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Depois de quase falir e recomeçar, a Polifonia quer se firmar como uma escola de protagonismo criativo

Luisa Migueres - 26 abr 2016 Expulso de oito (isso mesmo, oito) escolas, Daniel Gurgel resolveu criar sua própria maneira de ensinar protagonismo a empreendedores.
Expulso de duas escolas (e suspenso "infinitas vezes"), Daniel Gurgel resolveu criar sua própria maneira de ensinar protagonismo a empreendedores.
Luisa Migueres - 26 abr 2016
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Daniel Gurgel sempre sofreu para se adaptar à escola. Ao todo, estudou em oito. Chegou a ser expulso de duas na adolescência e foi suspenso inúmeras vezes. Um verdadeiro nômade, que se sentia “em regime semiaberto”. Hoje, aos 29 anos, ele está à frente de – pasmem – uma escola. Mas uma escola diferente, já que a Polifonia nasceu exatamente dessa insatisfação com o ensino tradicional.

A fagulha para empreender em educação surgiu em 2012, logo depois das faculdades (de certa forma repetindo o padrão anterior, ele passou por três cursos: Cinema, Publicidade e Filosofia). Mas agora Daniel não estava sozinho, os amigos Marcos Amado e Pedro Camarote também compartilhavam do sonho de ter uma escola diferente, mais livre, inspirada em exemplares europeus, como a dinamarquesa Kaos Pilot. Na época, aqui no Brasil, a Perestroika também pavimentava o seu caminho de cursos livres e atividades criativas e chamou a atenção do trio.

Como a maioria das startups, o início foi bem difícil. Eles enfrentaram a barreira comum que é se dar conta de que seu melhor sonho não necessariamente dará dinheiro. “O foco, até então, era oferecer cursos de arte e cultura, tipo ‘A História (mal-contada) da Arte’, mas essa linha não dava retorno financeiro”, conta ele. Uma outra alternativa, pensada pelos então três sócios, era servir de hub, hospedando iniciativas de educação de escolas do mundo todo. As escolas parceiras entregariam os cursos e a Polifonia usaria essa expertise para criar o seu próprio programa depois. Não deu certo. Em pouco tempo, a empresa se mostrou frágil demais para seguir:

“Um ano de pesquisas e nosso primeiro modelo de negócios foi para o saco. Não tínhamos as ferramentas nem a experiência necessárias para empreender”

O jeito foi recomeçar. Do zero. Nessa fase, Marcos e Pedro saíram de campo e Daniel também se afastou do projeto. Ele deixou o CNPJ aberto e se mandou para a Holanda, com uma bolsa de estudos para um curso de Liderança Criativa em Amsterdã. Lá, passaria quatro meses “desconstruindo padrões e conhecendo modelos híbridos de ensino” na renomada THNK, School of Creative Leadership. Ele considera este período fundamental para respirar e decidir seguir adiante com o seu projeto, mas o baque não foi fácil. “Fiquei sem chão”, diz.

COM AS PARCERIAS CERTAS, O JOGO VIROU

Na volta ao Brasil, Daniel decidiu arrumar a casa para recomeçar. De cara, aproveitou os contatos da vivência na Holanda e ofereceu uma parceria com a própria THNK. A partir daí, o jogo começou a virar. “Dei muita sorte, também, de encontrar um investidor-anjo nessa época, que já havia investido na Escola Viva, e também o Lucas Foster, da ProjectHub”, conta. Outra parceria importante foi com a consultoria de inovação Mandalah, que também corria atrás de um projeto de liderança criativa. Liderança criativa. Era isso que a THNK fazia, mas o problema é que esse termo trazia, na opinião dos idealizadores da Polifonia, uma noção de hierarquia — a antítese do que eles queriam propor. Foi, então, preciso uma série de discussões, que culminaram em um novo conceito, o “protagonismo criativo”. Daniel conta: “A união dessas duas palavras ficou poderosa. Começamos a pesquisar escolas que tinham cursos mais longos, em que as pessoas conviviam juntas durante meses para desenvolver competências”.

Marcos Hashimoto participa de uma experiência. Na Polifonia, o autoconhecimento e as trocas são as chaves para desenvolver lideranças criativas.

O sócio Marcos Hashimoto participa de uma experiência. Na Polifonia, o autoconhecimento e trocas como essas são as chaves para desenvolver lideranças criativas.

Mais uma vez, alguns exemplares lá de fora serviram de inspiração, caso da Hyper Island e da Knowmads, ambas escolhas que propõem uma regularidade maior aos participantes. Para desenvolver líderes criativos, elas apostam em um ensino menos rígido, baseado em exercícios de convivência.

Em 2014, enquanto se debruçava sobre referências, Daniel consolidou, enfim, as duas alianças mais importantes para a Polifonia dar certo. A primeira, com a própria THNK, que aceitou a sua ajuda para promover o seu Global Creative Leadership Program no Brasil. A segunda, com Marcos Hashimoto, 52 anos, empreendedor, professor, mentor de startups e hoje sócio de Daniel.

