Quando o Draft propôs aos guris da não-agência de ações criativas Shoot the Shit uma nova conversa, quase dois anos depois de terem sua história contada por aqui, eles se mostraram animados. É que muita coisa mudou — e para melhor — desde o primeiro contato. A Shoot The Shit hoje fica no Cartel, uma casa colaborativa localizada no bairro Bom Fim, em Porto Alegre, e que abriga mais duas outras empresas.
Quem me recebeu no Cartel foi um dos sócios, Luciano Braga, 31, que enquanto me apresentava o lugar, já me contava parte da história. “Estou saindo de um processo de câncer, por isso não tenho cabelo nem barba”, conta. Fazia somente três semanas que Luciano voltara à rotina da Shoot The Shit e parecia mais animado do que nunca. “Poder voltar me deu uma energia, principalmente por ver que eles conseguiram segurar as pontas por mim”, diz. E completa: “A gente até cresceu”.
No começo, além de Luciano, a Shoot The Shit tinha Gabriel Gomes, 27, e Artur Scartazzini, 28. Agora, a empresa dobrou de tamanho. Além dos três, integram o time Cássio Cappellari, 28, diretor de Arte, Marcos Oliveira, 26, Redator, e Dai Dietzmann, 22, diretora de Arte. São seis pessoas.
“Em 2017 provavelmente teremos uma equipe de 10 pessoas entregando trabalhos melhores”, conta Gabriel em nossa conversa à distância. Diferentemente de Luciano e Arthur, Gabriel vive entre Porto Alegre e o Rio de Janeiro. “Hoje é possível ter uma vida descentralizada e desenraizada de locais fixos”, diz ele, sobre se dividir e morar nas duas capitais.
E não foi só a equipe da Shoot The Shite que cresceu: a cartela de clientes também. Hoje eles têm três clientes fixos, que garantem um fee mensal ao negócio, além realizar de projetos sazonais que ainda aparecem. “A Shoot The Shit mudou muito nos últimos 18 meses. A primeira é, de fato, ter se tornado uma empresa. Durante muito tempo éramos um coletivo de intervenções urbanas, hoje somos um estúdio criativo de comunicação para impacto social positivo”, diz Gabriel, e resume as transformações:
“A gente ficou mais profissional. Evoluímos como empresa e se hoje o mercado está mais aberto porque nós estamos mais presentes”
O estúdio tem em seu portfólio trabalhos para marcas como RedBull Amaphiko, Natura, Benfeitoria, Instituto Arapyaú, Sebrae, Colégio Farroupilha, Guarida e DLL. Apesar de trabalhar com grandes marcas, o objetivo da Shoot The Shit é manter-se fiel às ideias que os levaram a sair de seus trabalhos com publicidade tradicional e pensar em um negócio mais social. Luciano fala da busca por esse equilíbrio: “Hoje, vi que dá para trabalhar com empresas de uma forma muito legal e continuar com nossa independência, nosso jeito e nosso estilo”. Os projetos da Shoot podem ser vistos neste link.
Gabriel complementa: “Trabalhamos com empresas que querem fazer da comunicação mais do que só uma ferramenta para ajudar nos negócios, mas também uma forma de gerar valor positivo, conectar a marca a causas sociais, engajar pessoas para ação e deixar algum tipo de legado para a cidade”.
Essa nova forma de pensar comunicação e se relacionar com os clientes coloca a Shoot The Shit ao lado de outras empresas que tentam usar o poder dos negócios para criar um futuro melhor. Gabriel e Luciano não consideram que a Shoot The Shit tenha exatamente concorrentes, mas se enxergam dentro de um movimento maior que está mudando o mercado. “Empresas como 2020, Cause, Shoot The Shit, Smile Flame, Estúdio Nômade, Carma, Mandalah e Think Eva podem não concorrer diretamente, mas são, de alguma forma, responsáveis por criar novas dinâmicas de discurso organizacional pois trabalham de forma consciente com a comunicação”, diz Gabriel.
