Quando a Lilit, de mini vibradores de clitóris, e a Feel, marca de cosméticos com fórmulas naturais para o bem-estar íntimo feminino, surgiram, em 2020, o ecossistema de startups brasileiro ainda falava timidamente sobre femtechs e sextechs, mas as duas fundadoras já estavam imersas no assunto há pelo menos dois anos.
O Draft chegou a perfilar os negócios aqui e aqui. Corta para 2022. As duas femtechs sobreviveram e até cresceram na pandemia, quando o sexual wellness se tornou pauta em meio ao isolamento social.
Apesar de terem o mesmo propósito, oferecer soluções criadas por e para mulheres a fim de melhorar o bem-estar íntimo delas, não dava para imaginar que as duas empresas se transformariam numa única marca, a Feel&Lilit, em junho deste ano.
A fusão de duas “concorrentes” é um movimento pouco visto no mercado e que prova que a sororidade não é só discurso da boca para fora entre as mulheres. No mundo dos negócios, a sororidade ajuda também empreendedoras a crescerem juntas e a mostrarem para o mercado todo seu potencial.
Aliás, nem é preciso mostrar muito, os dados falam por si. Segundo o instituto Allied Market Research, este setor movimenta mais de US$ 50 bilhões por ano globalmente e a expectativa é alcançar um faturamento de US$ 108 bilhões no mundo em 2027.
Por enquanto, cada marca vende em seu próprio site; os itens da Lilit também são encontrados no e-commerce da Feel e vice-versa, mas a ideia é, em breve, ter uma plataforma única.
Agora, o foco da femtech, além de fortalecer a aliança, é produzir cada vez mais conteúdos significativos para as suas clientes. Hoje, para isso há um blog, materiais gratuitos (como esse mini-curso sobre masturbação prazerosa) e uma página de contos eróticos. Outra meta, claro, é chamar a atenção dos investidores, porque esse mercado continua quente!
Leia a seguir a entrevista com Marina Ratton e Marília Ponte, cofundadoras da Feel&Lilit:
Como e quando surgiu a ideia de unir as marcas?
MARINA: A união das marcas surgiu da grande sinergia entre as duas empresas e as suas fundadoras.
A Marília e eu criamos as femtechs no mesmo período, em outubro de 2020, no meio da pandemia.
Já de cara nos identificamos e tínhamos os mesmos propósitos, fizemos várias parcerias e o nosso “namoro comercial” evoluiu até chegar no casamento, como costumamos chamar
A Feel é a marca mãe e a Lilit, uma linha dentro da Feel.
Quais são as complementaridades e sinergias das duas?
MARÍLIA: Acreditamos que os tabus devem ser quebrados e que falar de sexualidade, saúde e bem-estar íntimo é cada vez mais necessário.
Vivemos uma realidade em que as mulheres são as maiores decisoras de saúde e as que mais gastam com cuidados e produtos para o bem-estar íntimo
Feel acredita no autocuidado, autoconhecimento, liberdade e prazer, assim como Lilit.
Para a empreendedora da Lilit, o que a Feel e a Marina agregam?
MARÍLIA: Empreender é uma jornada muito solitária mesmo quando contamos com time, parceiros, investidores e apoio dos nossos.
A melhor decisão foi estar aberta para uma possível sociedade desde o início. É como optar por uma corrida em time, em revezamento, ao invés de uma maratona solo.
A sociedade com a Marina é esse casamento que agrega diariamente para o meu desenvolvimento pessoal e principalmente para o crescimento do nosso negócio.
E para a empreendedora da Feel, o que a Marília e a Lilit trazem de ganho para o negócio?
MARINA: A Lilit reforça o conceito de que a saúde sexual feminina precisa de cuidado.
Quando falamos de um device, um vibrador, além de prazer, estamos falando da região pélvica mais irrigada e fortalecida com os espasmos e contração de prazer
Esse conceito só é possível com a vinda de Lilit. Além disso, a Feel ganha uma das melhores sócias que uma empresa pode sonhar.
Marília, além do know how adquirido acompanhando tantos empreendedores Endeavor, tem um olhar especial e focado nas pain points das clientes.
O que mudou desde a fusão?
MARINA: Nós estamos desenvolvendo um único site e levando, além de produtos e soluções, conteúdos sobre saúde, sexualidade e bem-estar íntimo de forma bem didática.
O objetivo é ser uma Amazon da sexualidade, que além de ter produtos, ofereça conteúdo educativo para nossas clientes
Também estamos ampliando a nossa participação no mercado de sexual wellness e fechando parcerias com outras marcas, como Renner e Cantão, por exemplo.
Houve algum desafio mais específico nesta união?
MARÍLIA: Como em qualquer empresa e parceria comercial, desafios sempre existem, mas no nosso caso foi conduzido de uma forma muito segura e com bastante cuidado.
Levamos o tempo necessário e aparamos todas as arestas antes de divulgar para o mercado [a divulgação aconteceu aqui].
Que tipos de produtos e estratégias estão sendo desenhadas nesse novo contexto?
MARINA: Temos muitas novidades sendo desenvolvidas para o primeiro semestre de 2023, como um site conjunto, onde vamos abrir mais espaço para relatos das nossas consumidoras e abastecê-lo com conteúdos educativos sobre sexualidade.
Em termos de produtos, temos o Óleo Calmante Feel, pré-lançado novamente agora em outubro
A partir de pesquisas com a nossa comunidade de mulheres, ele passou a ter mais propriedades e pode ser usado no pré e pós-depilatório (axilas, virilha e bumbum) e também na vagina e área externa da vulva.
O mercado de sexual wellness ainda enfrenta muitos preconceitos e tabus. Vocês acreditam que juntas é mais fácil criar estratégias para quebrar essas barreiras?
MARÍLIA: Sem dúvidas, o mercado de sexual wellness é promissor, porém ainda rodeado de tabus e preconceitos, muito pela falta de conhecimento das pessoas.
Quando falamos em bem-estar íntimo não estamos falando apenas de sexo e sim de toda a jornada de saúde da mulher, que precisa de atenção e informação.
Juntas, nós nos fortalecemos enquanto femtech e traçamos metas e objetivos em comum: ampliar o debate sobre saúde e sexualidade feminina, visando atrair maior atenção e investimento dos fundos nas femtechs.
A Feel&Lilit faz parte do Femtechs Brasil. Como a associação está ajudando a posicionar a marca e a difundir o movimento das femtechs no Brasil?
MARINA: O Femtechs Brasil é um movimento que reúne femtechs brasileiras e suas fundadoras, que são engajadas na luta pela ampliação do mercado e atração de mais investimento.
Nosso objetivo é mostrar a importância de se falar sobre saúde, sexualidade, maternidade e bem-estar íntimo feminino
E o movimento ajuda na divulgação das nossas ações e fortalece a construção da nossa identidade junto ao mercado.
Marilia Ponte sempre se considerou bem resolvida sobre sexualidade, até perceber que se sentia desconfortável em sex shops. Ouviu milhares de mulheres sobre prazer e masturbação para desenvolver o primeiro produto de sua sextech: um mini vibrador de clitóris.
A diretora Stephanie Seitz conta como é trabalhar em família na indústria de brinquedos eróticos e cosméticos sensuais, fala sobre tendências do setor e o impacto da pandemia nas demandas do público (além de revelar o seu produto preferido).