Trazer para o mercado brasileiro um produto já bem validado e aceito no exterior nem sempre é tarefa fácil. O publicitário George Eich, 35, descobriu que o Brasil ainda é muito “vertical” em relação à organização de negócios e demorou para acertar o rumo de sua startup, a Coblue. Em 2014, ele dava seus primeiros passos com o negócio que começou como uma empresa de inteligência competitiva para mapear cenários de mercado. Após erros e acertos – e com a ajuda de um MBA –, ele chegou à conclusão de que o OKR (Objectives and Key Results) deveria ser o seu novo produto.
Ele descreve o OKR como um framework para gestão de metas e diz que o especial desta metodologia são os pilares. “O método tem como centro as pessoas, elas têm que ter autonomia e liberdade de criação. Ele serve para comunicar o propósito da organização e, ao mesmo tempo, entender qual o propósito de cada pessoa, de cada equipe dentro da empresa.” A proposta é baseada no modelo de gestão MBO (Management by Objectives) do escritor e consultor administrativo Peter Drucker, criado na década de 1950. E a Intel na década de 1970 implementou o OKR, que acabou sendo usado depois por diversas companhias como Google, Amazon, Accenture e Anheuser-Busch.
SOMAR ESFORÇOS É PRECISO
Seu negócio passou por algumas transformações – George pivotou cinco vezes – até chegar no modelo atual. Ele conta que para desenvolver seu software de OKR, teve que ser autodidata e aprendeu a programar em PHP. “Passei o ano de 2015 debruçado em cursos e tutorais do YouTube. Eu não ia fazer isso para sempre, então pensei numa linguagem mais simples para testar rápido, conseguir um MVP e depois partir para estruturar a empresa”, conta.
Nessa época ele só um tinha estagiário para o ajudar nas pesquisas. Quando o software ficou pronto, George começou a procurar clientes. Em 30 dias, ele conseguiu vender a solução para o Grupo Comunique-se e para a Porto Seguro Conecta, foi quando teve a certeza de que havia mercado para isso.
Mas, depois de três meses, ele teve dificuldades em manter os clientes e sua empresa funcionando. Decidiu então procurar um programa para capacitação de startups, ao mesmo tempo em que passou a buscar sócios na área de TI, para desenvolver um software mais potente, e na área de marketing. Foi então que recebeu um e-mail de um amigo de São Paulo apresentando-o a Antonio Zubieta, 45, que estava interessado em trabalhar com a metodologia OKR. Na época, ele atuava em uma empresa de gestão tradicional de competências, a 2trues. “Conversamos e vimos muita sinergia de ideias, assim decidimos fazer uma fusão. Hoje, somos sócios e temos um escritório em São Paulo e outro em Santa Catarina. A empresa não tem CEO, trabalhamos por um propósito maior”, diz.
AO GOSTO DO MERCADO BRASILEIRO
Apesar de não ter concorrentes diretos no Brasil (segundo George, em termos de software, o Perdoo pode ser considerado, e em termos de posicionamento, a BetterWorks), para emplacar a solução oferecida por sua empresa, George precisou adaptar a metodologia OKR ao gosto do nosso mercado. Ele conta que:
“Tivemos que respeitar o estágio em que o Brasil está. Temos um modelo de chefia, hierárquico, então fazemos a implementação mais simples e ajudamos o cliente a evoluir para um modelo mais horizontal”
O programa funciona em cloud e é responsivo, ou seja pode ser acessado em qualquer dispositivo. Ele estabelece um processo de melhoria contínua para as empresas, então todos os funcionários podem – e devem – ter acesso. Mas, normalmente começa a ser implementado gradualmente, com pequenos times. A venda é feita por assinatura e custa 18 reais por pessoa.
E para ajudar o cliente a entrar na filosofia do OKR, adaptação necessária para o Brasil, a Coblue também inclui uma consultoria para o plano de implementação (a partir de 8 mil reais), coaching de performance para acompanhar alguns líderes nessa mudança de mindset (cobrado por hora, na faixa de 300 reais) e um serviço de suporte (já incluso na assinatura).
A metodologia prevê a figura de um líder OKR para garantir a execução do sistema, que exige uma atualização semanal, com foco nos resultados obtidos. É neste momento, denominado como check-in, que os funcionários se reúnem, de 5 a 15 minutos, para discutir seus objetivos, oportunidades de negócios geradas, dificuldades e o foco da semana. Desta forma, é possível corrigir rotas.
Depois há fases mais avançadas, como um alinhamento 360º da empresa, que prevê a interdependência entre as áreas, como diz George. “Sempre falamos que o primeiro trimestre é para errar. O time vai mensurar itens pela primeira vez, mapear dependências fundamentais, aprender a fazer o check-in e corrigir erros. Feito isso, o propósito fará muito sentido.”
A orientação sobre o funcionamento e aplicações do OKR acontece antes mesmo da venda do software em si. George diz que é importante mapear corretamente o perfil dos potenciais clientes, para evitar uma queda na qualidade de uso do software. Para conseguir vendas mais certeiras, ele criou com seu setor de marketing ebooks sobre OKR, materiais voltados para setores específicos como RH e diversos conteúdos em seu blog. O intuito é formar seus clientes.
A companhia tem hoje 80 clientes, como a Leão (fabricante do Matte Leão), Recovery, Geofusion, Gol, Grupo Pão de Açúcar, Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia, Midi, projeto Link Lab e startups menores. A previsão é faturar R$ 2 milhões neste ano.
EM BUSCA DE UM PROPÓSITO
Em 2013, George morava na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e tinha ao mesmo tempo uma casa de fondue, uma startup de moda, uma agência de publicidade em marketing de guerrilha e uma fábrica de sorvetes. Apesar de bem sucedido financeiramente, ele diz que não se sentia feliz, nem realizado. “Criei um mantra para mim que dizia que o meu sucesso deveria ser consequência de um propósito bem executado.”
Esse insight, o fez buscar novos ares e um novo negócio em Santa Catarina, e também moldou um pensamento peculiar, pouco comum aos gestores. “Se somente um número gerasse valor, um KPI resolveria todos os problemas. Você precisa mais, saber onde está sua equipe em termos de performance, como ela chegou lá, como ela evoluiu, e todas as dificuldades que ela teve para superar aquela meta. O segredo está na parte qualitativa vinculada ao indicador”, diz.
Por acreditar nisso, ele apostou no método OKR, que por estar relacionado a um propósito, gera mais significado para o dia a dia das pessoas. “O primeiro valor que a gente quer entregar é ajudar as pessoas a entenderem porque elas acordam de manhã, porque a empresa está no mercado e qual é o papel delas na companhia.”
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