Alexandre Lafer Frankel, 40 anos, traz o empreendedorismo no sangue: a família Lafer é uma das fundadoras da Klabin, gigante de papel e celulose, e os Frankel enveredaram pelo ramo de construção. Engenheiro de formação, ele é também um paulistano apaixonado por sua cidade, mas que estava cansado de perder longas horas no trânsito, deslocando-se entre sua casa e o trabalho – um problema comum à maioria dos moradores das grandes metrópoles.
Incomodado com o status quo, ele resolveu ajudar a transformar essa realidade de forma indireta. Em 2009, Alexandre fundou a Vitacon, uma construtora especializada em apartamentos compactos (alguns não têm mais do que 10 m²); assim, tornando as moradias mais acessíveis, a empresa possibilita que pessoas vivam mais perto dos seus trabalhos, reduzindo as distâncias e o tempo gasto nos deslocamentos.
O empreendedor por trás dos apartamentos pequenos tem sonhos inversamente proporcionais ao tamanho dos imóveis que comercializa. Feliz e inquieto com as novas possibilidades do negócio, aplica no seu dia a dia algumas das noções do estilo de vida que “vende” à clientela: trabalha perto de casa, se desloca de bicicleta e é um entusiasta da economia compartilhada.
Ao som do jazz setentista japonês “Sunset On The Street”, do Sunao Wada Quintet, Alexandre participou de uma sessão de fotos da campanha de lançamento da nova loja da Oficina, marca do Grupo Reserva, e deu a seguinte entrevista a Phydia de Athayde, editora-chefe do Projeto Draft:
Na sua visão, por que você está nesta campanha?
Acho que é para servir de exemplo: para mostrar que podemos mudar o país, a sociedade, fazer uma história que possa inspirar mais pessoas. Acho possível criar um mundo muito melhor – o que talvez seja o sonho de todo empreendedor.
Você vem de uma família de empresários. Como conseguiu se diferenciar? O que você manteve de tradição familiar e o que quis fazer diferente?
Meu pai trabalhava no mercado de construção. Me criei nesse ambiente. Meus avós, imigrantes judeus, não tinham absolutamente nada e se fizeram no Brasil. Todo exemplo que eles me deram me influenciou – essa dedicação aos negócios para dar uma condição bacana aos filhos.
Eu tinha 17 anos quando fundei minha primeira empresa, de internet. Vendi alguns anos depois. Aí, voltei com outra cabeça para o mercado. Comecei a ver o ramo de moradia – que é extremamente careta – por uma outra ótica, uma cara de startup. Foi então que eu comecei a minha carreira, muito incomodado com o status quo.
O que significa, para você, ser empreendedor em um país como o Brasil?
Existem mares de oportunidades. É um país que tem muito para ser desenvolvido em todos os campos, carente de muita coisa. Vejo como algo fenomenal essa chance de criar impacto verdadeiro e poder mudar a vida das pessoas. É óbvio que há dificuldades, mas elas estão aí para serem vencidas. Esse desafio aguça minha vontade de seguir.
A Vitacon se diferencia pelos apartamentos minúsculos. Como é vender um apartamento desses a alguém que sonha com uma varanda gourmet?
A ideia da companhia foi muito baseada em uma experiência pessoal de morar compacto, e próximo. Eu era um cara que ficava cinco horas por dia no trânsito, que é o que acontece com a maior parte das pessoas que moram em cidades grandes. E percebi que tinha uma cidade diferente, uma dinâmica muito mais prazerosa.
A sacada inicial foi permitir que as pessoas pudessem morar perto [do trabalho]. Uma das formas de se fazer isso era tornar os imóveis menores, para que fossem mais acessíveis. Eles foram diminuindo cada vez mais, mas o que eu ouço dos meus clientes é: “Você mudou minha vida!”.
Criamos tecnologias para suprir o espaço menor. Mais do que um apartamento compacto, é um estilo de vida completamente diferente. A ideia é criar uma filosofia nova e reinventar a forma como as pessoas vivem hoje nas cidades.
