Só quem travou umas boas brigas com a balança entende o orgulho daqueles que venceram suas batalhas. É o tal poder de transformação, visível a olho nu. Mais natural ainda é acompanhar isso com um olhar curioso e perguntinhas do tipo “como você emagreceu?” e “me conta o segredo?”.
Não existe uma poção mágica para o corpo perfeito, sabemos. E, para muitos, emagrecer é um processo doloroso e frequentemente solitário. Foi ao compartilhar as dores de sua experiência com amigas — e incentivá-las a mudarem a atitude para que a perda do peso seja uma consequência e não o fim — que a carioca Patricia Antonini, 49, começou a empreender o Lean2gether, um programa de health coaching (coaching para a saúde) que funciona principalmente pelo Whatsapp.
Aqui a medida do sucesso está na quantidade de mensagens à espera da leitura da empreendedora pela manhã. Em geral, são cerca de 400 mensagens distribuídas em 10 grupos com mais de 400 participantes no total dos Estados Unidos, México, Canadá, Brasil, África do Sul, Ásia, Europa e Austrália antes dela sequer tomar o seu café. “Tenho a sensação de que estou sempre atrasada”, comenta, com bom humor.
Patricia mora atualmente em Tampa, na Flórida. Há quatro anos deixou o Brasil com família e filhos. Guardou no armário os êxitos da carreira de advogada e passou a desfilar no novo dia a dia uma de suas maiores conquistas – o equilíbrio na balança. Dois anos depois, quase sem querer, surgia o Lean2gether.
O modelo de negócio é baseado em assinatura, com valor de inscrição de 112 dólares e mensalidade de 27 dólares. Além da comunicação, o Lean oferece refeições individuais elaboradas com ingredientes orgânicos para a clientela do Rio de Janeiro. Custam 27 reais a unidade. Em média, a empresa vende 200 quentinhas por mês.
O Lean2gether fundamenta-se na troca de experiências entre pessoas que querem emagrecer com saúde e na assistência do percurso até o alcance desses objetivos. Por isso, a trajetória de Patricia, ex-gordinha que enfrentou a cirurgia bariátrica, é um guia (e inspiração) para os participantes. Ela vive essa “guerra” desde os nove anos. Hoje, claro, em fase apaziguada e feliz consigo e com a nova persona de coaching. Ela fala a respeito:
“Eu adoro o que faço, sem pieguice. Não é trabalho, é uma missão”
E como funciona? Patricia conta: antes da primeira sessão (individual), alerta o futuro participante para o fato de não ser nutricionista ou médica. “O Lean2gether é uma rede de apoio, então o correto é cada um validar certas etapas do processo com profissionais apropriados, como nutricionistas”. Só depois disso acontece a entrevista por chamada de vídeo.
Depois dessa conversa, Patricia seleciona o grupo para o qual a pessoa será encaixada, de acordo com o perfil e o lugar de residência. E está dada a largada para o suporte 24 horas com som de notificação do celular.
COMO A CABEÇA DE EMPREENDEDORA A PREPAROU PARA SE TRANSFORMAR
Advogada especializada em direito tributário, a trajetória profissional de Patricia tem passagens pela multinacional Texaco (hoje Chevron) e pelo escritório Gaia, Silva e Rolim (hoje Gaia, Silva e Gaed). Depois disso, montou o próprio escritório Martins e Antonini com uma sócia em 2009.
Para ela, abrir a sua empresa foi até fácil. Diz que se acostumou a atuar de forma independente nos empregos anteriores, tocando todos os processos e evitando terceirizar. Também trouxe uma clientela particular construída em paralelo.
Patricia é um furacãozinho. Ao mesmo tempo em que tocava o próprio escritório de advocacia, empreendeu em um ramo totalmente diferente: o serviço de beleza. Sem experiência na área, em 2011 ela assumiu uma franquia do salão Werner, no Jardim Botânico, bairro da zona sul do Rio de Janeiro. “Quando era pequenininha, queria ser cabelereira. Sempre me encantou como as pessoas vão ao salão e saem melhores, felizes, se achando bonitas e com um astral bacana”, conta.