RECONHECER-SE NOS SONHOS DO PASSADO, REVER EXPECTATIVAS
Antes da nossa conversa, pedi aos guris que fizessem uma releitura da primeira matéria do Draft. No Cartel, Luciano terminou com brilho nos olhos. “O que a gente se propunha como Shoot The Shit naquela época aconteceu”, diz, e admite em seguida que o crescimento superou suas expectativas. “Eu não acreditaria que hoje nós estaríamos com seis pessoas e com os projetos e parceiros que temos.” Para Gabriel, este é só o primeiro passo de algo maior:
“O plano está em curso: fazer coisas incríveis que gerem valor para as pessoas. Usar o poder da comunicação para transformar a sociedade, nem que seja um pouquinho”
Ele já traça metas. “Os processos estão cada vez mais redondos e afinados. Mas diria que estamos em 5% de onde queremos chegar”, diz. Como bom diretor de arte, Luciano tem uma visão mais entusiasta e menos pragmática: “A gente tem evoluído muito como empresa e continua acreditando no que faz, e não na meta que a gente precisa alcançar para acabar o ano feliz. Para nós, acabar o ano feliz é todo mundo estar trabalhando em algo legal”.
Apesar de reconhecer os avanços da Shoot The Shit, os dois confessam que criaram grandes expectativas antes do negócio engatar. Luciano conta:
“Sempre fui otimista e muito ingênuo. Tinha certeza absoluta que a Shoot the Shit nos deixaria financeiramente estáveis muito rápido. Claro que não aconteceu”
Por sua vez, Gabriel não tinha tantas certezas, mas também bastante pressa para ver a aposta dando certo: “Eu ficava colocando prazo para tudo e comparando a minha vida com a de outros empreendedores. Acho que isso é meio clássico: você fica se comparando com 0,1% que deu certo e não com os 99,9% que estão tentando dar certo e passam os mesmos perrengues que você”.
A vontade de fazer o negócio dar certo só aumentou o entusiasmo da dupla por novos projetos. Com ajuda de um amigo, Gabriel e Luciano lançaram o livro 333 páginas para tirar seu projeto do papel”. Por meio de perguntas lúdicas, objetivas e práticas, o livro traz dicas para ajudar pessoas a empreender. Financiado pelo Catarse, já vendeu 500 cópias e também está disponível para download aqui.
Este foi o segundo livro de Luciano, que já havia escrito, Projetos Paralelos e o Poder do Tempo Livre, “para ajudar as pessoas a começarem projetos pessoais”, como diz. O livro foi a maneira que ele encontrou de levar as palestras que dava pela Shoot The Shit a mais pessoas e lugares.
PRÓXIMA PARADA, HACKEAR A CIDADE
Outro projeto bem recente, agora envolvendo o trio, é o Hack The City. “A ideia é criar uma imersão com alunos de universidades para que eles criem projetos em pouco tempo para mudar suas cidades”, conta Luciano. Baseado no Rio de Janeiro, o projeto vai reunir 25 universitários em uma imersão criativa de 48 horas. A ideia é que o Hack The City torne-se uma websérie e um guia de replicação dos projetos, para que possam acontecer em outras cidade. Viabilizado por crowdfunding na Benfeitoria, o projeto também contou com ajuda financeira de uma empresa. Esse tipo de arranjo é chamado de matchfunding: no qual a cada valor investido por alguém no financiamento coletivo, a Youse, financiadora do projeto, investia o mesmo valor. Eles já conseguiram 57 mil reais, batendo a meta de 55 mil.
Com o negócio da Shoot mais consolidado, Gabriel e Luciano já miram novas conquistas, mas sempre com os pés no chão. “Na Shoot the Shit ninguém quer ser milionário. A gente está tentando criar trabalhos incríveis e sabemos que a grana vem na sequência”, diz Gabriel. Em 2016, eles faturaram 330 mil reais. “Parece pouco, mas dá muito orgulho, de verdade”, conta.
De olho no futuro, cada um faz planos à sua maneira. Luciano: “Penso muito num crescimento orgânico, não se jogar em qualquer coisa por ter metas”. Gabriel: “Assumi a responsabilidade de fazer o negócio atingir a sustentabilidade financeiramente, quero fazer a Shoot The Shit faturar 500 mil reais em 2017 realizando pelo menos 4 trabalhos que nós consideremos incríveis”. Os dois fazem um balanço positivo do que já passou, Luciano:
“Tudo o que fiz me trouxe onde estou hoje e onde estou hoje é um lugar muito legal. Tudo que fiz de errado virou aprendizado”
Gabriel: “Meu plano agora é fazer uma puta festa de final de ano porque 2016 foi bom demais”. E à derradeira pergunta: se a Shoot The Shit não tivesse dado certo, eles continuariam empreendendo? “É impossível tirar o espírito empreendedor de alguém. É uma chama que não se apaga”, diz Gabriel.
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