“A gente continua sendo uma escola de cursos online e mantivemos o mesmo nome. De resto, quase tudo mudou”. É assim que o empreendedor à frente da Descola, André Tanesi, 33, responde ao ser questionado sobre o que se alterou desde que a história da startup saiu no Draft pela primeira vez, em novembro de 2014.
As transformações começaram pelo quadro societário, antes formado, também, por Caio Casseb, 33, Altair Trindade, 33, Daniel Pasqualucci, 33, e Gustavo Paiva, 34. Os dois primeiros tomaram outros rumos: Caio resolveu se dedicar totalmente a sua outra empresa, a Scoop&Co, enquanto Altair foi morar em Barcelona, na Espanha.
Restaram Daniel, Gustavo, o próprio André e a afinidade constante com os ex-sócios. Ficou também a ideia central de oferecer cursos “desconstruídos” e online. Mas, nesses quatro anos, até o slogan mudou. É que os descolados publicitários que tocam a plataforma não têm apego a um modelo fixo, apesar de, agora, terem uma estratégia muito bem definida.
OS TRÊS PILARES DA DESCONSTRUÇÃO E A LIÇÃO DE APRENDER FAZENDO
Em 2014, a Descola tinha como slogan: “Uma escola desconstruída. Aprenda mais. Aprenda diferente. Aprenda agora”. Eram seis cursos online disponíveis (alguns gratuitos, outros a 39,90 reais e apenas um por 99 reais). Até o fim de 2015, a ideia era ter 50 cursos no ar e, em 2016, 100. Na fase atual, com 53 cursos disponíveis e custando 149 reais cada um, a frase de efeito da marca é: “Vamos transformar suas curiosidades em habilidades”.
André diz: “A ideia sempre foi ser uma escola de inovação online, que cria grandes experiências de aprendizagem para o aluno ter uma nova habilidade e aplicá-la na vida e no trabalho”. No entanto, o formato com que essa experiência vai chegar até ele é adaptável. Para o empreendedor, há quatro anos, os cursos eram mais dispersos. Foi preciso criar uma “modelagem de conteúdo”, estruturada em três pilares.
O primeiro se baseia na curadoria dos temas (entender, de fato, quais são as novas competências que estão surgindo na área de inovação). O segundo é a criação de uma jornada de aprendizagem (passando pela escolha de professores que, além de terem o que passar, estejam dispostos a adaptar o assunto ao formato mais adequado) e, por fim, o terceiro é a formatação desse conteúdo (sempre dividido em capítulos de até sete minutos, que o aluno pode assistir quantas vezes quiser, além de um e-book que não é um mero resumo do que foi dito em vídeo, mas um material de aprofundamento teórico com dicas de filmes, livros etc.).
Toda essa mudança — ou reestruturação — se deu quando os sócios da Descola perceberam que, dos cursos disponíveis, os mais vendidos eram aqueles que não traziam apenas curiosidades sobre determinado tema, mas que ensinavam o que poderia, efetivamente, ser aplicado no dia a dia das pessoas que compravam a ideia. Por exemplo, um curso sobre cinema não tinha tanto acesso quando comparado a um conteúdo mais específico sobre alguma ferramenta do mercado de trabalho, capaz de facilitar a rotina profissional do aluno. André fala sobre esse processo:
“Aprendemos a fazer falando com centenas de alunos para melhorar suas experiências. Nunca nos contentamos com feedbacks positivos”
Agora, a Descola tem, nas palavras do idealizador, “momentos mais inspiradores e outros mais ‘mão na massa’”, sendo que, a partir da definição do tema e do professor que irá desenvolvê-lo, são feitas cerca de 14 reuniões com o docente até colocar a gravação no ar.
O formato audiovisual se mantém inovador, com recursos de edição e inserção de caracteres, mas a metodologia mais apurada fez diferença. “Hoje, quem faz um curso nosso sabe que terá uma jornada padrão. No final de cada um deles, temos uma pesquisa perguntando se os alunos se sentem aptos a aplicar o que apenderam. E 80% respondem que sim”, diz animado André.
APOSTANDO NO B2B OU COMO SE DESCOLAR AINDA MAIS DO PADRÃO ANTIGO
Outra adaptação que, na avaliação de André, tem sido importante para o aprendizado efetivo do público que compra os cursos da Descola foi a criação de uma trilha de aprendizagem, reunindo diferentes conteúdos sobre um mesmo tema, por um valor fechado. A trilha de Design Thinking, por exemplo, inclui oito cursos e sai por 855 reais. Os interessados também podem comprar o pacote completo de materiais já lançados pela Descola: por 12 parcelas de 195 reais, é possível ter acesso a todos os cursos disponíveis na plataforma.
