Nem sempre a primeira ideia para tornar realidade um negócio alinhado ao propósito do empreendedor é a que vinga.
A Positiv.A foi, primeiro, uma consultoria voltada para projetos ambientais baseados na permacultura. Depois, virou um clube de assinatura de produtos de limpeza alinhado aos princípios da economia circular.
Na época, início de 2015, os sócios Alex Seibel, 32, Rafael Seibel, 35, e Marcella Zambardino, 31, apostavam que o que o consumidor queria era receber em casa um kit com (poucos) produtos que resolvessem todas as suas necessidades na limpeza doméstica de forma mais saudável para o planeta.
Parecia uma baita sacada para facilitar a vida. Até era, mas as pessoas não perceberam assim. E os sócios começaram uma jornada nem sempre fácil que é a de alinhar o que se quer entregar de bom ao mundo ao que o mundo está de fato pronto para receber.
Poucos meses depois de investirem 750 mil reais para lançar uma linha com dez produtos, acomodados em duas opções de kits, os sócios descobriram que os consumidores — que sequer conheciam aqueles produtos — não queriam levar para casa todos de uma vez, mas sim ir testando e descobrindo cada um deles aos pouquinhos.
De cara, eles notaram que tinham errado no modelo de negócio.
“A gente queria mostrar que as pessoas não precisam desse monte de produtos que a indústria empurra. Que apenas aqueles dez eram suficientes para limpar a casa inteira, com menos custo, menos embalagens e menos substâncias nocivas à saúde”, conta Marcella.
Ela prossegue: “Mas nos demos conta que tínhamos ido pra 2025, que o mercado não estava pronto para isso, que as pessoas ainda não entendiam o que eram produtos de limpeza veganos, biodegradáveis, compostáveis, sem fragrância, com óleos essenciais etc”.
SE A PRIMEIRA IDEIA NÃO DEU CERTO, VOLTE E RECOMECE
Os empreendedores tiveram que repensar a estratégia e passaram a vender os produtos individualmente. Deu certo. Começaram a surgir pedidos de todo o Brasil e, hoje, a Positiv.A tem uma base de 1 400 clientes cadastrados no site e, em média, 600 pedidos por mês. Além disso, a marca está presente em 35 pontos de venda físicos nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina.
A proposta do clube de assinaturas foi deixada de lado, mas os projetos de consultoria continuam, embora hoje 95% da receita da empresa venha dos produtos.
“A gente acredita que a consultoria tem um papel muito importante de construção da marca, já que, por meio dos projetos, conseguimos colocar em prática o conceito da Positiv.A, que é transformar o ser humano em uma espécie positiva no planeta por meio de soluções do dia a dia”, diz Alex, que junto com o sócio e primo, Rafael, viajou para a Austrália antes de criar a empresa, com o intuito de conhecer de perto as origens da permacultura.
Ele conta que entre as soluções oferecidas estão projetos de manejo de água, paisagismo multifuncional, compostagem e energia limpa.
“Nosso objetivo é contribuir para que as pessoas possam optar por um consumo consciente e um estilo de vida mais conectado com a natureza”, afirma.
Para isso, o negócio oferece produtos de limpeza baseados na economia circular e consultoria de soluções ambientais baseadas na permacultura, fechando assim o ciclo da cadeia produtiva.
UM VELHO PARADIGMA: O PRODUTO NATURAL DEVE SER MAIS CARO?
Se não bastasse o desafio de educar o mercado sobre todas as características e benefícios de seus produtos, a Positiv.A tem ainda outra batalha a ser vencida. O preconceito de que produtos naturais custam muito mais caro.
Segundo Marcella, um casal gasta, em média, de 115 a 130 reais em cerca de 15 a 20 produtos de limpeza por mês. Ela fala mais a respeito:
“Nossa proposta é diminuir a quantidade de produtos, de embalagens, ocupar menos espaço e tornar a limpeza mais simples e econômica”
A EcoBox P é considerada o kit de entrada da empresa, custa 119 reais e vem com um litro de multiuso concentrado, um litro de lava roupas, um litro de lava louças, uma bucha vegetal, um sabão de coco em barra, um pano de prato, uma flanela e três frascos borrifadores.
“O gasto no primeiro mês já vai ser menor do que comprando 20 produtos convencionais. E, nos meses seguintes, o cliente pode comprar só o refil, economizando dinheiro e embalagem.”
Além dos produtos do kit de limpeza geral, a Positiv.A tem também uma linha de cozinha que inclui um lava louças liquido pra lavagem manual (22,90 reais), lava louça em pó para máquina de lavar (21 reais), pano de prato feito a partir de garrafa pet e algodão reciclado (8,90 reais) e bucha vegetal 100% compostável (3,90 reais).
