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“A Campus Party não é só um mar de barracas. Tem muito conteúdo de qualidade para executivos”

Alex Xavier - 7 fev 2019
Tonico Novaes, à frente do evento há três anos, fala de suas transformações, do trabalho para atrair novos públicos, de sua veia workaholic e das expectativas para a 12ª edição, que acontece semana que vem.
Alex Xavier - 7 fev 2019
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Semana que vem, de 12 a 17 de fevereiro, São Paulo sedia a 12ª Campus Party Brasil, experiência imersiva para aficionados por inovações tecnológicas e desenvolvimento de novos negócios. Por cinco dias ininterruptos, cerca de 120 mil pessoas circularão pelo Expo Center Norte com a cabeça no amanhã. Os mais alucinados dormem por lá mesmo, acampados em barracas, para não perderem o melhor das mil horas de conteúdo, que incluem palestras, workshops, disputa entre gamers, mentorias para empreendedores, maratonas de programação, concurso de robôs e muito mais.

Criada em 1999 pelo espanhol Paco Ragageles, o formato se espalhou e chegou ao Brasil em 2008. Organizada pelo escritório local da MCI, empresa suíça especializada em congressos, a versão brasileira cresceu tanto que o país realiza, hoje, as duas maiores edições do mundo: a paulistana e a de Brasília. Essa ascensão, curiosamente, aconteceu em um momento de crise. No segundo semestre de 2015, eles perderam o patrocínio da Vivo (que também fornecia a conexão de internet super rápida, um dos atrativos da feira desde seu início). Na época, a situação econômica e política do país trazia muita insegurança ao mercado. Mesmo assim, resolveram tocar seu plano de expansão nacional, a cargo do recém contratado diretor-geral Tonico Novaes, 41. É com ele, empresário paulistano, que teve uma carreira de sucesso porém acidentada no ramo do entretenimento, que conversamos.

Desde sua contratação, a Campus Party já realizou 23 edições, incluindo versões menores (de apenas um dia) chamadas de Campus Day, em Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Rondônia. Só o evento de São Paulo tem um custo de 30 milhões de reais.

Na entrevista a seguir, Tonico fala sobre sua trajetória pessoal, o desafio de tocar um evento com a obrigação de antecipar as próximas tendências, os planos para o futuro da marca e o que esperar desta edição. “Será uma Campus Party muito focada no indivíduo. Ainda damos muita importância para as comunidades, mas queremos ir além, resgatando quem é você dentro de determinada comunidade e do que gosta mais nesse seu universo.”

Você assumiu a Campus Party em 2016, com a missão de liderar um plano de expansão nacional em plena crise. Como lidou com a pressão?
Entrei na Campus Party uma pessoa e hoje sou outra. Todo mundo evolui. O mais legal é a forma de encarar as adversidades. É preciso sangue frio para encarar momentos adversos e resolver as coisas sem gerar ruído, motivar a equipe, dar para eles a pressão necessária para entenderem o sentido de urgência e a necessidade de acelerar os processos e, ao mesmo tempo, transmitir tranquilidade. Algo difícil de balancear, mas com a maturidade vou aprendendo a dosar as duas coisas. Quando a notícia da saída da Vivo veio, duas semanas após minha chegada, entrei na sala do presidente (Francesco Farrugia) para conversar.

Tínhamos acabado de perder o patrocínio e falei: “Vamos esquecer tudo que a gente combinou de resultados e botar o evento de pé”. Ele topou na hora

Era importante não sair do calendário, pois perderíamos muito como marca, perderíamos o relacionamento com os campuseiros. Com a crise, tivemos que cortar bastante do plano inicial para o ano e recebemos muitas reclamações. Ao mesmo tempo, deixamos claro que tivemos poucos patrocínios.

Mesmo assim, fizemos também o evento no Recife e pela primeira vez em Belo Horizonte, um Campus Day. O cenário ruim serviu de aprendizado para 2017, quando conseguimos entregar um evento melhor e mais econômico. Gastamos 400 mil reais a menos que no ano anterior e os visitantes diziam: “Ah, agora sim dá para ver que vocês pararam de economizar e investiram forte”. Na verdade, a gente tinha se planejado, entendido o que os campuseiros queriam, o que dava para cortar e o que precisávamos manter. Também negociamos melhor com os fornecedores. Com mais tempo de planejamento, entregamos uma experiência melhor.

