Dúvida é daqueles bichinhos que, na escala de perturbação, atinge 100% dos empreendedores. “Como os consumidores veem o meu produto ou serviço? Quais os hábitos deles? Gostaram ou não da última campanha publicitária? A promoção surtiu efeito?” São numerosas as perguntas e muito necessárias as respostas. O caminho entre umas e outras pode ficar bem mais curto quando se pode contar com 500 mil pessoas para darem opiniões.
Compare assim: é como ter a população de cidades como Florianópolis ou Niterói prontas para palpitarem sobre o seu negócio. Gerar respostas confiáveis em tempo recorde é o trabalho da MindMiners, startup de tecnologia especializada em pesquisa digital, que começou a funcionar em 2013 com o nome de MeSeems (que hoje designa a rede social que congrega respondentes de pesquisas online).
Na época, o administrador de empresas Renato Chu, 30, teve o primeiro contato com a possibilidade de realizar uma pesquisa de opinião inteiramente no ambiente online. A inspiração veio da Coréia do Sul, onde as pessoas já respondiam pesquisas pelo celular. Embora não tivesse nenhuma intimidade com a área de pesquisa — atuava em investment banking pelo banco suíço UBS — Renato decidiu estudar o assunto e o mercado.
Ficou claro que pesquisa de opinião, feita nos moldes tradicionais, era algo restrito às possibilidades de grandes empresas, pois o custo era alto. Recrutamento de entrevistadores, definição de público, período de campo para coletar os dados e análise de resultados levavam (ainda levam, na verdade) muito tempo e dinheiro.
Por que não tornar mais simples, barato e também mais transparente este processo? A partir desse momento, para ele, empreender passou a fazer sentido. Renato, hoje CEO da empresa, fala a respeito:
“Queria me envolver com algo em que eu visse sentido dedicar cada dia da vida, me deixasse feliz pela atividade exercida e pelas pessoas envolvidas”
Ele juntou, então, três amigos de longa data: os engenheiros de produção Lucas Melo, 31, de sistemas eletrônicos Thomas Vilhena, 29, e de computação Nicholas Mizoguchi, 27. Tiraram algo em torno 50 mil reais dos bolsos para manter os custos operacionais do negócio enquanto não conseguiam captar recursos e passaram dois anos sem salário regular enquanto as coisas se estruturavam. Mas esse tempo ficou para trás. A sociedade rendeu frutos. Em 2017, a MindMiners faturou 7 milhões de reais.
Hoje, a empresa conta com uma equipe de 47 pessoas, os sócios recebem salário e o lucro volta para a operação, que também conta com investidores externos.
Renato faz um balanço dos resultados: “Temos muito orgulho do estágio que conseguimos chegar e vemos hoje com clareza um potencial que antes não enxergávamos: um time excepcional e um produto inovador”.
E continua: “Agora, nosso maior desafio é acelerar o crescimento, mantendo nossos clientes felizes”. Felicidade, no caso, se traduz em respostas ágeis e bem trabalhadas para balizar decisões de gente graúda no mercado, como Nestlé, Avon, Redbull, Samsung, Natura e agências de publicidade Mas também de clientes de menor porte, que desejam estudar o mercado, testar suas marcas, avaliar campanhas, identificar tendências, entre muitas outras possibilidades.
UMA REDE SOCIAL DE PESQUISAS QUE DÁ RETORNO PARA QUEM RESPONDE
No último ano, uma centena de projetos de pesquisa foram executados por meio da plataforma, como conta Danielle Almeida, 31, gerente de marketing e responsável pela gestão de marca, conteúdo e parcerias estratégicas da MindMiners: “A maior entrega da empresa é criar tempo para o cliente trabalhar os dados e ter segurança na hora de tomar uma decisão”. Há um ano e meio no negócio, a publicitária e relações públicas afirma que o “coração da empresa” é o MeSeems, um painel de respondentes que funciona como uma rede social de compartilhamento de opiniões e experiências e faz da empresa uma referência em pesquisa mobile no Brasil.
