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Saiba como a Netshow.me mudou seu modelo de negócio para achar o caminho do crescimento

Italo Rufino - 14 abr 2016 Equipe da Netshow, que começou fazendo livestreaming para bandas e hoje transmite também eventos de empresas.
Equipe da Netshow.me, que começou fazendo livestreaming para músicos e hoje lucra transmitindo eventos de empresas.
Italo Rufino - 14 abr 2016
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No universo das startups, há um conceito pode ser decisivo para o sucesso de um negócio. A metodologia enxuta ensina que startups precisam ser ágeis ao desenvolver produtos que, mesmo não finalizados, precisam ser testado na prática pelo mercado. Se o cliente validar, bola para frente. Caso contrário, pode ser necessário “pivotar” – ou seja, mudar o modelo de negócio para chegar a uma proposta de valor atrativa e sustentável. Criar, testar, falhar – e recomeçar. Esta é a história da Netshow.me, fundada pelos paulistas Daniel Arcoverde, e Rafael Belmonte, ambos de 26 anos.

Criada em meados de 2013, a Netshow.me é uma plataforma online de transmissão de vídeos ao vivo. A empresa ganhou popularidade devido seu modelo livefunding. Músicos, vlogers, humoristas e outros produtores de conteúdo usam a plataforma para realizar apresentações ao vivo pela internet. Simultaneamente, num modelo parecido com um crowdfunding, recebem doações do público, que pode ganhar recompensas como CD’s, livros e outros brindes. O modelo era parecido com o da ClapMe (as duas empresas surgiram na mesma época).

O livefunding trouxe resultados positivos para a Netshow.me. A empresa já fez mais de 3 000 transmissões e em sua plataforma estão os canais de artistas como o rapper Rashid e as bandas Fresno e Cone Crew Diretoria, detentora do recorde de maior público em uma única transmissão – 20 mil espectadores, que doaram cerca de 8 mil reais.

Rafael e Daniel, fundadores da Netshow.me (1ª opção de abre)

Rafael e Daniel, os fundadores da Netshow.me, se conheceram na faculdade.

Por mais que o sistema de livefunding tenha sido aceito pelo público e produtores de conteúdo, o modelo tinha carências. O faturamento da Nethshow.me era proveniente de uma porcentagem (cerca de 40%) do valor arrecadado pelos canais dos artistas. No entanto, as transmissões rendiam, em média, 500 reais – valor que não sustentava financeiramente a operação da empresa. Rafael manda a real sobre a situação:

“Para ter sucesso nesse modelo era necessário ou ter muitos usuários ou conseguir grande volume de investimento logo de cara para sustentar o crescimento. Não conseguimos nenhum dos dois e tivemos que entender para onde a nossa plataforma estava caminhado”

Cerca de dois anos após fundação, uma alternativa começou a bater na porta da Netshow.me. Algumas empresas manifestaram interesse em ter um canal personalizado para oferecer conteúdo relevante para seus consumidores, como um meio para realizar inbound marketing.

Ao mesmo tempo, os sócios tinham acumulado experiência em como engajar usuários por meio de vídeos. De acordo com dados divulgados na 16ª edição Streaming Media East, evento americano sobre vídeos online e tecnologia, transmissões ao vivo engajam até 10 vezes mais o espectador do que vídeos gravados.

MUDAR PARA SEGUIR NO JOGO

A equipe da Netshow.me, então, aprimorou as ferramentas da plataforma. Mensagens que eram enviadas no chat online da transmissão passaram a poder ser compartilhadas no Twitter, já com uma hashtag do evento. A plataforma passou, também, a captar dados dos usuários, que passaram a ser considerados leads, e a gerar relatórios sobre a audiência – é possível, por exemplo, saber quais e quantos usuários trouxeram mais pessoas para a transmissão por meio de compartilhamentos. Banners personalizados no canal também passaram a levar os usuários para site da marca. O primeiro desenvolvedor contratado pela empresa, Nicolas Lazarte, havia se tornado sócio e ajudou na transformação da tecnologia.

Telas do canal do Napster

Telas do canal Napster Em Casa na plataforma Netshow.me.

Daniel fala dessa mudança: “Tínhamos potencial para criar um produto B2B, reposicionar o foco comercial e fazer um negócio sustentável. Nossa boa exposição causada pelo modelo de financiamento coletivo ao vivo nos ajudou a atrair algumas marcas”.

Uma das primeiras empresas a utilizar a Netshow.me no novo modelo foi o Napster, que atualmente opera um serviço de música digital por assinatura. Em agosto de 2015, a empresa criou o canal Napster Em Casa, que apresentava artistas de pop e funk em shows ao vivo. O objetivo do canal é oferecer conteúdo para converter usuários em clientes do aplicativo de música da empresa.

Em fevereiro deste ano, a Embraer também escolheu a Netshow.me para transmitir ao vivo um evento de lançamento de aeronaves, que aconteceu na sede da empresa, em São José dos Campos (SP). Funcionários da Embraer e entusiastas do setor aeronáutico puderam assistir à transmissão de várias partes do mundo.

