Bill Gates (Microsoft), Mark Zuckerberg (Facebook), Jack Dorsey (Twitter). Todos eles aprenderam a programar na infância. Marco Giroto, 36, também faz parte desse grupo. Ao lado da esposa, Vanessa Ban, também de 36 anos, ele fundou a primeira escola de programação e robótica para crianças e adolescentes do Brasil, a SuperGeeks. Desde o início da operação, em 2014, já foram abertas 30 franquias, em 10 estados diferentes, do Rio Grande do Sul ao Pará. E tudo começou quando seu negócio anterior estava desmoronando.
O primeiro empreendimento do casal foi a AudioLivro, uma editora de audiobooks que chegou a ter 150 títulos em seu catálogo, mas tinha dificuldade para vender publicidade. Na época, Marco trabalhava na HP, prestando serviços para a Natura (focado em servidores e aplicação Java), e Vanessa era professora de quartas e quintas séries. O negócio tinha seis anos quando os dois decidiram abandonar a dupla jornada de trabalhar e empreender, e se mudar para o Vale do Silício.
Encerrado o primeiro empreendimento, a ideia era ficar de vez por lá e se dedicar integralmente a outra empresa, a eBook Plus, uma plataforma que venderia um sistema de publicidade dentro de audiolivros. O plano era ser uma startup global, então ambos mergulharam de cabeça e investiram 300 mil reais do próprio bolso no negócio. O problema é que a plataforma que dependia de três pontas para se manter: clientes, leitores e autores. “Hoje em dia uma empresa que depende de um cliente já é difícil de se manter, imagine com três. Era muito difícil, começamos a ver que iria demandar muito mais dinheiro”, lembra Marco.
Eles não tinham outra alternativa: era hora de correr atrás de investidores para manter o negócio. “Mas levantar dinheiro no Vale não é tão fácil quanto parece, e a gente precisava de muita tração”, ele conta. Depois de algumas reuniões com investidores-anjo, a persistência já não era o bastante para ele e Vanessa. Era o fim de um sonho. Ele conta:
“Empreendedor é assim mesmo: acha que tudo o que montar vai dar certo. Mas não é o que acontece”
Apesar da frustração e dos problemas com o orçamento da eBook Plus estourado, os dois empreendedores acabariam notando que o timing do mercado era bom, mas para um outro tipo projeto — bem diferente daquele. Na época, a Code.org, organização sem fins lucrativos dedicada a difundir a programação entre crianças, tinha divulgado uma campanha falando sobre a importância da causa. No vídeo, o presidente Barack Obama e outras “celebridades” do mundo da tecnologia a endossavam. Marco conta que, logo depois de assistir àquilo, vislumbrou a oportunidade de abrir uma escola no Brasil como esse intuito.
O DINHEIRO ACABOU — E UMA IDEIA SURGIU
Ele próprio começou a entender o básico de programação aos 12 anos, na sua cidade natal, Assis, no interior de São Paulo. “Em 1992, na época em que começaram a abrir cursos de informática, não existiam muito softwares, então você ia para aprender a criá-los”, conta. Depois de aprender o básico, ele se aprofundou em redes seguranças para sistemas operacionais, passou a usar Linux, se mudou para a capital para tirar uma certificação da Red Hat e chegou a ser responsável pela migração para softwares livres na Petrobras, entre 2003 e 2005.
“Todos os empregos que consegui foram graças ao meu aprendizado de programação desde cedo. Eu sabia da importância disso, e o Brasil não tinha uma escola assim”
O conceito da SuperGeeks — que já nasceu com este nome — tomou forma em tempo recorde na cabeça dos fundadores, e também ajudou a curar as feridas do empreendimento anterior que não deu certo.
Ainda nos EUA, eles visitaram escolas semelhantes e, de lá do Vale do Silício, lançaram um site em português para testar a popularidade da ideia, enquanto preparavam a mudança de volta a São Paulo. Graças à página, que explicava a proposta do negócio, e a um material disparado para a imprensa, o interesse pela escola começou a surgir antes mesmo da operação começar. Em paralelo, Marco e Vanessa enviaram propostas para mais de 300 colégios da capital paulista. Não custava tentar. Apenas 10 responderam, três marcaram reuniões e nenhum fechou negócio. “Eles achavam que poderiam dar aulas de programação internamente, com o ‘rapaz da informática’. A gente não tinha como ganhar dinheiro assim”, diz Marco.
O jeito foi buscar um espaço próprio, mesmo sem ter dinheiro. Ele lembra: “Achamos um lugar na Vila Mariana e decidimos alugar uma sala, por um valor baixo, e fazer um evento para apresentar a escola para quem tinha se cadastrado no site”. O evento foi feito em quatro sessões, em cada uma o casal recebia 30 pessoas (incluindo pais e filhos, a partir dos 7 anos).