Você faliu duas empresas antes de ir para a Campus Party. O que aprendeu com essas experiências?
Tive uma rave, chamada Space, de 1995 a 2000. Eu fazia as festas em São Paulo, no sítio da minha família, e em um antigo convento, de 1760, na Raposo Tavares (região de Vargem Grande Paulista). Também fiz réveillons em Caraíva (BA), Trancoso (BA) e Florianópolis. A Space não faliu, eu simplesmente parei porque a festa era marginalizada e resolvi seguir outro caminho. Montei então a Chiave Promoção e Eventos e comecei a trabalhar com Skol Beats, Close-up Planet, vários eventos, até 2002, quando dois amigos de infância me propuseram montar uma empresa de marketing promocional. Abrimos juntos a MP4 e, em dois anos, praticamente quebramos.

Naquela época, com 20 e poucos anos, achávamos que sabíamos tudo e não sabíamos nada. Foi imaturidade mesmo

Em 2005, fui contratado pelo Q!Bazar como gerente comercial e lá foi muito legal. Foi onde cresci de verdade no mercado e passei a trabalhar muito com venda de patrocínio. Em 2006, fui para a agência Ponto de Criação como gerente de Novos Negócios, com clientes como as baladas Pacha São Paulo, Pacha Floripa, Pacha Búzios e Sirena, e estourei de vender. Isso durou até 2008, quando parte dos donos abriu outra agência, a Indústria de Entretenimento, e eles me chamaram para ser sócio.

Pegamos a representação do Creamfields Festival no Brasil, da marca Pacha na América Latina, do DJ Fatboy Slim por aqui. Ficamos sócios de bares como Rey Castro, The Sailor e Jet Lag. Em 2012, quase quebramos. Era uma empresa muito pequena. Um dia tínhamos dois milhões de reais na conta e na semana seguinte devíamos 100 mil reais. Não tínhamos um investidor, não tinha um fluxo de caixa muito confiável. Aguentei até o final de 2014, quando avisei da minha saída. Não tinha mais estômago para aquilo.

Como sua experiência anterior no mundo do entretenimento se compara aos desafios da Campus Party? O que você precisou assimilar ou adaptar?
Muita coisa. Eu pessoalmente, e a gente, como equipe, está sempre aprendendo. Tenho hoje uma equipe bastante diversa, colaboradores diferentes um do outro, de atitude a gostos. Cerca de 80% do time é formado por mulheres. E temos pessoas da comunidade LGBT, outras mais conservadoras, além dos nerds, geeks, empreendedores, enfim, vários perfis ali misturados. É uma oportunidade de aprender com cada um deles e saber respeitar opiniões diferentes.

Aprendo muito com as pessoas da minha equipe, com os palestrantes, com os próprios campuseiros. Sinto que em três anos de Campus Party, amadureci dez anos

Este será seu quarto ano à frente do negócio. Ficou mais fácil viabilizar o evento ou o fato de ele estar sempre crescendo torna o trabalho mais complexo?
Cada evento é único, completamente diferente do outro. Sempre partimos do zero e pensamos o que colocar em cada local. O Brasil é um país continental e conseguimos encontrar culturas diversas. É o mesmo idioma, mas são culturas completamente diferentes. Na Bahia, o pessoal não dorme, fica dançando e tocando axé a madrugada toda. Já em Brasília, eles gostam de curtir os conteúdos durante o dia e, à noite, reclamam que não conseguem dormir porque o segurança está falando alto demais.

A Campus Party está na sua 12ª edição e acontece de 12 a 17 de fevereiro no Expo Center Norte, em São Paulo.

