Em busca de tornar os processos seletivos de estagiários e trainees mais rápidos e baratos para as organizações e, ao mesmo tempo, menos maçantes e mais próximos da linguagem dos jovens na faixa dos 20 anos, a Match Box usa inteligência artificial, gamificação e produção de conteúdo. Mas não só isso. Segundo Kleber Piedade, 33, CEO e cofundador do negócio, o que eles têm de mais inovador é o inbound recruiting: técnica criada nos Estados Unidos, que usa ferramentas herdadas do marketing digital para se relacionar com potenciais candidatos desde primeiro contato até a hora em que a inscrição para a vaga acontece.
Em livre tradução: fazem um mix de curadoria e produção de conteúdo para engajar o jovem, mantê-lo interessado e, efetivamente, “convertê-lo em candidato” em um processo de seleção. Uma missão delicada, pois, segundo Kleber, “a guerra pelos talentos começa muito antes dos jovens se inscreverem para uma vaga”.
Com esses recursos, é possível ver a correlação entre a jornada do candidato e uma jornada de compra, por exemplo, em um e-commerce (que usa o Inbound Marketing). Kleber afirma que, apesar de serem uma opção “mais conservadora” de carreira, os programas de trainee ainda fazem os olhos de muitos jovens brilharem. Porém, um detalhe não tão pequeno atrapalha: as organizações têm dificuldade de mostrar aos candidatos os caminhos de carreira lá dentro, de comunicar que este jovem pode ter vários “empregos” dentro da mesma corporação e que isso é uma das vantagens de se trabalhar em uma grande empresa.
TRAINEE AINDA É LEGAL, FALTA COMUNICAR E ACHAR O CANDIDATO CERTO
Para tirar essa pedra do caminho, dá-lhe inbound recruiting. Um exemplo é o case da L’Oréal, em que o desafio era atrair e mostrar para candidatos homens, estudantes de engenharia, que a empresa é uma indústria pesada e tem muitos desafios de robótica nas fábricas. No inbound recruiting, a informação e a abordagem são personalizadas e definidas com base em Data Analytics, ou seja, cruzando dados colhidos pelas soluções tecnológicas da MatchBox durante a interação entre o candidato e a empresa-cliente.
Na prática, a startup centraliza os pontos de contato através do portal My Trainee (que divulga processos de seleção e pertence à Matchbox). De um lado, entrega-se conteúdo para o candidato e fala-se da empresa. Do outro, o candidato fornece informações sobre si, como o curso em que está matriculado, quando se forma, qual é a área de interesse etc. Essa régua de interação continua a ser nutrida após o término do processo seletivo para manutenção de um elo com esses talentos: pessoas conhecidas, com quem já se construiu uma relação e sobre quem já se sabe o momento de carreira. Isso possibilita que, em um processo seletivo seguinte, não se parta do zero e seja possível direcionar essas pessoas para conversão com mais eficiência.
A ideia, diz Kleber, não é ser uma empresa de tecnologia. É usar a tecnologia como um meio para resolver problemas dos usuários (os candidatos) e dos clientes (o RH das empresas), democratizar os processos seletivos e ter etapas online mais eficientes. De acordo com ele, dentre as muitas startups que usam tecnologia para atrair talentos, a MatchBox se diferencia por conseguir reunir um conjunto de soluções complementares e evitar que as corporações precisem gerenciar quatro ou cinco fornecedores diferentes durante um mesmo processo de seleção.
Ele exemplifica contando sobre o Programa de Trainee da Avon, finalizado em 65 dias. Foi lançado em 15 de janeiro deste ano e os trainees selecionados receberam a notícia no dia 13 de março. A média de duração de programas de trainees é de 90 a 120 dias e essa redução de tempo impacta positivamente nos custos para o RH, como fala o CEO.
Kleber também fala do chatbot que eles desenvolveram, para ajudar candidatos a efetivarem o cadastro em um processo online. O bot da MatchBox se chama Vicky: uma assistente virtual que faz “as perguntas certas” fase a fase, conforme se avança na inscrição. Outra ferramenta é o Amazegame, que simula problemas corporativos e substitui testes tradicionais de lógica e de competências (como inglês e proatividade). Ele usa inteligência artificial em conjunto com o IBM Watson (plataforma para negócios cognitivos) para interpretar como os candidatos se relacionaram entre si enquanto jogavam.