Ela diz que, por meio dele, uma pesquisa que levaria um mês para ficar pronta pode fornecer respostas em metade do tempo ou até em uma semana. São 500 mil usuários reunidos em um ambiente digital, que respondem rapidamente a pesquisas porque sentem prazer e, claro, acumulam créditos em uma moeda virtual própria, que depois podem ser trocados por recompensas e descontos em lojas parceiras. Qualquer pessoa pode se registrar e participar das pesquisas como respondente. Para fazer parte da rede, basta fazer o download do aplicativo ou acessar o site.
Além de responder, os participantes da rede interagem bastante. Danielle fala que com isso a empresa conseguiu mudar a lógica das pesquisas:
“Quando íamos imaginar que pediríamos uma foto da mesa do almoço de domingo e as pessoas mandariam? Por ser um app em uma rede social, elas compartilham questões da vida pessoal”
Ela prossegue: “Recentemente fizemos uma pesquisa sobre fralda geriátrica e os respondentes contaram sobre dificuldades e inseguranças. Virou um diário”.
CONTRATAR PESQUISADORES E ABORDAR PESSOAS NA RUA É COISA DO PASSADO
Na MindMiners, depois de fazerem o login e cadastro, os clientes têm acesso a uma plataforma de pesquisa automatizada. Podem operá-la sozinhos para construir seus projetos de pesquisa ou contar com suporte do time técnico. Há uma versão gratuita, um plano básico de 99 reais mensais e um profissional de 249 reais. É possível, ainda, usar funcionalidades extras. Para tanto, existe uma calculadora na plataforma que gera boletos ou apresenta outras formas de pagamento.
Dependendo do plano, os clientes também podem usar questionários prontos ou fazer um totalmente novo e focado no seu negócio (com a curadoria da empresa), enviar o questionário por link para uma rede de contatos, colocar um banner no próprio site ou contar com as respostas dos usuários da plataforma.
Além disso, é possível receber os dados em planilhas de Excel ou em relatório bruto e contratar análises mais aprofundadas dos resultados. Independentemente da forma de coleta dos dados, os clientes conseguem acompanhar as respostas em tempo real. É possível verificar as características dos usuários cadastrados para responder as perguntas e, a partir delas, definir amostras específicas entre mais de 80 categorias (faixa etária, nível de renda, escolaridade, hábitos de consumo, local de moradia, aspectos demográficos, estilo de vida etc).
Outra vantagem apontada por Renato, é o controle dos respondentes. Ele conta que há técnicas de validação que permitem ter certeza de que são usuários únicos, com checagem de dados pessoais, identificadores de impressão digital nos dispositivos, algoritmos de avaliação para comportamentos atípicos e técnicas para evitar que os usuários respondam pesquisas semelhantes ou de uma mesma marca ou produto em curto espaço de tempo.
ELES TÊM METAS AGRESSIVAS E APOSTAM NO TIME PARA BATÊ-LAS
Segundo o empreendedor, tudo isso foi possível graças a um DNA focado em tecnologia e inovação. Os resultados são satisfatórios, sobretudo se for levado em consideração que nenhum dos quatro sócios tinha qualquer experiência em empreendedorismo, muito menos em pesquisas de opinião. Tiveram de vencer temores e dificuldades próprias do negócio, como diz o CEO:
“Há sempre o receio das coisas darem errado, mas esse é justamente este o risco de empreender”
O foco, diz ele, é aperfeiçoar o produto, desde as funcionalidades até a experiência final do cliente. O objetivo principal é crescer o negócio como um todo e a meta para este ano é ambiciosa: a MindMiners espera faturar 10 milhões de reais. O mais importante, no entanto, fala Renato, é não perder de vista um aprendizado que ele e os sócios já conquistaram. “Você pode ter um superproduto ou muito capital disponível. No fim, o que conta são as pessoas que estão na mesma jornada que você”, fala o CEO, certo de que, junto ao time, tem mais poder de ousar e sonhar alto.
Eles têm menos de 25 anos e criaram um aplicativo para facilitar o networking em eventos corporativos. Há dois anos no mercado, o negócio se estabilizou e eles já não precisam deixar a barba crescer para aparentar mais idade.