Em Rondônia, o cara passa no corredor e fala muito obrigado por você estar lá. “Por que Rondônia?”, me perguntam, e eu digo: “por que não Rondônia?”. O trabalho é complexo. O que torna mais fácil é quando a minha equipe gerencial já está mais tempo fazendo aquilo. Quando há uma reposição em nível gerencial, dá mais trabalho porque é uma pessoa a mais começando, sem saber ainda os prazos, os ritmos. Essa pessoa me dá mais trabalho. No momento, tenho uma equipe gerencial que já passou por, pelo menos, 34 edições. Por mais que sejam as regionais. Uma ou outra pessoa que ainda não passou por uma edição nacional, mas já conhece o ritmo. A coisa já começa a fluir com tranquilidade e me dá mais espaço para poder trabalhar o estratégico e não tanto o operacional.

Após o fim do patrocínio da Vivo, já conseguiu fazer da Campus Party um evento lucrativo?
Sim. Na verdade, a saída da Vivo foi um pouco libertadora. A gente não tinha noção de muitas coisas. Por exemplo, a empresa colocava a internet de 50 GB todo ano no evento e fazia toda a configuração e a segurança online. Diziam que o serviço custava 2 milhões de reais e a gente aceitava, pois pouco mexia com isso. Quando eles saíram, nos perguntamos como colocar uma internet de 40 GB ali. Tivemos que estudar isso e, praticamente, abrimos a “Caixa de Pandora”. Saímos para o mercado e descobrimos quanto realmente custa um link, como se faz a configuração, quais os equipamentos e hardwares necessários, tudo. E descobrimos que o serviço podia custar até 25% menos. Além disso, veio outro patrocínio grande. Agora, quem coloca a internet é a Use Telecom, da Bahia, que assinou um contrato vitalício com a gente. Eles fornecem internet, segurança e configuração. Antes, vinham 20 pessoas instalar o cabeamento. Hoje, são três e fazem tudo.

De onde vem o faturamento? Não é do ingresso.
O valor do ingresso é simbólico. A participação do campuseiro é subsidiada pelo patrocínio, que representa hoje cerca de 90% da receita do evento. Os ingressos acabam batendo nos 10%. É o valor do camping. E em São Paulo, cobramos até menos que o custo, que é de 87 reais na barraca single e 97 reais na dupla, e cobramos 80 e 90 reais deles, respectivamente. Isso aconteceu por causa da variação do dólar, que flutuou e quando fechamos o contrato não tinha como voltar atrás. Mas não tem problema. O importante é a gente dar experiência para o campuseiro. Não vou discutir por 7 reais. No fim, quando contabiliza 8 mil barracas, vai fazer uma diferença interessante. Mas tenho que pensar sempre antes na experiência para o campuseiro. Já do outro lado, esse ano fechamos 50% mais de patrocínio em relação ao ano passado. É um crescimento absurdo, enquanto o número de stands deve ter caído 70%, pois as empresas não querem mais fazer stands, elas querem hackathon, querem encontrar soluções tecnológicas, querem participar, querem engajamento.

Você acompanha eventos similares, como a Comic Con Experience?
Adoro. Sou amigo do Pierre (Mantovani, CEO da CCXP, que entrevistamos aqui). Vou sempre e a gente até almoça depois da Campus Party para trocar uma ideia. Hoje em dia, não existe mais concorrentes. Existem parceiros. Lembro que, há 15 anos, se alguém ligava pedindo o contato do diretor de marketing da Coca-Cola, a gente pensava: “está louco? Quer me cortar? Eu vivo disso!”. Hoje, você entra no LinkedIn e acha o cara.

O mundo está mudando, é o que a gente prega. Se me ligam pedindo o contato do presidente de qualquer lugar, eu passo

A gente conversa muito com os parceiros que as pessoas pensam que são concorrentes. O nosso público e o da CCXP é completamente diferente. Não sei por que teimam em nos colocar como concorrentes. Ele trabalha mais com o nerd, fã de história em quadrinhos. Eu trabalho com o geek que quer estudar, empreender, saber de ciência de programação. Tem um pouco de intersecção, obviamente, mas não é concorrente direto.

O acampamento coletivo é uma marca registrada e também o passaporte de entrada na Campus Party. Este ano, custa de 80 a 90 reais.

