Passar a régua neste ano de 2015 significa falar de crise e retração na economia. Este ano a inflação atingiu 9,93% (em outubro, segundo o IPCA) e o dólar já bate nos 4 reais (ante 2,80 de janeiro, quem se lembra?). A crise econômica pegou em cheio os negócios dos pequenos e médios empresários — 77% dos entrevistados de uma pesquisa encomendada pelo Sindicato da Micro e Pequena Indústria de São Paulo ao Datafolha dizem que temem ter de fechar seus negócios.
Mas riscos sempre estiveram no cardápio do empreendedor. E nem só números se fazem os balanços do ano. Por isso, inauguramos hoje uma série de conversas com empreendedores, makers, inovadores e criativos para saber como os negócios disruptivos se comportaram em 2015. Com as mesmas 10 perguntas para todos, queremos saber que transformações ocorreram, que aprendizados é possível tirar do ano, que estratégias foram criadas e usadas para superar dificuldades. É hora, sobretudo, de olhar adiante.
Iniciamos a série com Felipe Matos, fundador da aceleradora Startup Farm, pesquisador do Mestrado Profissional em Empreendedorismo da FEA-USP e ex-diretor de operações do programa Startup Brasil, do Governo Federal. Além da Startup Farm, Felipe também coordenador do Movimento Dínamo, um movimento de articulação na área de políticas públicas focada no ecossistema de startups.
Se você tivesse que escrever um verbete sobre a atual crise brasileira, como você a descreveria?
Momento de oportunidade para empreendedores com visão.
Como foi 2015 no seu quintal? Como a crise está afetando o seu negócio?
2015 foi excelente para a gente na Startup Farm. Rodamos quatro programas de aceleração, inauguramos uma parceria com a USP e recebemos 5,3 milhões de reais em investimentos. Nossa equipe cresceu e estamos trabalhando muito, cheios de projetos.
Com que cenário você está trabalhando para 2016? Que medidas você tomou diante da crise?
É um setor que cresce, sem sentir tanto a crise. Considerando que as startups representam inovação e que muitas oferecem soluções que aumentam a eficiência e cortam cursos, elas muitas vezes são um caminho de saída da crise para grandes empresas. Em 2015, observei um aumento significativo na quantidade de investimentos realizados nessas empresas. Como medidas, focamos um pouco mais em startups que podem gerar eficiência no uso de recursos das grandes, como a Fhinck, vencedora da 13ª edição do nosso programa em São Paulo, que usa inteligência artificial para identificar padrões, oportunidades de automatização e treinamento, reduzindo custos em backoffices da grandes empresas.
Crise traz mesmo oportunidades ou se trata apenas de uma ameaça?
Mil vezes oportunidade. Especialmente para quem é empreendedor.
Se você tivesse, amanhã, 1 milhão de reais para investir, o que você faria com esse dinheiro?
Investiria em startups da Startup Farm.
Se assumisse a presidência do Brasil em janeiro, no lugar de Dilma, o que faria no seu mandato até 2018?
Daria uma guinada rumo às reformas que travam o Brasil, especialmente com relação ao excesso de burocracia e à falta de incentivo para o empreendedorismo inovador, que é fonte de empregos qualificados e de inovação que gera valor e ajuda a sairmos da crise. Implantaria também medidas para dar mais eficiência para a máquina pública.
O que você faz para se manter motivado em tempos como esses?
Cada vez que vejo empreendedores e pessoas se transformando, nos programas de aceleração que fazemos, renovo minhas esperanças no Brasil!
O que você faz para motivar quem trabalha com você?
Ressalto o propósito e os resultados positivos para a sociedade do trabalho que fazemos, cada vez que ajudamos mais empreendedores a ter sucesso em seus negócios.
Quais são os três pontos que mais lhe incomodam no ambiente de negócios brasileiro?
O excesso de burocracia; o excesso de impostos; a falta de visão e excelência em gestão do empresariado em geral — com honrosas exceções, de classe mundial, aliás.
O que você diria para quem está nos lendo agora e pensando em abrir a sua startup ano que vem?
Bora!