Gisela Blanco, que assina este texto, é jornalista mestre em Business Innovation pela University of London.
Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…
AGILE METHODS
O que acham que é: Algo relacionado a programação, talvez um tipo de linguagem.
O que realmente é: Um conjunto de métodos guiados pelas mesmas regras que ajudam programadores de softwares a trabalharem melhor, principalmente em equipe. Tudo para tentar deixar o trabalho deles mais ágil, como o nome já diz. Assim como os conceitos de Lean Startup e o de Design Thinking, o Agile Method tem por princípio priorizar o usuário, a colaboração e a prática. “É preciso responder rapidamente a mudanças e ter decisões emergindo do próprio time, sendo construídas com bate-papos e não com reuniões formais”, afirma Manoel Pimentel, chairman da Agile Alliance Brazil. Como dito, valores como a colaboração e a prática devem ser colocados à frente de outros mais formais, como documentar todos passos e seguir fórmulas. “Imagine o Agile como um grande guarda-chuva conceitual. Dentro dele, temos várias metodologias: Scrum, XP, FDD e Safe, por exemplo”, diz Pimentel. Na filosofia Agile, é preciso também praticar o desapego. Se os usuários não gostaram de alguma funcionalidade de um software, a equipe deve substitui-la por outra que tem mais demanda (mesmo que tenha dado um baita trabalho para programar aquela primeira).
Quem inventou: Os métodos Agile foram criados por um grupo de 17 autores se reuniram em Utah, nos Estados Unidos — entre eles, os engenheiros Kent Becker, Ward Cunningham e Ron Jeffries, criadores do Extreme Programming (XP), e Ken Schwaber e Jeff Sutherland, pais do Scrum. Depois de muitos debates, o grupo publicou um manifesto online com os 12 princípios do Agile para desenvolvedores de softwares. Os quatro valores fundamentais são: indivíduos e interações acima de processos e ferramentas; software funcionando acima de documentação detalhada; colaboração com clientes acima de negociações contratuais; e responder a mudanças acima de seguir um plano.
Quando foi inventado: O manifesto foi publicado em 2001, mas se baseia em práticas que já vinham dando certo entre os programadores.
Para que serve: Para organizar e gerenciar o trabalho de uma equipe de desenvolvedores de uma forma que faz mais sentido ao tipo de produto que eles estão criando. “Por muitos anos, a área de desenvolvimento de softwares foi prejudicada por usar técnicas de gestão inspiradas na indústria, ou seja, a maneira como se gerencia uma construção ou planta de fábrica. Como fazer software é uma atividade mais criativa, logo se viu que essas abordagens tradicionais não eram adequadas”, afirma Manoel Pimentel. Cada um dos métodos de Agile tem suas características — no XP, por exemplo, os times trabalham em ciclos de projetos que costumam ser mais rápidos do que no Scrum. Este último método também costuma ser usado por gerentes de projeto de várias áreas, enquanto o XP fica mais restrito ao mundo da programação. Mas há exemplos de uso de Agile em várias outras áreas: para produzir veículos, roupas e até músicas. O escritor Bruce Feiler chegou a recomendar o uso de métodos Agile para a organização familiar.
Quem usa: Desde 2001, várias empresas aderiram ao Agile, mesmo as que não são especificamente de desenvolvimento de softwares. Walmart, HP, Intel e Bank of America são alguns exemplos. No Brasil, Itaú e Globo.com também usam, entre outras. Um dos cases mais importantes de Agile em grandes empresas é o da americana John Deere, a maior fabricante de equipamentos agrícolas do mundo. Eles usaram o método Scrum para aumentar a velocidade de entrada de produtos no mercado enquanto mantinham o orçamento e os recursos estáticos. “Foi nosso pequeno segredo para mover o timeframe do nosso tempo de entrega de 12 a 18 meses para 2 a 4 semanas”, disse ao site da Forbes o ex-gerente de treinamento Scrum na empresa, Steve Harty.
Efeitos colaterais: Como os métodos Agile pressupõem colaboração e pouca documentação dos processos, é preciso que haja muita confiança entre todas as partes envolvidas no processo. Entre cliente e empresa de desenvolvimento, por exemplo. “Esse talvez seja nosso calcanhar de Aquiles. O Agile pressupõe que ambas as partes estejam bem intencionadas e trabalhem muito próximas. O ambiente é menos formal. Então é difícil implementar os métodos quando não há confiança”, afirma Manoel Pimentel.
Quem é contra: Há quem seja contra o uso de Agile em grandes corporações. Isso porque muitos executivos acreditam que os métodos só funcionam bem em pequenos times, já que exigem que toda a equipe trabalhe muito próxima. Esa desconfiança levou inclusive um grupo de empreendedores americanos a criar um método para aplicar Agile a grandes empresas, chamado Scaled Agile Framework. É a forma usada pela John Deere, citada aqui antes.
Para saber mais:
1) Leia o livro Scrum – A Arte de Fazer o Dobro do Trabalho na Metade do Tempo, de Jeff Sutherland.
2) Assista a esses vídeos de introdução ao Agile em oito minutos.
3) Assista essa palestra de Mike Cohn, um dos criadores do método Scrum, sobre os 7 pecados capitais de um gerente de projetos.
4) Siga a Agile Brazil no Facebook: eles dão dicas de cursos e palestras.
***Leia aqui mais verbetes desta série.***