Você consegue se desconectar do trabalho de vez em quando? Como?
Não desconecto (risos). Amo trabalhar. Minha esposa também trabalha bastante. Ela tem uma startup de energia renovável, uma usina de reciclagem de lixo que transforma em energia sem gerar a queima para o meio ambiente, chamada Delta Bravo. No feriado do aniversário de São Paulo, ela atendeu uma ligação do trabalho e, na mesma hora, eu abri o iPad e comecei a trabalhar também. Ela desligou, olhou para mim e falou: “Você gosta disso, né?” Falei que pretendia ficar umas horinhas mexendo naquilo e ela também sentou do meu lado. A gente acabou trabalhando o feriado inteiro em casa.

Viajo de férias e não ponho mensagem de ausência no e-mail. Respondo tudo. A diretora de RH até me escreve para lembrar que estou de folga

Mando foto minha na praia em Miami, tomando cerveja e respondendo e-mails dali. Isso é a minha vida. Se eu trabalhasse em um local que não gostasse, que não me sentisse bem, talvez eu ficasse de segunda à sexta só, das 8h às 18h e tchau. Mas amo o que faço. Desconecto todo dia de manhã quando vou para academia. Passo duas horas lá, deixo o telefone no armário. Gosto de fazer atividades aeróbicas, jogar futebol. Quando vou a um bar com os amigos também desligo. Em alguns momentos, me desconecto com minha esposa. A gente trabalha junto, mas sai também. Adoramos trilhas, vamos pegar sol no condomínio. Não temos filhos, então viajamos muito. E aproveito cada viagem de trabalho para emendar uma semaninha a mais de férias.

A primeira Campus Party Brasil, em 2008, adaptava o formato dos eventos do exterior. Fale um pouco sobre a evolução como empresa até ela adotar um modelo de negócio próprio.
Já vamos para a 12ª edição. É a minha quarta nacional. Posso dizer que um terço da vida da Campus Party aqui foi sob a minha gestão. E posso afirmar que ela mudou. Antes, era produzida pela Futura Networks, do Paco Ragageles. Ele fundou e pivotou o negócio, passando a licenciar a marca. A MCI, agência na qual trabalho, pegou a representação a partir do início de 2015 e eu cheguei em setembro do mesmo ano. Ela trouxe uma profissionalização muito grande para Campus Party, o que faltava. Os próprios campuseiros reconhecem isso. Tem algumas regras a mais, mas as coisas funcionam.

Quando entrei, toda a parte de credenciamento era feita por voluntários com um software da própria empresa espanhola. Então, a Campus Party ficou famosa pelas filas gigantescas na entrada. Fiz o básico e trouxe uma empresa especializada em credenciamento, com mão de obra também especializada. Acabaram-se as filas. Mesmo aumentando um pouco os custos, melhorou a experiência dos campuseiros.

Conseguimos profissionalizar coisas que antes eram feitas de forma amadora. Nesta edição, teremos pela primeira vez uma rede wifi potente. Serão 80 antenas de 5 GHz

Também nunca teve música e agora a gente trouxe um palco só com bandas de campuseiros. Vai ter um campeonato e a banda vencedora tocará na cerimônia de encerramento, no sábado à noite. É uma forma de incentivá-los. Outra novidade será a maior liga de E-Sports amadora do mundo, com todas as regionais no Brasil, da Argentina, do México, dos Estados Unidos, de Singapura, da África do Sul e da Itália.

Fale sobre o tamanho da Campus Party como empresa hoje. Quantas pessoas e empresas parceiras estão envolvidas?
É difícil dizer quantos funcionários são porque a Campus Party é gerida pela MCI. Dentro da nossa unidade de negócio, a gente tem 22 pessoas trabalhando diretamente com isso, mas temos várias outras unidades de negócios com mais profissionais envolvidos. Só no financeiro deve ter uns oito. No RH, mais quatro. O departamento de inovação tem, facilmente, 12 pessoas. Então, diria que somos umas 40 pessoas no escritório que se envolvem diretamente com a Campus Party. No evento, passa de 2 000. Terceirizamos muito também som, estrutura, limpeza e segurança. Ultimamente, movimentamos umas 80 ou 90 empresas, entre fornecedores. De parceiros, patrocinadores e media partners, são umas 70.

