Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…
ZERO RATING
O que acham que é: Tarifa zero em ligações telefônicas.
O que realmente é: Zero Rating é uma prática adotada pelas operadoras de telecomunicação que oferecem uso gratuito de internet para determinados aplicativos como forma de beneficiar seus usuários. Na prática, isso significa que a navegação nos apps não será descontada do pacote de dados adquirido pelo cliente.
Em geral, as operadoras que praticam o Zero Rating oferecem acesso ao Facebook, WhatsApp e Twitter (o que pode variar de acordo com a empresa e o plano do cliente), pois são redes sociais que atraem muitos usuários, aumentando o alcance publicitário dessas empresas. Mas pode haver, também, gratuidade de navegação em apps de instituições bancárias e comércios de varejo que incentivam seus clientes a utilizarem seus serviços via app do celular e pagam a conta à operadora. Neste caso, são mais comumente chamados de Sponsored Data (Patrocínio de Dados).
Mas é comum haver referências a Zero Rating e Patrocínio de Dados como sinônimos. A questão não é de nomenclatura mas de posicionamento: muitos especialistas dizem que são a mesma prática e que ferem o princípio da Neutralidade da Rede.
Há, ainda, o Zero Rating como modelo de serviço. É o caso do Internet.org, programa do Facebook para populações mais pobres que permite a navegação em alguns sites, como a Wikipedia, por exemplo. No Brasil, ele não foi permitido por violar a Neutralidade da Rede.
Quem inventou: O termo Zero Rating, cuja tradução literal é Tarifa Zero (no Brasil, mais usada para telefonia) foi popularizado nos Estados Unidos quando o Facebook lançou o Facebook Zero, uma versão da plataforma que não consome dados da franquia de internet do usuário. Mas o termo pegou mesmo poucos anos depois com a chegada da Netflix e do Spotify.
Aqui, o termo ganhou força na mesma época, mas por outro motivo: as empresas de telecomunicação puderam vender pacotes de dados que bloqueavam o acesso à internet quando acabavam e favoreceu o Zero Rating.
Quando foi inventado: O Facebook Zero em 2010 e as demais aplicações em 2014.
Para que serve: Para permitir a navegação em alguns apps mesmo depois de findo o pacote de dados do usuário. Como isso, o fluxo de clientes é maior tanto para as operadoras quanto para as donas de apps, sejam redes sociais, streaming de vídeo ou música, instituições bancárias, comércio varejista etc.
Segundo Marcio Gonçalves, professor de Comunicação Social do Ibmec-RJ, o Zero Rating se tornou um argumento de venda e de competitividade entre as provedoras de acesso à internet: “Na outra ponta, as empresas usam a publicidade e a propaganda do acesso grátis como força de venda”.
Quem usa: No Brasil, praticamente todas as operadoras de telecomunicações praticam o Zero Rating com o Facebook, WhatsApp, Messenger, YouTube, Netflix, Wikipedia e Twitter, que entrou para a estratégia no país este ano. Dentre as empresas que fazem ou já fizeram Patrocínio de Dados estão a NetShoes, o Mercado Livre, a Privalia, a Natura. Já dentre o bancos estão o Bradesco, o Santander e o Banco do Brasil.
Efeitos colaterais: Potencialização da circulação de fake news. Luca Belli, pesquisador do Centro de Tecnologia de Sociedade da FGV Direito Rio e especialista de neutralidade da rede pelo Conselho da Europa disse em entrevista à BBC Brasil que as técnicas de Zero Rating que patrocinam somente os aplicativos dominantes, como as redes sociais, contribuem enormemente para a redução da variedade de informações acessíveis para o usuário. “O usuário precisa de uma dieta informacional variada para ser capaz de refletir de maneira independente. Não significa que proibindo Zero Rating você acabe com o problema das fake news, mas com ele você maximiza o impacto das fake news.”
Quem é contra: Pessoas que acreditam que o Zero Rating viola o princípio da Neutralidade da Rede (que determina que tudo que um usuário pode fazer ou acessar na internet deve ser considerado exatamente como mesmo tipo de tráfego, independentemente do emissor, do receptor ou do tipo de conteúdo).
Como o objetivo deste princípio é impedir que as operadoras de telecomunicações passem a distinguir serviços e a distribui-los de forma específica (de acordo com um pacote de dados previamente adquirido pelo cliente), há quem defenda que o Zero Rating o viola. Em 2017, o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) determinou arquivamento de um Inquérito Administrativo que alegava a prática no Brasil.
Para saber mais:
1) Leia, na BCC Brasil, Como planos de celular com Facebook e WhatsApp ilimitados podem potencializar propagação de notícias falsas. O texto aborda a relação entre o Zero Rating e as fake news.
2) Leia, no Jota, Acordos de zero rating e neutralidade de rede. O texto conta por que o Internet.org não foi permitido no Brasil e por que o inquérito sobre Zero Rating foi arquivado pelo CADE. Há também casos de outros países.
3) Leia, no TechCruch, WTF is Zero Rating? O texto explica a prática e a coloca em um viés lógico bastante interessante.