Os dois juntaram forças para dar uma cara definitiva para a escola: desde formular toda a estrutura do curso até colocar sua sede no mapa. Sim, ter uma sede é algo definidor da Polifonia. Em tempos de trabalho remoto, por que oferecer custos fixos com um lugar específico? “Muitos especialistas em economia criativa diziam que não podíamos ser um ‘hardware’, mas era muito importante termos a presença real das pessoas, e não só virtual”, diz Daniel.

Esse espaço, que fica no bairro de Pinheiros, em São Paulo, seria o lugar onde as diversos alunos se encontrariam para compartilhar conhecimento. Daí o conceito que batizou a escola, aliás. Polifonia é a junção de muitas vozes em um só texto ou melodia. Exatamente o que Daniel busca com o seu projeto.

QUAL É O VALOR DE UMA ESCOLA PARA QUEM QUER DESAPRENDER?

A escola é dividida em três partes. A primeira propõe Desafios de Solução, onde os alunos usam ferramentas de Design Thinking para propor uma solução inovadora e de alguma relevância global. Já os Desafios de Atitude exploram o trabalho em grupo, comprometimento, autoconhecimento e atitudes de protagonista. Os de Realização, por último, utilizam técnicas de gestão de projetos para conduzir uma ação em grupo. Há ainda um braço de workshops na Polifonia. “Nós criamos sistemas previamente e convidamos facilitadores. Ainda temos coaches disponíveis, que no final de cada módulo avaliam o que os participantes aprenderam e trocaram entre si”, diz Daniel. Para valorizar esses profissionais, o co-fundador conta que a escola subsidia dois terços das sessões individuais oferecidas por eles.

Registro da primeira turma da Polifonia, no curso que aconteceu no fim do ano passado.

Registro da primeira turma da Polifonia, no curso que aconteceu no fim do ano passado.

Para o curso funcionar do jeito que os sócios idealizaram, a turma precisa ser heterogênea. O objetivo é tirar os participantes do “automático” e tornar a troca de experiências mais rica. O piloto do curso foi, finalmente, aberto em outubro do ano passado e a primeira turma foi formada por executivos, empreendedores comerciais, líderes do setor público e terceiro setor. O investimento inicial, de 300 mil reais, bancou essa estreia, assim como os custos operacionais marketing, capital de giro, equipe, instalações e desenvolvimento do programa.

Durante a vivência, eles fizeram exercícios que desenvolveram o autoconhecimento. “O primeiro passo é o da maestria pessoal. Identificar suas forças e fraquezas”, conta Daniel. Depois, o curso foca em desenvolver capacidades de empreendedorismo, liderança e design.

Este curso pode custar de 5 a 11 mil reais, mas o valor depende de muitos aspectos, incluindo os projetos já realizados pelos candidatos. Por se tratar de uma escola não convencional, nem sempre é fácil de explicar o valor da Polifonia para alunos em potencial. Mas Daniel percebe que a busca cada vez maior de empreendedores por ferramentas de inovação tem ajudado o seu negócio. O recrutamento da Polifonia é feito em workshops realizados com essa finalidade. Neles, os interessados aprendem sobre a Polifonia e se inscrevem para um processo seletivo. A primeira imersão acontece no interior de São Paulo e ao todo o programa dura cinco meses.

A IMPORTÂNCIA SE REINVENTAR

Ainda em fase de muitos testes, mas finalmente próximos do break-even, os sócios não abrem informações sobre faturamento. Daniel costuma dizer que, até agora, todo o dinheiro investido naquele início tortuoso foi “drenado”, porque ele voltou em forma de muitas lições: “Ainda temos limitações de equipe e recursos, mas cada vez mais a escola se firma como uma referência em liderança criativa”.

Passado aquele momento ruim em que ele quase faliu, o idealizador diz entender, hoje, os motivos que levaram a primeira versão de seu negócio para o ralo e acredita que aquela primeira ruptura foi fundamental para o empreendedor que ele é hoje:

“Saí da posição confortável, de trabalhar com amigos e fui atrás de quem tinha mais conhecimento de negócios. Entendi que sócios muito parecidos não se complementam nem compensam as suas fraquezas”

Além disso, ele diz, a empresa conseguiu reagir rapidamente, a ponto de não espantar seu investidor inicial nem sugar o entusiasmo do fundador. Agora, ele diz que a escola está atingindo as metas de vendas e participantes. Além disso, a missão da Polifonia ficou clara: oferecer uma experiência que ajude empreendedores e intraempreendedores a enfrentar seus desafios, usando o autoconhecimento e trocando experiências para que eles sejam capazes de empreender melhor e desenvolver competências. Bem parecido com o que o próprio Daniel aprendeu nesses quatro anos.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Polifonia
  • O que faz: Escola de Protagonismo Criativo
  • Sócio(s): Daniel Gurgel e Marcos Hashimoto
  • Funcionários: 5 (incluindo os sócios), além de facilitadores contratados por projeto
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2012
  • Investimento inicial: R$ 300 mil (aproximadamente)
  • Faturamento: NI
  • Contato: [email protected]
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