“O lava louças é o único produto que custa um pouco mais do que a média do mercado, mas os benefícios compensam. A versão em pó é o primeiro produto de limpeza lançado em embalagem de vidro, com tampa de metal e serigrafada com tinta orgânica. Não tem nenhum plástico, é 100% reciclável”, diz a empreendedora.
Marcella fala ainda da linha de lavanderia, com lava roupas que dispensa amaciante. “Por ser 100% vegetal, é possível reaproveitar a água da máquina para limpar pisos e regar plantas.”
O carro-chefe, no entanto, é o multiuso que, segundo a fundadora, substitui dez produtos de limpeza convencionais.
“Ele substitui o multiuso convencional, desengordurante, água sanitária, limpa vidro, lustra móveis, removedor e álcool. Pode ser usado em qualquer superfície, tira manchas difíceis e tem efeito repelente a inseto”, afirma, indicando que como todos os outros produtos da Positiv.A, ele é livre de cloro.
Todo esse cuidado rendeu à empresa uma série de certificações. Entre elas, o Sistema B, o selo vegano da Sociedade Brasileira Vegetariana (pelo fato dos produtos não serem testados em animais nem possuírem ingredientes de origem animal) o selo Eureciclo, da New Hope Ecotech, que comprova a destinação correta dos seus resíduos pós consumo. Além disso, a empresa realiza um delivery ecológico.
“Desde o começo, temos parceria com a empresa Carbono Zero, que faz as entregas de bicicletas, scooters e carros elétricos.”
COMO AS ESCOLHAS PESSOAIS DOS SÓCIOS IMPULSIONARAM O NEGÓCIO
Antes da Positiv.A, Alex, que é formado em Administração, mas curiosamente já foi membro da equipe brasileira de ski, trabalhava com a marca de cosméticos The Body Shop.
Insatisfeito por não conseguir colocar em prática tudo o que acreditava, resolveu trilhar outro caminho e fundou a ONG Arcah, que atua no resgate de moradores de rua através de um modelo permacultural e integrado com a natureza. Foi assim que surgiu a ideia de criar algo que juntasse impacto positivo com negócios.
Da mesma forma, Marcella, que sempre trabalhou com desenvolvimento de produto, carregava a preocupação com a origem de tudo que punha dentro de casa.
“Sempre acreditei que a gente é capaz de gerar um impacto positivo nas pequenas ações do dia-a-dia, principalmente, nos itens de consumo básico. E como consumidora, me via cada vez com mais dificuldade de comprar coisas, justamente por essa falta de transparência das marcas.”
Para escapar de substâncias químicas nocivas, ela começou a fazer os próprios produtos de limpeza e, no final de 2015, quando os três se conheceram, as coisas se encaixaram perfeitamente.
“Apresentei a ideia para os meninos e tudo fez sentido. Colocamos no papel algumas premissas básicas que queríamos para o nosso negócio: que fosse feito no Brasil, tivesse origem na agricultura familiar, fossem produtos livres de testes e de ingredientes de origem animal, rapidamente biodegradáveis e preferencialmente compostáveis.”
Ela continua: “Juntamos a isso tudo os conceitos da economia circular e a missão de fechar o ciclo do início ao fim com total transparência para o consumidor”.
Ao contrário do que se imagina, Marcella conta que não foi difícil encontrar fornecedores que estivessem alinhados com os valores da marca. Segundo ela, o fato de ser um mercado de nicho faz com que uma indicação leve a outra.
“Muitos dos nossos fornecedores já estavam nesse caminho e com alguns fizemos apenas algumas melhorias, como cortar embalagens desnecessárias ou eliminar fragrâncias e corantes artificiais.”
OS DESAFIOS DE ENTRAR NO ATACADO
A Positiv.A tem hoje um time de oito pessoas. Com um aumento médio do faturamento de 15% ao mês, a expectativa é chegar ao final do ano com um crescimento de 140% em relação ao ano passado. A maior parte da receita ainda vem do e-commerce, que representa 90%, mas os empreendedores estão de olho no atacado.
“É um desafio enorme para a gente entrar nesse mercado que tem margens apertadas. Ao mesmo tempo, sabemos que do mercado de limpeza, que movimenta 22 bilhões de reais, 99% está no atacado e 1% apenas no e-commerce”, afirma Alex.
Segundo ele, a estratégia é ir “comendo pelas beiradas”, conquistando terreno primeiro na região sudeste, que na visão deles tem consumidores mais engajados e dispostos a fazer essa transição por produtos mais naturais.
“Estamos fazendo um estudo cuidadoso para entender direitinho os custos desse mercado.”
Sobre expandir a presença para grandes redes de supermercados, Alex diz que esta é uma possibilidade, mas que, antes de tudo, os sócios querem estar em lugares que tenham coerência com os conceitos da marca.
E claro, conquistar, de produto em produto ou com um kit inteiro de uma só vez, consumidores cada vez mais conscientes.
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