Conte sobre um limão que você transformou em limonada…
Quando eu fundei a empresa, peguei um baita limão! O mercado estava bem difícil, vivíamos uma crise mundial, eu estava extremamente incomodado, inquieto, querendo mudar tudo. Meu grande limão era como superar, como fazer.
Não existia o estúdio, que foi o conceito que criamos: algo descolado, desejado pela galera jovem, que dita tendências. Existiam as quitinetes, que eram super malvistas, e existia o conceito de flat, que estava muito desgastado. Demorou para que as pessoas entendessem que a ideia era propor um novo lifestyle. Não foi do dia para a noite, mas aconteceu. Hoje, são dezenas de milhares de unidades.
Que livros você gosta de recomendar?
Sou alucinado por vídeos, muito mais do que por ler. Mas três livros me marcaram demais: Bilionários (de Ricardo Geromel), que tem várias lições incríveis de caras que fizeram a diferença no mundo; a biografia do Steve Jobs (escrita por Walter Isaacson), que desafiou o status quo; e Os Segredos da Mente Milionária (de T. Harv Eker), que já li várias vezes. São livros que fazem parte da minha biblioteca.
Que frases inspiram você em momentos de dificuldade?
Tem várias que carrego. Uma delas é: “Nunca, nunca, nunca concorde com o status quo”. Eu vejo as pessoas concordando, aceitando algo simplesmente porque está lá, e não questionam, não se incomodam, não tentam mudar e criar algo melhor.
Você já pensou em deixar o Brasil e empreender em outro país?
Nunca me passou pela cabeça abandonar o Brasil. Sou apaixonado por São Paulo, é a minha cidade, onde eu conheço cada lugar: é onde quero ter minha família. Empreender fora do país, sim; mas minha pátria é o Brasil.
Hoje, fala-se muito em cocriação, gestão horizontal. Ao mesmo tempo, às vezes é preciso recorrer a hierarquia para tomar decisões. Qual é o seu estilo, como CEO?
Nós crescemos de forma orgânica e eu não sou expert em teorias de gestão. Acredito muito na liderança pelo exemplo – tanto o meu quanto o dos líderes à frente das equipes. Acredito em uma linha de pessoas mais próximas: eu delego, tento inspirá-las a ir adiante. Minha função é muito mais no sentido de garantir o que é essencial. O mais difícil para um CEO é não ter mais tudo à mão: você começa a delegar e acaba não sabendo de muita coisa. Mas quando acontece de algo que não passa por mim fazer uma diferença no negócio, eu vibro!
Você já pensou em como seria sua vida se não tivesse empreendido?
Nunca me passou pela cabeça. Tive três meses de carteira assinada e, desde então, nunca mais. Sou aquele empreendedor nato – pelo incômodo, pela vontade de mudar, de botar meus sonhos em execução. Nunca pensei diferente disso.
E o que o país perderia se a Vitacon deixasse de existir?
Se a Vitacon, por acaso, desaparecesse, a grande diferença que o país sentiria seria [a falta] de uma empresa que está querendo mudar a forma como as pessoas vivem – e, mais do que isso, resolver o nosso problema da moradia, que hoje é gigantesco.
Sua trajetória é muito próspera. De que forma você devolve para o mundo o que o mundo lhe dá?
Minha família é de origem judaica. Um dos grandes preceitos do judaísmo é repartir de forma altruísta. É o que chamamos de Tsedaká: uma retribuição para o mundo. Mas tem um ponto ainda mais legal do que isso, que é seu próprio negócio fazer o bem.
Quando provemos moradia, mudamos a vida das pessoas permitindo que elas tenham sua própria casa, o que é um privilégio. Há muitas empresas que poluem o oceano e fazem uma doação para a causa dos golfinhos. Não acredito nisso.
Esta é uma das entrevistas que fazem parte da campanha da Oficina. Conheça a marca e leia o bate-papo com os outros empreendedores!