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Para Geraldo e Arthur Rufino, empreender foi também forma indireta de combater o crime

Marcela Marcos - 4 ago 2018
Família empreendedora: Arthur Rufino, CEO da JR Diesel, e seu pai, Geraldo, fundador da empresa (foto: Maurício Nahas).
Marcela Marcos - 4 ago 2018
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O trabalho faz parte desde cedo da vida de Geraldo Rufino, 59 anos. Ainda menino, aos 11, o mineiro criado na favela do Sapé, na Zona Oeste da capital paulista, já catava latinhas em um aterro para depois vender. Aos 14, foi contratado como office-boy pelo parque de diversões Playcenter.

Ainda jovem, ele abraçou o empreendedorismo, adquirindo uma pequena frota de dois caminhões, com os quais transportava adubo. Em 1985, porém, os veículos bateram e ficaram inutilizáveis. Geraldo então desmontou os caminhões, vendeu as peças e descobriu uma oportunidade no mercado de reciclagem automotiva – um negócio que, além de fomentar a geração de emprego e renda, fornece uma alternativa dentro da lei ao desmanche ilegal de veículos

Hoje, a JR Diesel se anuncia como a maior distribuidora de peças seminovas do Brasil. Seu CEO é Arthur Rufino, 34 anos. Filho e sucessor de Geraldo, ele também rala desde cedo: começou a trabalhar aos 17, na empresa fundada pelo pai. Arthur, agora, equilibra a preocupação em preservar as raízes com o foco na inovação.

Clicados para a campanha de lançamento da Oficina, marca do Grupo Reserva, Geraldo e Arthur Rufino conversaram com Phydia de Athayde, editora-chefe do Projeto Draft, em uma brecha da sessão de fotos. Confira a entrevista:

Por que vocês acham que foram chamados para esta campanha da Oficina?

Arthur Rufino: Porque temos uma história muito brasileira do jeito de empreender.

Geraldo Rufino: Sou empreendedor nato. Acredito ter sido chamado para fazer o que fiz a vida inteira: mostrar como é fácil empreender neste país bacana.

O que significa ser empreendedor no Brasil?

GR: Quais são as vantagens que o Brasil apresenta? Um país continental, novo, com todas as oportunidades do mundo. Ou seja, é difícil? Não: é possível. Empreender no Brasil significa ser resiliente, acreditar… Ser brasileiro. Isso é suficiente. Não há nada que não possamos mudar.

Arthur, como é trabalhar em um projeto que começou com seu pai? O que você acrescenta? E o que você honra com mais legitimidade?

AR: Ele construiu uma cultura forte, uma empresa dentro de um ambiente hostil. Meu papel é trazer inovação para dentro disso. Perpetuar essa cultura, mas também atualizá-la.

GR: Uma das coisas que têm ajudado meus filhos é a ideia da base. Para mim, a base é a família – e o trabalho, uma extensão da família. Você faz uma parte e entende que quem está chegando tem sempre uma “cerejinha” para colocar no bolo. Se você resistir, vai ser superado. Para não ser atropelado, me deixei ser superado.

Onde vocês buscam aprendizado, informação e inspiração para empreender?

AR: Busco muita inspiração e informação fora do nosso contexto. Tento trazer da moda algum tipo de controle de qualidade; trago da farmacêutica o controle de lote e rastreabilidade do produto. Gosto de trazer diversidade para a empresa. Acabamos sendo os precursores do modelo de negócio do desmanche legal no Brasil, então não tem prejuízo em resgatar do que todo mundo já apanhou. Vejo lucro nisso.

GR: Sempre estamos na frente do nosso segmento, justamente por essa ideia de o novo ter espaço para produzir. Eu só dou espaço; o resto, é com ele. Quando nos sentamos, eu me sinto muito forte como número um, mas quando ele apresenta os projetos, eu me sinto um dinossauro.

Geraldo, um dos motes da campanha é transformar limões em limonada. A sua trajetória pessoal tem uma origem humilde, de muitas restrições. Em algum momento você teve medo?