Durante dois anos, Patricia comandou 40 funcionários. Entre os aprendizados está, nas palavras dela, rebolar no toma-lá-dá-cá com os fornecedores, que não dão muita margem para negociação. Depois da experiência, ela percebeu que poderia ganhar mais habilidade e jogo de cintura fazendo um curso na área. Escolheu o Empretec, ministrado pelo Sebrae: “O curso me deu uma visão bacana de negócios, sobre relacionamento com sócio e quando é preciso focar no negócio. Muita coisa que aprendi faço até hoje”.
Por outro lado, o efeito do estresse inerente à intensidade do trabalho recaiu diretamente na sua velha briga com a balança. Patricia conta que já tentou “de um tudo”: dieta de Beverly Hills, remédio, programas com reuniões motivadoras. Emagrecia, mas pouco tempo depois engordava de novo (o famoso efeito-sanfona). Chegou a pesar 103kg. Resolveu procurar ajuda. Começou a investigar as causas dessa gangorra na terapia. Em 2013, ela passaria por uma cirurgia bariátrica (indicada para casos graves de obesidade e que reduz o tamanho do estômago).
Isso mudou o fluxo das coisas. Continuou com a psicóloga e seguiu com a reeducação alimentar e uma nutricionista. Decidiu, também, mudar de país e — quiçá — começar uma nova vida. Ao desembarcar nos Estados Unidos, estava magra, estabilizada no peso, praticando exercícios e de bem com a vida. Ela descreve uma sensação de recomeço:
“Eu não era mais a ‘Patricia advogada’, a ‘Patricia gorda’. Cheguei magra. Conheci uma vida nova, com um monte de gente nova. Mas, nunca escondi o passado de ninguém”
Logo as novas amigas perceberam a disciplina de Patricia com a alimentação e entraram naquela onda do “qual é o segredo?”. Daí — sem pensar que isso poderia virar um negócio — nasceu o primeiro grupo de Whatsapp liderado por Patricia, com cerca de 15 pessoas, de graça e sem pretensões maiores do que ajudar as amigues.
Como o boca a boca é melhor do que qualquer folheto de propaganda, os resultados chamaram atenção de outras moçoilas e em pouco tempo veio a necessidade de um segundo grupo para as novatas. Com o aumento no interesse, Patricia novamente buscou respaldo e conhecimento antes de seguir em frente. Ao se deparar com o curso de Health Coach, encontrou “a filosofia que se encaixava no que já fazia”. O Lean2gether é baseado nos princípios do Health Coach por combinar fatores como atitude positiva, atividade física, estilo vida e equilíbrio (a alimentação torna-se quase um detalhe).
“As pessoas precisam de apoio, de alguém que acredite nelas. Assim, podem também acreditar nelas mesmas”, diz a empreendedora. Patricia considera a maior força do Lean a troca de vivências entre os próprios participantes, que postam fotos e revelam suas dificuldades. Ela modera os grupos com comentários, vídeos, recomendações, leituras e (sempre) contando um pouco da sua história.
“Só quem já teve problema sabe onde o calo aperta, como é difícil, como dói. A pessoa que nunca engordou não tem ideia do que é, por exemplo, você nunca saber se a roupa vai caber em você ou não aquele dia”, conta. Sobre planos para o futuro, Patricia diz que pensa em encontrar sócios para expandir o projeto, sem deixar de lado esse jeito que criou de comunicar e motivar os clientes a encontrarem o equilíbrio na balança — e na vida.
Paula Luchiari, hoje, vive de vender minicasinhas e miniborboletas pelo Instagram. Ela conta como foi o processo de retomar antigas paixões para se encontrar em um novo ofício.
Filho de donos de uma pequena sorveteria, Rodrigo Studart teve a ideia de criar uma versão de baixa caloria do doce durante um MBA nos Estados Unidos e, junto com Luiza Weaver, estruturou a empresa.
Mariana Rocha sonhava em trabalhar como médica. Ela não seguiu exatamente esse plano, mas em seu negócio busca levar mais qualidade de vida para pessoas (e vender isso a empresas também).