SEPARAÇÃO E NOVOS NEGÓCIOS SEM BRIGAS
A Matchbox nasceu em junho de 2017, depois que Kleber desfez a sociedade com Luís Abdala, com quem tinha a Seja Trainee. Antes, Kleber esteve na área de Trade Marketing por oito anos. Ele se formou em Publicidade pela ESPM, fez MBA em Varejo na FIA e passou por empresas como Pernod Ricard, BASF, Diageo e Kodak. “Em todas as multinacionais, eu sentia que meu nível de contribuição tinha um limite. O negócio não era meu, eu ainda não estava em posição de influenciar.” E prossegue:
“Queria criar algo que ajudasse a resolver os problemas da sociedade e que me fizesse trilhar uma trajetória de protagonismo”
Então, em 2011, veio a Seja Trainee, empresa voltada para o desenvolvimento de jovens. O intuito era prepará-los para processos seletivos e também prestar consultorias individuais para quem fosse ingressar no mercado de trabalho. Pouco depois, os sócios compraram o portal My Trainee para obter mais leads e, com o passar do tempo, especializou-se também no atendimento a grandes empresas. Em 2015, Flávia Queiroz, 34, (atual COO da MatchBox), uniu-se ao time como sócia para dar fôlego em duas frentes: uma com os candidatos e outra com as empresas. No final de 2016, a operação com as empresas gerava 80% do faturamento.
Luís tinha preferência pelo olhar de desenvolvimento dos jovens, já Kleber e Flávia queriam tocar o serviço de facilitação de processos seletivos, acrescentando a eles tecnologias de automação. “Percebemos que eram negócios com dinâmicas muito diferentes. Para empresas tínhamos de investir em tecnologia e inovação. Para os candidatos era mais metodologia aprofundada para os desafios individuais e um negócio boutique.” Assim se deu a divisão dos sócios em duas empresas. Sem brigas.
Kleber e Flávia, junto com mais nove pessoas da equipe da Seja Trainee, uniram-se a Fernando Bueno, 31, (atual CTO da MatchBox) e Guilherme Ferreira, 27, (atual Head de Vendas), que empreendiam com a Repense Game, para fundar a nova empresa. O quarteto levantou um investimento-anjo de 640 mil reais e contratou uma consultoria de branding para fazer um trabalho de reposicionamento de marca.
“Foi um período de ajuste sensível, principalmente, maio e junho de 2017”, lembra o CEO. Enquanto isso, uma revolução se fazia no departamento de TI da futura MatchBox. Em dois meses, os engenheiros e designers mexerem na experiência do usuário do game da Repense e rebatizaram-no de Amazegame, criaram a Vicky e melhoraram a automação da plataforma de processos seletivos para poderem se autodenominar uma verdadeira HRtech.
Os produtos foram construídos como micro serviços, portanto é possível acoplar uma ferramenta a outra de acordo com o desafio do cliente. Kleber fala: “Sob o ponto de vista de proposta comercial, temos nos posicionado cerca de 10% abaixo do que as demais consultorias de RH cobram, mas com uma proposta de valor muito mais bacana, um processo mais digital, mais rápido, com uma experiência do candidato melhor”. Ele estima que essa nova configuração deva render a MatchBox um faturamento de 3,3 milhões de reais este ano, ante 1,9 milhão da antecessora Seja Trainee, em 2017.
Para dar uma ideia de valores, Kleber cita outro case. Em 2017, a KPMG, que contrata 500 trainees por ano, investiu 50 mil reais para usar o Amazegame e economizou 150 mil reais. Como? O cálculo é o seguinte: o RH tinha de levar 10 candidatos por vaga na fase anterior à presencial. Para etapa presencial, era preciso levar seis candidatos por vaga. Como havia 500 vagas abertas, isso significou 112 dinâmicas de grupo a menos. Para cada real investido eles obtiveram retorno de 3 reais em economia. “Olhamos para um processo como um todo para resolver a vida do RH”, finaliza Kleber em sua missão de ressignificar totalmente o “deu match”!
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