COMO TUDO COMEÇOU

A Netshow.me nasceu quando Daniel e Rafael estudavam no curso de graduação em Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas – local onde se conheceram. Em uma das disciplinas, os jovens tiveram de criar um modelo inovador atrelado à tecnologia da informação. Eles, então, buscaram inspiração em uma plataforma americana de pay-per-view de show, chamada Stageit. Daniel fala da empolgação com a ideia: “A indústria brasileira de música é gigantesca e todos conhecem o conceito de ‘passar o chapéu’. O projeto foi tão bem aceito pelos nossos colegas e professores que virou nosso TCC e, depois, quisemos leva-lo para fora da sala de aula”.

Ao terminar a graduação, em 2012, os dois estavam trabalhando juntos na gestora de investimentos Brava Capital. Na época, participaram da profissionalização da Odontoclinic, que hoje é uma rede com mais de 170 clínicas odontológicas. Em abril de 2013, enfim, decidiram deixar o mercado financeiro para tocar o projeto empreendedor.

Ao olhar para trás, eles avaliam os erros cometidos na gestão da empresa foram consequência da pouca experiência. Importaram um modelo e investiram 70 mil reais, do próprio bolso, para criar uma plataforma complexa – a primeira versão era baseada em um serviço de assinatura de shows online. A ideia não deu certo. A segunda versão já contava com as funcionalidades do livefunding, que mais tarde apresentaria deficiência para gerar receita. Daniel comenta sobre os ciclos de aprendizagem da startup e diz que hoje aprender ficou mais rápido:

“Antes, quebrávamos a cabeça e demorávamos para realizar mudanças. Hoje, testamos, validamos e executamos ideias de uma maneira muito mais ágil”

Essa trajetória de erros e acertos, eles acreditam, foi essencial para a Netshow.me achar o seu caminho. Mesmo sem ter tido lucro, os jovens ganharam notoriedade com o modelo de livefunding. Logo nos primeiros meses de operação, a startup ganhou o prêmio de inovação da Set Expo, evento anual de negócios e de tecnologia para broadcast e novas mídias, realizado em São Paulo. Também ganharam o Prêmio Startups do Lide Futuro, em novembro de 2014 (hoje eles integram o grupo empresarial).

Daniel (com camiseta da Netshow.me) durante competiação Like a Boss, na Campus Party

Daniel (com camiseta da Netshow.me) durante competição Like a Boss, na Campus Party deste ano: mais uma conquista da startup.

Ainda na lista de reconhecimentos recebidos, a Netshow.me ganhou o prêmio IBM SmartCamp Latin America, que é parte de um programa global de empreendedorismo da IBM – na edição 2014 concorreram 100 startups com tecnologias voltadas para entretenimento, varejo, finanças e cidades, entre outras. Ano passado, os sócios participaram da lista de 30 jovens mais inovadores com menores de 30 anos. Rafael fala de como tenta capitalizar essas vitórias:

“Esses prêmios aconteceram quando focávamos no consumidor final. Hoje, aproveitamos a reputação e a credibilidade para ter acesso e fechar negócios com clientes corporativos”

Em janeiro deste ano, a startup venceu outra competição – a Like a Boss 1Up, realizada na Campus Party. O prêmio, organizado pelo Sebrae, rendeu a empresa três iMacs e um fliperama. “Aproveitamos para jogar Super Mario quando sobra um tempinho”, diz Daniel.

Além de abrir portas para os clientes corporativos, os prêmios também ajudaram a Netshow.me a atrair investidores. Na edição de 2015 do South by Southwest (SXSW), evento anual de tecnologia, música e economia criativa que acontece em Austin, no Texas, Daniel e Rafael conheceram Rodrigo Borges, um dos fundadores do Buscapé.

Dois dias depois do encontro, o Rodrigo tornou-se primeiro investidor anjo da Netshow.me. Outros investidores da rede de Rodrigo também investiram na empresa e, enfim, o dinheiro apareceu: na primeira rodada, a empresa recebeu um aporte de 975 mil reais. O último investimento veio da Telefônica, por meio de seu braço de investimento e aceleradora, a Wayra – onde a Netshow.me está instalada atualmente.

MAIS PLANOS PARA O SHOW CONTINUAR

Após todas as mudanças no modelo de negócio e com a mira calibrada, a startup pretende atingir o brek-even nos próximos meses. Hoje, a geração de receita acontece por meio de contratos pontuais com empresas. Também está sendo elaborado um modelo de assinatura baseado em contratações automáticas pelo site da empresa.

A Netshow.me pretende atender clientes de diferentes portes, desde microempreendedores, que queiram transmitir um webinar (conferências online), até grandes companhias que querem realizar ativações de marcas e eventos de endomarketing. O serviço de livefunding, que marcou o início da operação, ainda está ativo e pode ser usado tanto por produtores de conteúdo independentes quanto por marcas.

Agora, a expectativa de faturamento para 2016 é de 1,1 milhão de reais. Com o crescimento sustentável, os jovens desejam captar outro investimento relevante antes do final deste ano. Após quase três anos na estrada, Rafael e Daniel, que de longe até lembram uma dupla sertaneja, seguem no caminho em busca do grande show.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Netshow.me
  • O que faz: Mantém uma plataforma de transmissão de vídeos online que conecta marcas e clientes
  • Sócio(s): Daniel Arcoverde, Rafael Belmonte, Nicolas Lazarte, investidores anjo e aceleradora Wayra
  • Funcionários: 7 (incluindo os sócios)
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2013
  • Investimento inicial: R$ 70.000
  • Faturamento: R$ 1,1 milhão (estimativa para 2016)
  • Contato: [email protected]
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