Sobre a estrutura financeira da Campus, como o negócio se paga? O que é mais lucrativo e o que é só custo e que não dá para cortar?
Basicamente, os patrocinadores bancam. Como custo, o evento todo é importante. Não consigo analisar, por exemplo, barraca a barraca. A Campus é única. Tem internet, media partners, camping, as bancadas. Antes, as pessoas levavam computador de torre, monitor de tubo. Hoje, todo mundo tem laptop e celular. A estrutura tende a diminuir cada vez mais. Vai virar tipo uma cafeteria, mais lounge para sentar.

Para onde a Campus Party ainda pode crescer e como isso seria feito?
Temos um produto chamado Summit, no qual trazemos os executivos para participarem da Campus Party.

Tem muito conteúdo de qualidade para executivos. O problema é que toda vez que saímos na mídia é uma foto de um mar de barracas, um drone voando ou um robozinho dançando. O executivo pensa: “isso não é para mim”

Mas quando ele vai lá, solta um “uau, quanta coisa legal”. No ano passado, o Summit se chamava Campus Party Executive. Nada mais era do que a gente pegar o cara pela mãozinha e levar para dentro da Campus. Criamos uma área mais exclusiva e de ingresso mais caro, com as mesmas palestras do evento, onde eles assistiam, almoçavam, faziam networking e, no final do dia, uma visita guiada. E depois ainda participavam de uma retro mentoring, ou seja, os campuseiros davam mentoria para os executivos. Foi muito engraçado porque muitos executivos, CEOs, CTOs, falavam: “eu não vou passar pela mentoria de um garoto de 25 anos. Eu dou mentoria para ele”. O cara torcia o nariz, mas ia.

Chegava lá, via um cara, com um computador gigante, aproveitando nossa internet de alta qualidade, a nossa energia, para minerar Bitcoin na hora, nunca tinha visto isso. Ele ficava ouvindo os caras falando de blockchain, criptomoedas, que isso pode ser aplicado para marketing, cadeia de produto. Eu ia dar uma volta e encontrava o mesmo executivo que falou que não ia sofrer mentoring passeando por lá até 1h da manhã e dizendo que não conseguia ir embora.

Esse é um filão que a gente tem que crescer ainda, a parte executiva. A gente tem muito conteúdo de qualidade para eles. Esse ano, tem um Summit no dia 13 apenas sobre cyber security e data protection. Essa já é uma forma da gente agregar um público novo que precisa parar de olhar com desconfiança para Campus Party. Nosso evento recebe delegação da Argentina, da África do Sul, do Canadá, dos Estados Unidos, do Cingapura. Todos eles vêm para ver como é a maior Campus Party do mundo, para ver o que podem replicar.

Que diferença teria feito para você e sua carreira participar de um evento como a Campus Party na época em que tinha a idade da maioria dos campuseiros?
Tenho uma identificação muito grande com esse público. Desde 2017, comecei a me fantasiar na cerimônia de abertura e isso gera uma conexão com eles. Venho de personagens geeks. Já fui de Harry Potter, Bumblebee, Shazam. Brinco muito com o público. Também respondo a todos eles em todas as minhas mídias sociais: Twitter, Facebook, Instagram. Essa identificação é muito legal.  E já tenho esse espírito brincalhão, sempre fui muito espontâneo. Com certeza, ia gostar de participar de um evento com a Campus Party quando tinha 18 ou 19 anos, só não sei se eu ficaria muito tempo ou seria expulso, porque minhas brincadeiras daquela época podem ser consideradas ofensivas hoje.

Fora da época de eventos, o trabalho na empresa segue uma rotina tradicional, com todos em um escritório batendo cartão de ponto? Para você, faz sentido se deslocar e conviver de modo confinado quando todos poderiam produzir a partir de seus home offices?
Temos algumas posições que trabalham home office. Todos os nossos colaboradores podem fazer um dia de home office na semana. Isso não é um problema para mim. Mas é preciso ter uma base, porque, como eu disse, a informação é rápida. Precisa ter dinamismo, velocidade, atitude.

