pela frente. Ainda dá tempo para realizar muitos sonhos.”