Naquele dia, foram feitas 40 matrículas, todas pagas na hora, no valor de 300 reais – sorte deles, porque não havia caixa nem parar imprimir o material didático. Os 12 mil reais levantados foram usados para comprar laptops usados (que Marco encontrou por 500 reais cada) e pagar o aluguel da sala.
E NÃO É QUE OS GEEKS APARECERAM?
A primeira aula da SuperGeeks aconteceu no dia 3 de maio de 2014. Marco era o único professor, enquanto Vanessa cuidava das finanças, administrava as matrículas e ficava disponível para dar suporte aos interessados em franquias. Em sete meses, a salinha ficou pequena. E olha que o curso elaborado pelo casal não tinha um apelo imediatista: o regular dura cinco anos e tem nove etapas, chamadas de “fases”, que correspondem a um semestre escolar. Então, o compromisso dos geeks seria a longo prazo. Marco conta que queria criar algo diferente: “Começar com o software mais simples, com linguagem em blocos, e ir até o desenvolvimento de games profissionais”.
No fim do primeiro ano, a escola já tinha 240 alunos – quando chegaram aos 150, a empresa atingiu o break-even e tinha começado a lucrar. Então, os sócios decidiram crescer no mesmo lugar, um prédio atrás do metrô Shopping Santa Cruz. Acabaram alugando mais quatro salas, na medida em que pipocavam pedidos para abrir franquias em outras regiões. As primeiras abertas foram no bairro do Butantã, em São Bernardo do Campo e na Asa Norte de Brasília. Marco fala da estratégia:
“Começamos o negócio já pensando nisso, então tudo que a gente fazia era pensando como passar o know-how para o franqueado”
Hoje, quem quiser abrir uma franquia SuperGeeks, paga uma taxa de 30 mil reais, fora os investimentos paralelos (reformas, contratação de funcionários, compra de computadores etc). Marco calcula que o investimento total fique entre 150 e 200 mil reais. Na sede, que depois foi baseada na Rua Luis Góis, há 10 pessoas trabalhando, entre professores, coordenador pedagógico e um gerente. Na maioria dos casos, os contratados exercem mais de uma ocupação, para enxugar os gastos.
A UNIÃO DOS SUPERPODERES FEZ A DIFERENÇA
Essa estrutura enxuta e a combinação das competências de Vanessa e Marco foi essencial para o negócio começar a dar lucro já a partir do quarto mês de operação. “O funcionamento de escola eu já conhecia, minha maior dificuldade foi começar a entender TI mesmo”, diz a cofundadora, que atua no backstage. Ela e o sócio e marido lamentam o número ainda baixíssimo de meninas nas salas de aula: “Por enquanto, só 10% dos matriculados são meninas. Até criamos um casal de mascotes, mas ainda não surtiu efeito”. Por outro lado, o desafio de convencer escolas do valor do ensino da SuperGeeks, parece estar começando a ser superado. Marco diz:
“Agora os colégios estão começando a vir atrás. Já fechamos com alguns no interior, para levar o professor até lá e aplicar o nosso curso regular”
As unidades mais recentes são as de Sorocaba, recém-inaugurada, e Santos. Ao todo, são 30 espalhadas pelo Brasil. “Sempre abrimos em início do semestre, quando há mais procura de alunos”, conta ele. Cada uma tem o seu faturamento, mas a matriz da Vila Mariana tem um giro médio de 70 mil reais por mês. O custo semestral do curso regular é de 1 530 reais (que pode ser parcelado).
UMA MINI INCUBADORA PARA CRIANÇAS
O que está por trás do crescimento da SuperGeeks? A metodologia, dividia em quatro módulos: game learning (aprender enquanto joga videogame), empreendedorismo (criar seu próprio game ou aplicativo), gamification (aulas que são como jogos) e storytelling (aprender com o uso de histórias fantásticas). Os sócios sabiam que tinham acertado a mão quando viram alunos pedindo aos pais que os matriculassem na escola. “Eles estão começando a entender a importância dos filhos estudarem programação”, conta Marco.
Além do curso regular, ele também desenvolveu os QuickCodes, cursos mais rápidos e específicos. Hoje eles ensinam criação de games, robótica, educação financeira para criação de aplicativos e dois focados em Minecraft, um dos games de mundo aberto mais populares atualmente. Marco conta: “Hoje eu tenho alunos de 11 anos fazendo game. E a gente quer eles saiam daqui sabendo criar jogos e aplicativos que podem virar negócios no mundo real”.
Qualquer semelhança com uma incubadora não é mera coincidência. Os donos da SuperGeeks apostam na base de ensino de empreendedorismo justamente para ver startups saindo de lá, suprindo um conhecimento que as escolas tradicionais não ensinam. A primeira turma do curso regular, que está agora na fase cinco, vai mostrar, em 2018, se a fórmula deu certo. Melhor ficar de olho nessa galera.
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