A escola de inovação online também passou a vender conteúdo para empresas, o que começou a acontecer de forma orgânica. “No começo, nosso público era o consumidor final, mas, de uns dois anos para cá, algumas empresas passaram a nos procurar”, afirma André, que agora atende nomes como Bradesco, Nextel, O Boticário, Caixa e Fiat. Ao todo, são 100 empresas de diversos portes. A plataforma não produz cursos exclusivos para as companhias, mas elas compram pacotes de conteúdos que façam sentido para seu negócio e disponibilizam para os colaboradores.
QUANTO MAIS CONCORRENTES, MELHOR!
O cofundador da Descola sabe que não é o único a oferecer cursos online, mas se concentra em como fazer diferente: “Todo dia surge um novo concorrente, mas é difícil criar um conteúdo relevante para a internet e, por isso, a gente se especializou em metodologia”. Sem falar, é claro, no lado bom de ter concorrência. “Tem muitos players: algumas plataformas são mais gerais, outras falam de assuntos mais específicos, como artesanato ou gastronomia”, diz André. E prossegue:
“Quanto mais gente estiver produzindo bons cursos, mais a gente consegue mudar o paradigma de que é chato fazer curso online”
Além disso, desde que a Descola começou, as transformações tecnológicas deram uma mãozinha para fazer o negócio dar certo. “A internet está cada vez melhor e mais rápida, além disso vídeo está cada vez mais fácil de fazer.” Por falar em dar certo, no meio de tanta mudança, uma coisa é fato: a plataforma só cresceu desde a entrevista para o Draft, em 2014.
A escola de inovação acabou de mudar seu escritório para o Cubo, o maior centro de empreendedorismo tecnológico da América Latina, idealizado pelo Itaú Unibanco em parceria com a Redpoint eventures. “É um ponto de conexão gigantesco para pensarmos em novas oportunidades de negócio, além de ser um ambiente que estimula todo o time”, conta André sobre a nova casa da empresa. Time, aliás, também é algo novo: se há quatro anos, a startup não tinha nenhum colaborador, hoje são oito profissionais (incluindo os sócios).
A plataforma lança, atualmente, de dois a três conteúdos por mês, e deve fechar o ano com 60 cursos. O próximo desafio é buscar parcerias na área de educação (com universidades, por exemplo), além de investir cada vez mais em B2B como estratégia para dobrar de tamanho e poder lançar 100 cursos por ano.
Até o momento, a empresa contou com a aceleração do SEED (Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development), programa do Governo de Minas Gerais, mas ainda não recebeu nenhum aporte de investidor. Mesmo assim, a curva foi ascendente: no final de 2017, a startup passou de 1 milhão de reais em faturamento e a expectativa para esse ano é terminar com 1,4 milhão de reais. Quando perguntado sobre a perspectiva para 2019, André prefere se centrar: “Depende de dois cenários: com e sem investimento, mas tenho medo de passar informações erradas”, diz rindo.
DOS MEDOS INFUNDADOS, UMA CERTEZA: NÃO SE ACERTA DE PRIMEIRA
Não é por acaso que o publicitário tem “medo de falar errado” sobre a projeção de faturamento. É que, na primeira reportagem, ele projetou que chegaria a 1,5 milhão de reais, em 2015, e 2,3 milhões, em 2016.
“Em 2014, eu era ingênuo! Não sabia o quão difícil era empreender e achava que ia ser fácil produzir curso, crescer, ter parceiros, mas tudo foi muito complicado e custoso”
Ele complementa: “Passamos por dificuldades que eu não tinha a menor ideia, mas que são inerentes à vida de qualquer empreendedor. Sempre fui muito sonhador. E é aí que entro nessa ingenuidade de achar que tudo vai dar certo. Mas também fui bastante teimoso, difícil de largar o osso”.
Ele admite, no entanto, que teve alguns medos infundados no começo, entre eles, o de ficar “deslocado do mercado”, ou seja, distante de grandes empresas. “Achava que se estivesse fora do mercado de trabalho, eu não aprenderia metodologia ou sobre como pensa uma empresa grande, mas ainda bem que, ao longo da jornada, fui criando o próprio modelo de trabalho, porque hoje muita gente quer saber como a Descola faz.”
O modus operandi da startup, inclusive, é algo que ele busca aprimorar dia após dia. “Aprendemos sobre como criar a cultura de uma empresa que a gente achasse do caralho trabalhar. E, hoje, somos empreendedores muito mais maduros.” Ele ainda diz:
“A gente sabe que tem que ir fazendo e sentindo. Ninguém, ou quase ninguém, acerta de primeira”
O conselho que ele daria ao André de quatro anos atrás é “ser mais pé no chão” para entender que as coisas não são simples e nunca perder de vista o que de bom a imprevisibilidade pode trazer. Afinal, é de inovação e aprendizagem que estamos falando.
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