Às vezes, se ficamos só no home office, no e-mail, no call, não funciona. É importante o contato entre seres humanos

Se você criar uma ferramenta para vender patrocínio, ela vai usar inteligência artificial, entrar no site da marca, ver quais os pilares, criar umas ativações e mandar para ele. Pode ser que um ou outro feche, mas se não tiver aquele contato pessoal, aquela conversa, não dá certo. Com o contato pessoal, a relação fica mais quente. A robotização está chegando e vai substituir muitos trabalhos, mas não vai substituir tudo. O ser humano é uma coisa quente.

Fale sobre o perfil de profissional que você gosta de ter na empresa. Qual a principal virtude que você procura? E qual é o principal defeito?
Defeito, nenhum. Quem sou eu para falar dos defeitos das pessoas? A gente tem que tentar entendê-las. Tenho profissionais que são mais ágeis, outros mais minuciosos. E é necessário respeitar cada um. Vai precisar de um cara mais ágil para uma posição mais operacional, um cara mais estratégico para elaboração de um plano.

Procuro profissionais jovens de espírito. Não importa se tem 18 ou 100 anos. E com veia empreendedora. Ele tem que imaginar que aquilo lá, se não deu certo, é o business dele

Precisa saber correr risco com responsabilidade, procurar inovação, trazer ideias. Eu trago ideias toda hora. Todo mundo tem que trazer ideias, ser um pouco criativo, ser financeiro, pois não adianta nada uma ideia de um 1 milhão de dólares que não traz rentabilidade. Todo mundo deve ser comercial para saber pegar essa ideia, ver se ela para em pé e conseguir vendê-la. Senão, ela fica presa em você. Acho que o que busco é o profissional diversificado, que sabe entender um pouco de tudo.

As empresas estão perdendo seu poder de atrair e reter os melhores talentos da geração Y, justamente o público da Campus Party. O que está faltando?
Costumo dizer que a Campus Party é uma fábrica de 18 anos. A gente renova muito o público. Temos a área Open para isso. Dentro da arena, só entram maiores de 18 anos. Não posso deixar o menor de idade entrar em um evento que vai virar a noite, dormir acampado.

As crianças têm a chance de interagir com a “atmosfera” da Campus Party na área Open e irem treinando para se tornarem campuseiros um dia.

Já na área Open, que é gratuita, trabalha-se com simuladores de realidade virtual, realidade aumentada e realidade mista, toda parte de empreendedorismo, drones, robótica, as startups, estandes de patrocinadores, educação do futuro, Campus Jobs, para que a gente possa criar a sensação de pertencimento dessas crianças.

A parte de educação do futuro é uma parceria com o Massachusetts Institute of Technology (MIT), a Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa e a Turma da Mônica, que dá formação para o educador e para as crianças também. Assim, trazemos esse público mais jovem para perto da Campus Party. Ele cresce com aquela vontade de estar ali dentro da arena um dia. Precisamos selecionar e reter esses talentos. É a grande dificuldade das empresas, principalmente, as de tecnologia e programação: selecionar e reter.

O jovem hoje já nasce disruptivo e digitalizado, mas também vem sem resiliência

A gente costuma chamar de geração leite com pera. Não estão acostumados a escutar não. Ele toma um não e desiste. “Ah, não deu certo, vou fazer mochilão na Austrália.” Por isso que sinergia de gerações é muito importante.

Qual é a sua principal virtude como profissional?
Sou resiliente demais. Não desisto. Para mim, se o negócio está ruim, é porque não acabou. Vou até o fim, sou persistente e não me deixo abater fácil. Do mesmo jeito que não me importo muito com grandes elogios, também não me deixo abater por grandes críticas destrutivas. Aprendi isso com a idade. Às vezes, a mesma mídia te glorifica um dia e, daqui um mês, te joga no inferno. Acho que isso é só o seu tempo de maturidade que vai te fazer compreender as coisas.

Como imagina que as pessoas vão lembrar de você? Qual é o legado que você está construindo?
Um cara alegre, divertido e que faz tudo com paixão. E que não separa o pessoal do profissional. A vida pessoal e profissional precisam andar juntas, não pode separar. Se você age de uma forma em casa e outra completamente diferente no trabalho, uma hora as máscaras cairão. E as pessoas percebem. Ninguém engana todo mundo por muito tempo.

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