GR: Medo e insegurança não me pertencem. Minha fé supera isso. Sempre acreditei que Deus não tem tempo de sacanear ninguém. Então, quando tem limão, na verdade, é para limonada. Se não tem como fazer limonada, vende o limão e compra outra coisa. O exemplo mais delicado foi quando nossos caminhões bateram. Era um momento em que estávamos muito endividados, e só sobrou peça. Vendemos aquelas peças única e exclusivamente para pagar os carnês e manter o nome em ordem, manter a credibilidade. Daí surgiu a JR Diesel.

Arthur, pode citar três livros importantes para sua trajetória de empreendedor?

AR: Estratégia do Oceano Azul [de W. Chan Kim], que orienta a transformar um mercado visto como marginal em oportunidade forte. De Onde Vêm as Boas Ideias [de Steven Johnson], que dá exemplos do processo criativo de muito do que conhecemos. E tem um livro que vai para as livrarias agora, mas que eu revisei, tive o privilégio de ler antes: O Poder da Positividade, do meu pai. Apesar de ter exemplos o tempo todo, vê-los no livro me faz resgatar algumas coisas.

GR: Eu vi que ele não citou meu primeiro livro [O Catador de Sonhos], porque o vive no dia a dia [risos]! A gente escreve muito aquilo que faz na prática.

Geraldo, você tem essa característica de acreditar no seu próprio caminho. Dá tempo de olhar para outros líderes?

GR: Sim! Um líder recente, que todo mundo lembra, é o Barack Obama. Tem o Mandela… São pessoas que admiro porque cuidam, principalmente, de pessoas, e são admirados por quem está a sua volta. Eles cativam, encantam. Existem líderes que criam altas tecnologias, são inventores fantásticos, mas se esquecem das pessoas.

Arthur, que frase serve de inspiração a você?

AR: O “pense positivo” sempre foi muito forte dentro de casa. Por muito tempo, eu achava que era uma coisa que meu pai “cuspia” no ar, mas a vida dele estava dando certo. Em determinado momento, comecei a levar o pensamento positivo ao pé da letra e isso foi ficando cada vez mais forte. Hoje, me considero 101% “positivista”.

Se a JR Diesel deixasse de existir, o que o Brasil perderia?

GR: Um gerador de oportunidades. Nosso mercado é gigante, nós exploramos zero-alguma-coisa [porcento] do potencial e [ainda assim] somos referência. Quando você perde a referência, perde o foco. A reciclagem é uma engrenagem-chave do desenvolvimento, é a tendência natural do futuro. O Brasil daria um passo atrás.

AR: Em 2013, conseguimos usar nosso case para a tentativa de lei [estadual do desmanche, sancionada em 2014]. No estado de São Paulo, houve redução de 26% do roubo de veículos. Aquilo virou um propósito muito forte, porque toda vez que a gente desmontava um carro do jeito legal, uma vida era poupada da criminalidade. O Brasil perderia na democratização do acesso à manutenção [de veículos] e com a inversão da estatística positiva de redução da criminalidade.

GR: Meu bebê cresceu! [risos]

Ser brasileiro é sorte ou azar?

AR: É uma grande sorte. Tem muita gente reclamando do Brasil, dizendo que quer se mudar para Miami, mas aí você chega em um ambiente onde tudo está resolvido, concorrendo por uma migalha, com um monte de gente olhando. Temos “um milhão” de exemplos de capitalismo consciente no Brasil. Acho que nunca foi tão viável desenvolver negócios que nos deixam felizes e resolvem problemas do país.

GR: Eu perdi minha mãe aos sete anos. Mas já tinha aprendido com ela que ser pobre é uma situação que você pode mudar. Depende de quanto tempo você está disposto a produzir, a trabalhar. Ser negro e brasileiro é um privilégio e sou grato todos os dias por isso. As pessoas não têm noção do diamante que nós temos.

 

Esta é uma das entrevistas que fazem parte da campanha da Oficina. Conheça a marca e leia o bate-papo com os outros empreendedores

 

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